Lei de bases da Saúde pode ser melhorada, mas deputados devem pensar no futuro

Marta Temido falava num colóquio na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, promovido pela Associação de Médicos pelo Direito à Saúde, quando disse que a lei “tem certamente aspetos que podem ser melhorados na Assembleia da República” e acrescentou depois que o tema é passível de “muitas sensibilidades” mas que a proteção dos cidadãos “exige intervenções que contemplem respostas para o futuro”.
A nova lei, disse a ministra, reflete as tendências internacionais de políticas de saúde e as “mudanças demográficas e epidemiológicas”, mas reflete também os novos modelos assistenciais e a evolução tecnológica.
Para Marta Temido, a nova lei também centra a política da saúde na pessoa, clarifica que são beneficiários do Serviço Nacional de Saúde (SNS) os requerentes de proteção internacional e os imigrantes, protege as pessoas face aos riscos financeiros da doença, e reforça o papel do Estado como “primeiro garante” na assistência, estabelecendo que “contratos com entidades terceiras só acontecem após avaliação da necessidade”.
Esta questão não é consensual e seis associações da saúde criticaram a proposta do Governo, considerando que se pretende impor “uma visão estatizante” e “monopolista do Serviço Nacional de Saúde”.
Marta Temido disse que a proposta de lei torna mais claro o papel do Estado e do SNS e que “não repudia a existência de outros atores”, mas assume que o recurso à contratação de terceiros só acontecerá em “situação de necessidade”.
“Para nós é uma boa lei porque é ideologicamente coerente com o defendido como funções sociais do Estado. Também é boa porque é concisa, robusta e politicamente sólida”, disse a ministra, considerando que é uma proposta que honra o legado de António Arnaut (que lançou o SNS, no segundo Governo constitucional, em 1979).
No colóquio a economista Ana Sofia Ferreira, uma das oradoras, traçou um quadro sobre quanto se gasta em saúde em Portugal, afirmando que a despesa pública com saúde é reduzida, comparando com a média europeia, mas que “há excelentes resultados em saúde apesar do pouco investimento do Estado”, comparando com outros países.
Isabel Loureiro, professora e vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde, falou do papel do Estado na capacitação dos cidadãos e dos serviços de saúde, João Oliveira, presidente do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, falou do tema “o Hospital Público entre a complexidade e a pós-verdade”, e Teresa Gago, médica, falou da lei de bases da saúde.
A proposta e lei de bases da saúde foi aprovada pelo Governo em dezembro. Na quarta feira além da proposta do Governo estão em debate três projetos de lei, do PSD, do CDS/PP e do PCP.