Infeções das gengivas afetam metade da população adulta
As doenças periodontais são doenças “silenciosas”, uma vez que no início do seu desenvolvimento não costumam provocar dor, e que afetam os tecidos que estão à volta do dente. Gengivite e Periodontite distinguem-se quanto à região afetada pela infeção. “Na gengivite só está afetada a gengiva que fica inflamada pela presença de bactérias, pelo contrário na periodontite o osso que está a suportar o dente também é afetado e diminui”, explica Susana Noronha, presidente da Sociedade Portuguesa de Periodontologia e Implantes (SPPI)
“A presença de placa bacteriana no espaço entre a gengiva e o dente é a causa da gengivite. Na periodontite, além de bactérias é fundamental que a pessoa tenha tendência para a doença”, acrescenta a especialista.
Sangramento das gengivas, não só durante a escovagem mas também o que surge de forma espontânea, é um dos sintomas iniciais da doença. Mau sabor, mau hálito, retração gengival – “os dentes ficam mais compridos e com espaços entre eles” -, dentes a abanar e/ou hipersensibilidade ao frio são alguns dos sinais que também lhe estão associados.
“Os fatores de risco comprovados para a periodontite são, além de uma inadequada eliminação das bactérias, o tabaco e a diabetes mal controlada”, afirma Susana Noronha explicando que esta, ao contrário do que muitas vezes se pensa, não se trata de uma doença genética. “No entanto, as características genéticas influenciam a tendência que a pessoa tem para passar de gengivite a periodontite”, esclarece.
Atingido um número considerável de pessoas, é importante refletir sobre a patologia e suas complicações. Não só a doença periodontal constitui um problema em si mesmo, afetando quatro em cada cinco pessoas com mais de 35 anos, como também está comprovada a evidência de relação entre periodontite e outras patologia como a diabetes ou outras doenças crónicas não transmissíveis.
“As complicações podem ser locais, podendo-se chegar a perder o dente, e sistémicas através da relação com doenças que afetam outros órgãos, como por exemplo as doenças cardiovasculares”, diz a presidente SPPI.
“A presença de bactérias leva a que, por um lado, algumas passem para a corrente sanguínea e, por outro, as substâncias produzidas pelas bactérias e pelo processo inflamatório tenham influência nos diferentes órgãos. A periodontite não tratada por influenciar o controlo da diabetes e aumentar o risco para sofrer de doenças cardiovasculares”, justifica.
Doença pode resultar na destruição irreversível do osso e ligamento que suporta os dentes
Prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado
De acordo com Susana Noronha, o principal aspecto que compromete a saúde oral é “não apostar na prevenção”. “As principais doenças que os médicos dentistas tratam – doenças periodontais e cáries – são provocadas por bactérias na placa bacteriana. A sua eliminação diária e o controlo profissional periódico são essenciais para assegurar a saúde oral”, refere.
O controlo de placa bacteriana, com escovagem e utilização do fio dentário duas vezes ao dia, associado a consultas com o médico dentista duas vezes por ano, são as principais recomendações dos especialistas.
No entanto, quando a doença já está instalada há que recorrer ao tratamento adequado.
“Em primeiro lugar é fundamental explicar a doença. Só um doente esclarecido pode participar ativamente no seu tratamento, o que é essencial para os resultados. Adicionalmente, devem ser ensinadas as técnicas adequadas e eficazes para eliminar as bactérias, não só através da escovagem como também do uso do fio dentário ou escovilhões”, começa por explicar Susana Noronha.
“Em simultâneo deverá ser realizada a eliminação profissional de placa bacteriana e tártaro, através de um procedimento chamado destartarização e alisamento radicular”, acrescenta referindo que a manutenção, com consultas regulares de controlo, é fundamental para manter os resultados alcançados com o tratamento.
Nos casos em que a periodontite está mais avançada, ou seja “em que o espaço entre a gengiva e o dente é mais profundo”, pode estar indicada a cirurgia periodontal.
“Este procedimento implica levantar a gengiva e expor a superfície da raíz para ter acesso a limpar. Em alguns casos está indicado usar técnicas e materiais para regenerar o osso que se perdeu”, explica.
Dia Europeu da Saúde Periodontal
Organizado pela Federação Europeia da Periodontologia, o Dia Europeu da Saúde Periodontal, que se assinala hoje, foi criado com o objetivo de lembrar o público que a saúde periodontal é uma forma eficaz e pouco dispendiosa de melhorar a saúde oral, a saúde geral e a saúde pública.
“A Sociedade Portuguesa de Periodontologia e Implantes (SPPI), como membro de Federação Europeia de Periodontologia (EFP), associou-se à promoção e divulgação de uma campanha internacional de consciencialização centrada no tema «Todos juntos vamos combater a doença periodontal». O conhecimento atual das características da doença periodontal, nomeadamente a prevalência crescente, a natureza crónica, as possíveis complicações e a interrelação com outras doenças como diabetes, reforça a importância da sensibilização, como meio de alerta para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado”, refere a especialista.