Índios da Amazónia com melhores artérias coronárias do mundo
De acordo com o trabalho publicado na revista científica sobre medicina The Lancet, o grupo indígena Tsimane tem as artérias mais saudáveis de todas as populações já estudadas e estima-se que um homem de 80 anos do grupo tenha a mesma idade vascular que um norte-americano de cerca de 50 anos.
No estudo os investigadores sugerem que o abandono das dietas de subsistência e a opção por estilos de vida da sociedade contemporânea podem ser um fator de risco para as doenças cardíacas associadas à idade, tabagismo, colesterol alto, hipertensão arterial, inatividade física, obesidade e diabetes.
O estudo mostrou que os Tsimane têm “a menor prevalência de aterosclerose coronária de qualquer população alguma vez estudada”, disse o antropólogo Hillard Kaplan, da Universidade do Novo México, Estados Unidos.
"O seu estilo de vida sugere que uma dieta pobre em gorduras saturadas e rica em hidratos de carbono ricos em fibras não processados, em conjunto com o consumo de peixe (selvagem), não fumar e prática de atividade física ao longo do dia pode ajudar a prevenir o endurecimento das artérias do coração. Acreditamos que componentes deste modo de vida podiam beneficiar as populações sedentárias contemporâneas", acrescentou.
Os Tsimane têm um estilo de vida que envolve a caça, a recoleção, a pesca e a agricultura, passando apenas 10% do seu dia em inatividade, ao contrário das populações dos países desenvolvidos, que são sedentárias mais de metade (54%) das horas de vigília.
A dieta deste povo consiste basicamente (72%) em hidratos de carbono não processados e ricos em fibras, como arroz, banana, mandioca, milho, nozes e frutas. A proteína constitui 14% da dieta e provém da carne animal e a gordura representa outros 14%. O tabagismo é raro.
O estudo de campo foi feito em 85 aldeias dos Tsimane entre 2014 e 2015. Foram feitos exames de tomografia computorizada em 705 adultos (entre os 40 e os 94 anos) e além de se verificar o endurecimento das artérias coronárias foram feitos outros exames que incluíram a frequência cardíaca, a pressão arterial, o colesterol ou a glicose.
Com os exames concluiu-se que 85% dos indígenas estudados não tinham risco de doenças cardíacas, incluindo os mais velhos (65% dos avaliados com mais de 75 anos). Os níveis de pressão arterial, colesterol e glicose também foram baixos.
Por comparação, um estudo com 6.814 americanos entre 45 e 84 anos indicou que apenas 14% não tinha risco de doença cardíaca.
Os investigadores sugerem (porque o estudo é de observação) que os resultados se devam essencialmente a um estilo de vida e não à genética, já que se registou um aumento gradual dos níveis de colesterol quando o estilo de vida teve uma mudança, provocada por maiores contactos dos Tsimane com cidades vizinhas.