Mulheres mais atingidas:

Incontinência urinária de urgência

Atualizado: 
02/04/2014 - 12:19
Trata-se de um importante problema de saúde pública que afecta sobretudo as mulheres e está frequente associado, de forma errónea, a uma consequência natural da idade.

A incontinência urinária é, segundo a definição da Sociedade Internacional da Incontinência, a perda involuntária de urina, objectivamente demonstrável, com um grau de severidade tal que se torna um problema de social ou higiénico. As formas mais frequentes de incontinência urinária são: incontinência urinária de esforço, bexiga hiperactiva ou de urgência e a incontinência urinária mista. Existem outros tipos de incontinência urinária mais particulares e raros (incontinência por regurgitação, incontinência total, enurese diurna e nocturna e incontinência extra uretral).

Esta condição pode afectar homens e mulheres, e estima-se que atinja cerca de 5 a 10 por cento da população geral s e 40 a 90 por cento dos idosos. Sendo que se trata de um problema que afecta mais as mulheres, considera-se que de uma maneira geral 10 a 12 por cento das mulheres sofrem regularmente de incontinência urinária. Para além disso, em Portugal cerca de 16 por cento das mulheres que sofrem de incontinência tem menos de 35 anos. No entanto, as perdas de urina afectam as mulheres em qualquer idade ao longo da vida, nomeadamente durante a gravidez, após o parto e na menopausa. A forma mais comum de incontinência urinária na mulher é a incontinência urinária de esforço, seguida da incontinência de urgência. Contudo, muitas mulheres sofrem de incontinência mista que combina sintomas de incontinência de esforço e de urgência.

Muitos especialistas consideram a incontinência urinária como uma das novas epidemias do século XXI agravada pelo contínuo aumento da esperança média de vida e pelo facto de continuar a ser sub-diagnosticada e, por consequência, sub-tratada. Estima-se que apenas uma em cada quatro mulheres sintomáticas procura ajuda médica, já que é considerada de forma errónea uma consequência natural da idade, sem tratamento eficaz sendo por isso uma epidemia silenciosa.

São vários os factores que contribuem para o desenvolvimento da incontinência urinária e que vão desde a fraqueza dos músculos do pavimento pélvico, alterações na transmissão dos sinais da bexiga para o cérebro, a obesidade, a gravidez e/ou parto por via vaginal, a obstipação, traumas na região pélvica, a menopausa, entre muitos outros.

As morbilidades associadas à incontinência urinária incluem prolongamento de internamentos, infecções do tracto urinário, complicações devido ao uso prolongado de cateteres uretrais e as dermatites de contacto, sendo também um importante motivo para admissão de idosos em lares.

O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado na história clínica do doente, embora possa ser confirmado por meios auxiliares de diagnóstico. Devem ser excluídas outras doenças antes de lhe ser diagnosticado o tipo de incontinência, incluindo qualquer lesão na cabeça, no pescoço ou nas costas ou outras condições relevantes como sejam a diabetes, existência de actividade desportiva constante, paridade, historial familiar, análise dos sintomas urinários e exames físicos.

Durante o exame físico pede-se para a doente tossir, tentando reproduzir a perda urinária e é feito um exame ginecológico para descartar fístulas vesico-vaginais e prolapsos genitais, estes muito frequentes quando há incontinência urinária, apesar de não estarem associados à intensidade nem ao tipo de incontinência.

Por outro lado, o diagnóstico inclui uma avaliação da qualidade de vida, mobilidade e acesso à casa de banho, para determinar a necessidade de tratamento. 

Incontinência urinária de urgência

A incontinência urinária por imperiosidade ou de urgência caracteriza-se por uma vontade forte e inadiável de urinar. Refere-se à hiperactividade do músculo detrusor da bexiga, que produz uma vontade súbita para urinar, praticamente sem aviso, muitas vezes acompanhada de perda de urina.

A imperiosidade surge frequentemente associada a gestos simples do dia-a-dia, como por exemplo lavar a louça ou a introdução da chave na porta ao chegar a casa, e pode ser agravada pelo consumo excessivo de café, chá ou álcool.

Apesar de poder ser provocada por causas neurológicas, na maioria dos casos não se consegue identificar a causa. Sabe-se que está associada a alterações na contractilidade do músculo detrusor ou a alterações ainda não totalmente compreendidas na sensibilidade vesical. 

Tratamento

O tratamento da incontinência urinária de urgência depende (muito) das causas. Se for devido a uma causa reversível como uma infecção urinária, uso de determinado fármaco ou obstipação, deve ser corrigida a causa precipitante de forma apropriada para resolver o quadro de incontinência.

Este tipo de incontinência é habitualmente controlado com medicamentos anticolinérgicos que reduzem os episódios de contracções inadvertidas da bexiga. Em menor frequência podem usar-se relaxantes musculares ou antidepressivos. Por outro lado, as doentes devem evitar os alimentos picantes, os citrinos, o café, o chá e os chocolates.

À terapêutica farmacológica podem associar-se a reeducação vesical, a fisioterapia dos músculos pélvicos descrita por Kegel associada ou não a Biofeedback e/ou a electro-estimulação.

As cirurgias usadas no tratamento da incontinência urinária de esforço não devem ser usadas neste tipo de incontinência, visto poderem, inclusivamente, agravá-la. Em situações mais extremas, ou que não respondem ao tratamento farmacológico, podem ser necessárias medidas cirúrgicas mais radicais: desinervação da bexiga, modulação nervosa, ampliação da capacidade da bexiga ou, em último caso, derivação urinária.

Nos casos menos frequentes, de incontinência urinária por imperiosidade refractária ao tratamento médico, existem ainda algumas terapêuticas alternativas, com o objectivo de aumentar a capacidade ou a da bexiga. Destas terapêuticas, uma que tem sido usada com sucesso recentemente é a injecção no músculo detrusor de toxina botulínica. 

Treino da bexiga ou vesical

O treino vesical é uma técnica comportamental que visa aumentar a capacidade da bexiga e diminuir a frequência de urinar. Com o tempo, a bexiga torna-se menos irritável e consegue conter um maior volume de urina. Um diário da urina é o primeiro passo para a avaliação da incontinência de urgência e definir um programa de treino vesical ou da bexiga. 

Exercícios para os músculos do pavimento pélvico

Os exercícios para os músculos do pavimento pélvico têm um grande sucesso na incontinência de esforço e na incontinência mista, mas também podem ser úteis para quem tem incontinência de urgência, para reforçar os músculos e minimizar ou eliminar as perdas de urina. O biofeedback e a electro-estimulação ajudam na execução de exercícios para os músculos do pavimento pélvico e idealmente devem ser recomendados por um fisioterapeuta ou um profissional em incontinência.

Fonte: 
Associação Portuguesa de Urologia
Manual Merck
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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