Impressão Braille do Porto aposta na dupla leitura, tornando produtos "inclusivos"
O objetivo passa por produzir materiais impressos “em simultâneo em Braille e a negro”, ou seja, de dupla leitura, afirmou o diretor do centro, João Belchior.
Livros infantis e o mapa de rede do Metro do Porto, por exemplo, estão já ser produzidos em dupla leitura naquele centro de impressão em Braille da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP).
Segundo o diretor, havia uma grande lacuna no mercado relativamente a estes produtos inclusivos, tendo o Centro Professor Albuquerque e Castro (CPAC) iniciado “timidamente este trabalho há três anos”.
“No último ano investimos seriamente nesta dupla leitura”, disse, acrescentando que tal motivou mesmo a contratação de uma designer.
Com uma equipa de 15 pessoas, o CPAC ocupa agora novas instalações na rua de Costa Cabral, no Porto, nas quais, além da impressão em Braille dispõe de um espaço de acolhimento ao público, com venda de produtos, como azeite e biscoites, cujas etiquetas dispõem de dupla leitura.
Esta aposta na dupla leitura complementa o trabalho realizado há anos diretamente para cegos, como a produção de livros e outros materiais editados em Braille.
Teresa Mesquita, que trabalha há 25 anos no CPAC, tem atualmente em mãos a obra de Sérgio Luís de Carvalho “Dicionário de Insultos”.
O trabalho consiste em transcrever as 215 páginas do livro para Braille, uma tarefa trabalhosa que demorará cerca de dois meses a ficar concluída e que, no final, se traduzirá em “sete volumes”.
Para isso, é necessário scanear página a página, trabalhar o documento no ‘word’ para “limpar eventuais erros da digitalização” e formatar todo o texto para Braille, explicou.
A impressora é depois programada para reconhecer os caracteres enviados, de modo a que a obra fique então em Braille.
Depois de tantos anos a trabalhar ali, Cristina Mesquita consegue ler o Braille, “mas não com os dedos, com os olhos”, por reconhecer todos os pontos dispostos nas páginas.
A seu lado, um colega está a fazer o mesmo trabalho mas para um dicionário de português de bolso, sendo que assim que ambos terminarem as suas tarefas do momento já se seguem outras duas obras na lista: “A Rainha Descalça”, de Ildefonso Falcones, e “Segredos de Amor e Sangue”, de Moita Flores.
Naquele centro também são feitas “as transcrições de 50 livros por ano”, justificou João Belchior, acrescentando que a listagem das obras é criada em conjunto com quem lê as produções do centro.
João Belchior explicou ainda que “qualquer obra tem três revisões feitas por cegos, para minimizar os erros”.
Mensalmente o CPAC produz ainda as revistas “Poliedro” e “Rosa dos Ventos”, que são distribuídas por países de todo o mundo, desde que usem o português.
A página na internet da SCMP refere que a Imprensa Braille foi fundada em 1956 por José de Albuquerque e Castro, professor no Instituto de S. Manuel, a quem a American Foundation for Overseas Blind ofereceu uma máquina de estereotipar e outra de imprimir, bem como grande quantidade de zinco para a estereotipia e de papel para a impressão.
Todo esse material foi doado à SCMP para criação, numa sala daquele Instituto, do Centro de Produção do Livro para o Cego, de que o Professor veio a ser o primeiro diretor até 1967, data do seu falecimento.
Acrescenta que, em 1972, por proposta da Comissão Permanente de Braille e em homenagem ao seu fundador, esse estabelecimento passou a chamar-se “Centro Professor Albuquerque e Castro – Edições Braille”.