A importância dos cuidados à boca à pessoa em fim de vida
Os cuidados paliativos são definidos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2002), citada por Serrano (2009), como uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes, e das suas famílias, que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico limitado, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação precoce e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também psicossociais e espirituais. (Serrano, 2009, p. 14)
Sabe-se que a “Pessoa com doença crónica, incurável e progressiva é alvo possível de diversas alterações” (Serrano, 2009, p. 14), pelo que os cuidados à boca constituem uma das importantes intervenções dos enfermeiros na prevenção de complicações e promoção do conforto da pessoa em fim de vida. A boca é um órgão complexo, constituído por múltiplas estruturas com funções específicas, tais como a alimentação e a comunicação. À ingestão de alimentos inclui-se o prazer em saboreá-los que, poderão estar comprometidos se não forem prestados cuidados adequados à cavidade oral. Outro aspeto importante das pessoas em cuidados paliativos é a administração de terapêutica via oral, quando esta ainda se mantém disponível. Esta é considerada uma das principais vias de administração de medicação e é útil, eficaz, barata, segura e confortável para o doente. Porém, a boca ao apresentar lesões, decorrentes de xerostomia, mucosite e infeções, poderá comprometer o processo de absorção da terapêutica ingerida. Também, a auto-estima, a comunicação verbal, a expressão de sentimentos e o conforto poderão estar igualmente comprometidos se as condições da boca não o permitirem.
Os enfermeiros aparecem como uma importante fonte de conforto (Kolcaba, 2003). Segundo Katherine Kolcaba o conforto é “uma experiência imediata de se sentir confortado, por ter as necessidades de alívio, tranquilidade e transcendência, satisfeitas nos quatro contextos (físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental); muito mais do que a ausência de dor ou desconfortos físicos” (Kolcaba, 2009, p. 254). Segundo a mesma, as intervenções de enfermagem confortadoras são “realizadas pela equipa de saúde, de forma intencional,” e “visam a promoção do conforto do cliente ou da sua família” (Kolcaba, 2009, p. 254), com vista à satisfação das necessidades dos doentes. Posto isto, os cuidados à boca das pessoas em fim de vida poderão ser consideradas intervenções de enfermagem confortadoras, na medida em que previnem alterações decorrentes das doenças progressivas e incuráveis das pessoas, como também, a promoção da interação social, alívio da dor e promoção do conforto.
De acordo com o trabalho elaborado pela Enfermeira Maria Fernanda Serrano (2009), sabe-se que os enfermeiros, apesar de reconhecerem a importância dos cuidados à boca e o seu impacto na qualidade de vida da pessoa em fim de vida, atribuem a estes cuidados uma baixa prioridade e, por sua vez uma prestação pouco sistemática. Porém, parece consensual a dificuldade dos enfermeiros em prestarem cuidados direcionados à boca, uma vez que, segundo o estudo elaborado pela Enfermeira Fernanda Serrano (2009) a definição de um plano de cuidados depende de quem avalia e dos instrumentos que utiliza, carecendo portanto de um método científico e um protocolo de atuação uniformizado e adequado aos contextos, que permitirá a continuidade dos cuidados prestados à pessoa em fim de vida.
Referências bibliográficas:
Kolcaba, K. (2003). Comfort theory and practice: a vision for holistic health care and research. New York:Springer Publishing Company, Inc.
Kolcaba, K. (2009). Comfort. In S. J. Peterson & T. S. Bredow (Eds.), Middle range theories. Application to nursing research (2ª ed., p. 254-272).
Serrano, M. (2009). Cuidar a Boca em Cuidados Paliativos – Contributo para a Promoção da Dignidade Humana. (Dissertação de mestrado). Universidade de Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa, Lisboa.
Texto elaborado sob o novo acordo ortográfico e as normas da APA
Ana Raquel Borralho, Enfermeira na Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz