Idosos que vivem em lares sofrem com frio no Inverno
Foram encontradas concentrações, que ultrapassam os valores de referência, de partículas perigosas e de poluentes químicos, de bactérias e mesmo de fungos em 22 lares de idosos da cidade do Porto. Mas os investigadores asseguram que a situação não é preocupante, noticia o Público na sua edição digital.
“A qualidade do ar dos lares não é muito diferente do panorama que se encontra nas residências. Mais preocupantes são as temperaturas registadas [no interior destes lares de idosos], sobretudo no Inverno. São ligeiramente frias e frias, o que pode potenciar infecções respiratórias”, destaca Ana Mendes, da Unidade de Ar e Saúde Ocupacional do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), da equipa deste projecto de investigação.
Seja como for, os primeiros resultados do projecto GERIA (Geriatric Study in Portugal on Health Effects of Air Quality in Elderly Care Centers) destacam a necessidade de “se ter em atenção as elevadas concentrações de PM [partículas] que podem potenciar o agravamento ou aparecimento de doenças respiratórias crónicas”, tal como aos “valores de concentração máximos obtidos de poluentes químicos e algumas espécies de fungos que podem comprometer o bem-estar dos residentes”, concluem os investigadores num artigo sobre esta matéria publicado na última edição do boletim Observações do INSA. São resultados preliminares referentes aos 22 lares de idosos da cidade do Porto já avaliados (em Lisboa, a amostra é constituída por 18 estabelecimentos deste tipo).
“Há uma concentração de bactérias, mas não é muito crítica”, assegura Ana Mendes. Em 4% dos lares foram também detectados fungos, situação que decorre do deficiente isolamento, da humidade e da temperatura dos edifícios, além da envolvente exterior, explica. O problema é que os idosos passam, em média, entre 19 a 20 horas por dia em ambientes fechados e são uma população particularmente vulnerável porque o seu sistema imunológico está mais enfraquecido.
Mas a principal preocupação, para esta investigadora que está a fazer o doutoramento no INSA, decorre dos resultados das medições da sensação térmica, que apontam para valores classificados como “ligeiramente frescos e frescos”: Isto significa que os idosos que vivem nestes lares passam frio? “Sim, a questão do conforto térmico é sensível para esta população. Na investigação encontramos temperaturas mais baixas [os estudos mostram que a temperatura de conforto para os idosos sedentários se encontra acima dos 25 graus centígrados], que vão do ligeiramente frio ao frio, situação que é mais crítica sobretudo no Inverno”, responde.
São questões que merecem, porém, uma investigação mais aprofundada. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que também integra este projecto, vai justamente fazer uma apreciação da estrutura dos edifícios para perceber quais as adaptações que são necessárias nestes edifícios, 60% dos quais apresentam “patologias, como infiltrações”, afirma a investigadora, que lembra que a maior parte destes lares não foi construída de raiz para este efeito.
Para prevenir as baixas temperaturas e o desconforto, particularmente na época de Inverno, os especialistas recomendam que se proceda ao isolamento térmico de tectos, paredes e janelas e se aproveite ao máximo a ventilação natural, abrindo as janelas na parte da manhã, de preferência,
Seja como for, e para evitar alarmes desnecessários, Ana Mendes faz o paralelo com a investigação da qualidade do ar em 125 salas de 19 creches e infantários de Lisboa e Porto, divulgada em 2013, que encontrou valores mais preocupantes, com elevadas concentrações de bactérias e dióxido de carbono. “Os resultados dos lares de idosos são completamente diferentes dos das creches e infantários, porque estes últimos têm taxas de ocupação muito mais elevadas”, explica.
Iniciado em 2012, o projecto GERIA vai continuar até 2015, com a realização de inquéritos de saúde e qualidade de vida aos utentes. Promovido pela Unidade de Investigação do Departamento de Saúde Ambiental do INSAa e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o projecto tem como parceiros, além do LNEC, a Faculdade de Ciências Médicas e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.