Idosos procuram Quiosque da Saúde para fugir às filas de espera no SNS
“Pelo menos a gente chega aqui e é bem recebida. […] Nas urgências estamos ali horas e horas e nunca mais somos atendidos”, comenta Olívia Semedo, uma das utentes do Quiosque, considerando que o projeto “é muito bom”.
Numa manhã de sexta-feira na cidade de Lisboa, com o trânsito rodoviário e a passagem do comboio na ponte 25 de Abril como música de fundo, o dia de trabalho no Quiosque da Saúde arranca calmamente às 09:00, preparando-se o material de enfermagem para prestar os cuidados de saúde primários a todos quantos precisarem.
“Normalmente, são pessoas que moram na zona e que não têm tanta facilidade de acesso aos centros de saúde. Há muitas delas que não têm médico de família, o tempo de espera para uma consulta é mais elevado, então veem o Quiosque como um acesso facilitado”, diz a enfermeira de serviço Carla Amaral.
Os principais serviços prestados são a avaliação de tensão arterial, colesterol e glicemia, bem como a conversa terapêutica.
Inaugurado no final de janeiro deste ano, o Quiosque da Saúde de Alcântara, que funciona três dias por semana - segunda, quarta e sexta-feira -, realizou 350 consultas até 10 de junho, o que corresponde a uma média de seis consultas por dia.
Apesar de o número de utentes não ser ainda muito representativo, o balanço em termos de funcionamento do equipamento “é bastante positivo”, considera a coordenadora do projeto Joana Feliciano, sublinhando que o Quiosque não pretende sobrepor-se ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas potenciar o acesso aos cuidados de saúde com uma resposta simples, fácil e próxima.
Natural de Estremoz (Évora), Olívia Semedo, de 54 anos, mudou-se para Lisboa há cerca de um ano para cuidar de uma idosa de 84 anos, na freguesia de Alcântara.
Como ainda não tem médico de família atribuído na capital, a alentejana opta por ir ao Quiosque e aproveita e leva também a senhora de quem cuida.
“Este Quiosque é útil para a população”, diz, defendendo que poderia oferecer mais serviços, como exames ao coração.
De passagem para o Mercado Rosa Agulhas, Maria Simão, de 73 anos, preparava-se para ir às compras quando viu o Quiosque da Saúde e decidiu espreitar.
Curiosa, perguntou à enfermeira se podia medir a tensão arterial e a glicemia. Logo depois, está de mangas arregaçadas, a ser atendida.
Para Maria Simão, “é excelente este apoio às pessoas” e os preços também são acessíveis. Satisfeita com o atendimento prestado, refere que o projeto deveria ser alargado a outras zonas da cidade, porque “muitas vezes as pessoas têm muita dificuldade em ir ao centro de saúde”.
Alberto Tomas, de 58 anos, não poupa nos elogios ao atendimento: “A enfermeira é muito simpática, é muito atenciosa, dá sempre uma palavrinha amiga”.
Com uma frequência bimensal, Alberto pede uma avaliação da tensão, colesterol e glicemia no Quiosque. Vai continuar a ir ao médico de família para fazer outras análises, apesar de considerar que lá “é infernal o tempo de espera”.
“Fiquei toda contente quando cá vi isto”, comenta Belmira Gonçalves, de 72 anos, que faz rastreios de 15 em 15 dias, acompanhada do marido.
Como é diabética, Belmira tem uma máquina em casa para medir a glicemia capilar, mas quando dúvida do aparelho vem confirmar ao Quiosque.
“Tudo quanto seja para bem do povo acho que é muito bem”, advogou.
Idealizado pela Associação Conversa Amiga (ACA), o projeto Quiosque da Saúde começou na zona de Olaias, em Lisboa, com a instalação de um equipamento em novembro de 2014, crescendo com a criação de um Quiosque na freguesia de Pegões, no concelho do Montijo (Setúbal), e depois outro em Alcântara.