Hormonas femininas podem travar a esclerose sistémica
Os resultados de um estudo, apresentado este mês no Congresso Anual da Liga Europeia contra as Doenças Reumáticas (EULAR 2016), demonstraram, pela primeira vez, o efeito benéfico dos estrogénios em modelos experimentais de pele com fibrose, representativos da esclerose sistémica. Estes resultados podem explicar uma maior incidência da esclerose sistémica em mulheres após a menopausa, uma maior gravidade entre homens e criam a possibilidade de serem desenvolvidas terapias hormonais para esta doença difícil de tratar1.
A esclerose sistémica (também reconhecida como esclerodermia) é uma doença auto-imune que envolve vários órgãos, afetando sobretudo mulheres (num rácio face aos homens de 9 para 1)2. O espessamento da pele é uma das caraterísticas da doença: a produção excessiva de proteínas como o colagénio pelos fibroblastos resulta no endurecimento da pele3.
O envolvimento da pele pode ser limitado à face e às extremidades mas em alguns doentes a extensão da doença pode ser maior e com progressão rápida envolvendo órgãos internos, também com fibrose. A extensão de pele envolvida no caso da esclerose sistémica correlaciona-se inversamente com a sobrevivência e é considerada como um marcador válido para avaliar a gravidade da doença3. Atualmente, não existe medicação que trate todas as manifestações da doença mas há medicamentos com eficácia e estão em curso vários ensaios clínicos com novos fármacos promissores, tanto ao nível da pele como do pulmão.
Dado as claras evidências de diferença entre sexos na esclerose sistémica, os especialistas envolvidos no estudo decidiram avaliar se bloquear a ação dos estrogénios (hormonas femininas cuja produção diminui na menopausa) tem impacto no desenvolvimento ou vulnerabilidade à doença.
Em modelos de doença avaliou-se a diferença entre ter estrogénios e estimular a sua produção ou bloqueá-los geneticamente ou com determinados fármacos, verificando-se que o bloqueio destas hormonas femininas podem agravar a fibrose.
Assim confirmando-se o potencial efeito protetor dos estrogénios na fibrose da pele em modelos experimentais representativos de esclerose sistémica abre-se mais uma linha de investigação na terapêutica desta doença.
Em http://worldsclerodermaday.org é possível ver como por todo o mundo está a ser celebrado o Dia Mundial da Esclerose Sistémica, que atinge em Portugal mais de três mil pessoas.
Muito debilitante, a esclerose sistémica é uma doença crónica que se carateriza sobretudo pelo endurecimento e/ou espessamento da pele, a que se chama fibrose, mas que também pode envolver outros órgãos, como os pulmões, o intestino, os rins e o coração. Para sensibilizar para a doença, foi lançado o vídeo “De mãos dados para um futuro melhor”:
Referências
1EULAR 2016; London: Abstract OP0304
2Gabrielli A, Avvedimento EV, Krieg T: Scleroderma. N Engl J Med. 2009, 360: 1989-2003
3Krieg T, Takehara K: Skin disease: a cardinal feature of systemic sclerosis. Rheumatology (Oxford). 2009, 48: iii14-iii18.