Hoje celebra-se o Dia Internacional da Síndrome de Asperger
À partida, as pessoas com Síndrome de Asperger experimentam grandes dificuldades na entrada no mercado de trabalho devido às suas limitações na comunicação, na relação interpessoal e na capacidade de adaptação. Para ajudar a superá-las é necessário, por um lado, criar condições para uma efectiva igualdade de oportunidades no acesso ao emprego e, por outro, criar condições para que estes colaboradores sejam uma mais-valia para a empresa, porque essa é a única forma de garantir a sua empregabilidade.
Fazendo um balanço destes 10 anos, o que mais nos gratifica é o reconhecimento por parte dos empregadores de que, apesar do esforço inicial, ser uma empresa inclusiva é compensador a vários níveis, desde a produtividade às relações interpessoais dentro da empresa.
Com o acompanhamento adequado, as equipas aprendem a reconhecer e potenciar o trabalho destes colegas especialmente empenhados, com uma grande capacidade de atenção ao detalhe e gosto pela realização de tarefas rotineiras. Com a convivência vão também percebendo que o colega com Síndrome de Asperger retira do trabalho mais do que um salário ou realização profissional, uma enorme satisfação pessoal e a realização social de fazer parte de um grupo de pares. O que, por sua vez, gera um enorme orgulho e motivação nas equipas de trabalho.
Duas histórias de integração
Manuel, 39 anos
Os resultados escolares do Manuel nunca desiludiram os pais. Entrou para a universidade e, aos 27 anos, obteve a licenciatura. Os seus tempos livres eram passados em casa, com a família. Apaixonado por cinema, passava a pente fino todos os guias de TV para não perder uma emissão, que gravava e listava numa base de dados com milhares de registos.
O número e diversidade de empregos que teve também mereciam uma base de dados. Apesar de ser um profissional assíduo e empenhado, os desentendimentos com colegas e comportamentos desadequados faziam com que cada experiência de trabalho terminasse ao fim de pouco tempo.
Foi aos 35 anos que o Manuel e família encontraram uma explicação para estas dificuldades ao ser-lhe diagnosticada Síndrome de Asperger. Com o apoio da equipa do CADIn iniciou a colaboração com uma empresa que compreendeu e aceitou a sua diferença.
Nas visitas periódicas da psicóloga do CADIn foram feitos os ajustes necessários para que o colaborador Manuel fosse considerado uma mais-valia para a equipa. É atento aos detalhes que os outros ignoram e não se importa de realizar as mesmas tarefas todos os dias. Pelo contrário, é isto que o faz feliz há 10 anos.
Maria, 25 anos
A vida da Maria mudou depois de um entrevista de emprego. Já tinha percebido que era “esquisita”, que coisas que para os outros eram fáceis, para ela eram um quebra-cabeças: atar os sapatos, andar sem tropeçar, entender piadas, fazer amigos.
Foi a directora da escola onde estagiava quem primeiro percebeu que os comportamentos diferentes da Maria podiam ter uma explicação e a encaminhou para uma avaliação no CADIn. Quando soube que tinha Síndrome de Asperger, pensou: “boa, afinal não sou esquisita!”.
Todos os dias a Maria enfrenta dificuldades para lidar com coisas que são banais para a maioria das pessoas. Conta com o apoio da directora da escola, que agora sente como mãe, e do CADIn. A sua maior conquista é acreditar em si mesma: “Chego a todo lado como os outros, mas mais lentamente”. No futuro, quer ser educadora de infância e continuar a trabalhar com crianças que, diz, a entendem melhor que ninguém.
Sobre o CADIn
O CADIn nasceu em 2003 com a missão de promover a integração na sociedade de pessoas com perturbações do neurodesenvolvimento.
Trabalhamos com crianças, jovens e adultos com necessidades especiais ajudando-as a superar dificuldades na aprendizagem, na comunicação, na interação social, entre outras. Mas também com as suas famílias, escolas e empregadores, para que aprendam como podem ajudá-los a utilizar todo o seu potencial.
Porque a diferença pode bater à porta de qualquer um, criámos a Bolsa Social. Esta permite comparticipar o custo das consultas, avaliações e terapias quando os recursos das famílias são insuficientes.