A inflamação do fígado

Hepatite C

Atualizado: 
17/09/2014 - 17:07
A hepatite C é uma inflamação do fígado provocada por um vírus, que quando crónica, pode conduzir à cirrose, insuficiência hepática e cancro.
Inflamação do fígado

A hepatite é uma inflamação do fígado, cuja causa mais comum é um vírus, embora possa ter outras origens como por exemplo, a ingestão em excesso de álcool, algumas drogas ou químicos. Existe também a hepatite auto-imune, uma doença do fígado na qual o sistema imunitário do corpo não está a funcionar devidamente e afecta o fígado.

Os tipos de hepatite distinguem-se pelo vírus que as causou, podendo ser dos tipos A, B, C, D ou E. A principal diferença entre estes vírus está na forma como se transmitem, nos seus efeitos sobre o fígado infectado e nas suas consequências para o estado de saúde geral do doente infectado.

Assim, a Hepatite C é uma inflamação do fígado provocada pelo vírus da hepatite C, que quando crónica, pode conduzir à cirrose, insuficiência hepática e cancro. Na maioria dos casos, é uma doença crónica que, no entanto, pode afectar os doentes de formas muito diversas. Ou seja, muitos indivíduos não chegam a apresentar sintomas e não têm conhecimento de que estão infectados com Hepatite C. Por outro lado, há ainda doentes que mesmo apresentando sintomas podem ser pouco definidos, ou outros que apresentam cansaço extremo e mal-estar geral, enquanto outros apresentam sintomas semelhantes à gripe, ocasionalmente com vómitos, embora esta situação seja mais rara.

Estima-se que existam cerca de 150 mil portugueses que sofrem de hepatite C crónica, no entanto, a maioria não sabe que tem a doença. Calcula-se que apenas 20 a 30 por cento dos doentes estejam identificados. De acordo com um estudo do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, Portugal é um dos países europeus a apresentar as mais elevadas taxas de contaminação deste vírus, que atinge 60 a 80 por cento dos toxicodependentes.

A nível global, calcula-se que existam 170 milhões de portadores crónicos (cerca de três por cento da população mundial), dos quais nove milhões são europeus, o que faz com que seja um vírus muito mais comum que o VIH, responsável pela SIDA. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é possível que surjam todos os anos três a quatro milhões de novos casos no planeta.

A hepatite C pode apresentar-se sob a forma aguda ou crónica. Se for aguda, o seu período de duração é curto, com efeitos acentuados, embora a maioria dos doentes recupere em poucas semanas sem efeitos a longo prazo. Já os casos de doença crónica prolongam-se no tempo, chegando a durar para o resto da vida do doente.

Cerca de 20 por cento dos indivíduos infectados com Hepatite C recuperam totalmente. Ainda não existem explicações científicas para o facto de alguns doentes recuperarem e outros permanecerem infectados. Destes, alguns apresentarão apenas uma inflamação ligeira do fígado sem evolução significativa, enquanto outros irão desenvolver cirrose e/ou ao cancro no fígado, o que poderá acontecer 20, 30 ou mesmo 40 anos depois de serem infectados.

Entre as possíveis explicações está a idade em que a pessoa foi contaminada (quanto mais tarde, mais grave pode ser a evolução da infecção), as diferenças hormonais (é mais comum no sexo masculino) e o consumo de álcool (que estimula a multiplicação do vírus e diminui as defesas imunitárias).

Sintomas
A hepatite C é uma doença habitualmente silenciosa, isto é, não apresenta sintomas nem sinais específicos que leve o doente ou o médico a suspeitar de uma infecção provocada pelo vírus da hepatite C. Isto origina que n maioria dos casos o conhecimento da infecção seja obtido após a realização casual de análises de rotina que revelam alterações das enzimas a nível do fígado.

Contudo, algumas vezes ocorrem sintomas sugestivos de uma infecção gripal – cansaço, dores articulares, musculares e de cabeça, febre – e passam de forma despercebida sem deixar qualquer sinal da passagem do vírus da hepatite C pelo organismo. Nesta fase aguda da doença podem ser detectados anticorpos da hepatite C.

Apenas em cerca de 10 por cento dos casos de hepatite aguda, surge icterícia (cor amarelada da pele), que resulta da acumulação da bilirrubina no sangue e subsequentemente na pele e escleróticas, devido ao mau funcionamento do fígado na eliminação da bílis. As fezes podem torna-se claras e a urina aparecer de cor escura a lembrar o “vinho do Porto”.

Diagnóstico
Existe uma série de testes utilizados quer para detectar a doença, quer para determinar a evolução de um doente infectado com Hepatite C.

A detecção no sangue de anticorpos de hepatite C (anti-HCV), permitem confirmar com rigor o diagnóstico. Estes anticorpos podem aparecer em cerca de metade dos casos ainda durante a fase aguda da doença, isto é, um a dois meses após o contágio, enquanto nos restantes casos, aparecem uma a duas semanas depois da fase aguda desta doença. Na hepatite C crónica, os anticorpos estão sempre presentes.

Porém, os anticorpos anti-VHC podem apenas corresponder a uma hepatite antiga e curada, pelo que é necessário recorrer a testes mais específicos para avaliar se a infecção está activa.

A determinação do valor das transaminases (enzimas que revelam a destruição das células do fígado) permite ter conhecimento do grau de atingimento do fígado e da fase de desenvolvimento da hepatite C. Contudo, o nível de elevação das transaminases não traduzem a gravidade da doença. Para caracterizar a infecção é necessário determinar o genótipo do vírus e a carga viral (RNA-HCV quantitativo), aspectos vitais para ao tratamento e monitorização da doença.

Outras análises que revelam o funcionamento do fígado devem ser avaliadas: gama GT, bilirrubinas, fosfatase alcalina, electroforese das proteínas, devem fazer parte da avaliação laboratorial ao doente infectado. A ecografia ao fígado dá informação sobre o tamanho do fígado, que habitualmente se encontra aumentado (hepatomegalia) na hepatite aguda e diminuído na cirrose.

A biópsia hepática é habitualmente necessária não só para confirmar a fase crónica da hepatite C, mas principalmente para:

- Avaliar a actividade da doença;

- Determinar o estado da fibrose (“cicatriz” que aparece após a destruição das células do fígado);

- Despistar a presença de cirrose;

- Determinar o seu prognóstico.

Nova biópsia pode ser repetida 3 a 5 anos, para avaliar a progressão da doença.

Transmissão
O Vírus da hepatite C transmite-se, principalmente, por via sanguínea, bastando uma pequena quantidade de sangue contaminado para transmiti-lo, se este entrar na corrente sanguínea de alguém através de uma ferida aberta, um corte ou um arranhão. Basta apenas uma quantidade reduzida de sangue, invisível a olho nu, para transmitir o vírus, se este conseguir entrar na corrente sanguínea de uma pessoa saudável

A transmissão por via sexual é pouco frequente, embora os doentes infectados que não têm um parceiro sexual permanente são aconselhados a usar preservativo, já que está provado que os indivíduos que têm mais que um parceiro estão mais sujeitos a contrair a doença.

O vírus não se propaga no convívio social ou na partilha de loiça e outros objectos. No entanto, as pessoas infectadas deverão optar por manter objectos de uso pessoal exclusivos, tais como lâminas, corta-unhas, escovas de dentes e toalhas. Deverão igualmente ter o cuidado de limpar qualquer perda de sangue, proveniente por exemplo de cortes ou arranhões. Para tal, deverá ser utilizada lixívia não diluída.

Apesar de o vírus já ter sido detectado na saliva, é pouco provável a transmissão através do beijo, a menos que existam feridas na boca.

O risco de uma mãe infectar o filho durante a gravidez ronda os seis por cento, contudo, ainda não se sabe se a infecção ocorre durante a gravidez ou no período peri-parto. A maior parte dos médicos considera a amamentação segura, já que, em teoria, o vírus só poderia ser transmitido se se juntassem duas situações: a existência de feridas nos mamilos da mãe e de cortes na boca da criança.

Por vezes, são detectados anticorpos nos filhos de mães portadoras, o que não significa que a criança esteja contaminada. Normalmente, os anticorpos acabam por desaparecer ao fim de 12 ou 18 meses, pelo que só depois desse período devem ser feitos testes para perceber se o bebé foi de facto, infectado.

Supõe-se que 50 a 80 por cento dos antigos e actuais utilizadores de drogas injectáveis estejam infectados com Hepatite C. A infecção pode surgir no acto de partilha de instrumentos utilizados na preparação e injecção da droga e que poderão estar contaminados com partículas ínfimas de sangue. Partilhar apenas uma única vez uma seringa pode dar origem a uma infecção com Hepatite C muitos anos depois.

Recentemente tem havido alguma preocupação com a partilha de palhas para aspirar cocaína, porque pode ser uma via de infecção quando há sangramento do nariz. Tem havido igualmente preocupação com o facto de algumas pessoas terem contraído a doença através de agulhas não esterilizadas, usadas em sessões de acupunctura, tatuagem ou "body piercing". Nestes casos, a melhor protecção é exigir o uso de agulhas descartáveis e assegurar que estas são retiradas de embalagens esterilizadas.

Em cerca de um terço dos casos não é possível determinar a origem do contágio.

Prevenção
Na ausência de uma vacina contra a hepatite C, o melhor é optar pela prevenção, evitando, acima de tudo, o contacto com sangue contaminado.

Alguns dos cuidados passam por não partilhar escovas de dentes, lâminas, tesouras ou outros objectos de uso pessoal, nem seringas e outros instrumentos usados na preparação e consumo de drogas injectáveis e inaláveis, desinfectar as feridas que possam ocorrer e cobri-las com pensos e ligaduras.

Devem ser sempre usados preservativos nas relações sexuais quando existem múltiplos parceiros, mas, como a transmissão por via sexual é pouco frequente, o uso nas relações entre cônjuges habitualmente não se justifica.

Os portadores do vírus da Hepatite C não devem registar-se como dadores de órgãos, sangue ou sémen.

Tratamento
Actualmente a Hepatite C é tratada com a combinação de duas substâncias, o interferão-alfa 2b e a ribavirina, que são conhecidos como "terapia combinada". A eficácia do tratamento é cerca de 60 por cento, dependendo o sucesso do tipo de genótipo (45 por cento genótipo tipo 1 e 80 por cento para o genótipo do tipo 2 e 3). A duração do tratamento pode variar de 24 a 48 semanas conforme o genótipo.

O sucesso terapêutico está também dependente da quantidade de carga vírica no início do tratamento, da diversidade da população vírica (a presença de mutações víricas simultaneamente num indivíduo dificulta a acção do interferão), da antiguidade da infecção (quanto mais antiga piora as probabilidade de cura), do estado imunitário (menor sucesso nos co-infectados com SIDA e transplantados), do consumo de álcool e do excesso de peso.

Noventa por cento das recidivas ocorrem nos primeiros três meses depois do tratamento. Passados seis meses as recaídas são excepcionais.

Para algumas pessoas com cirrose que desenvolveram complicações que poderão ameaçar a sua vida, o transplante de fígado é uma opção. Para mais de 80 por cento das pessoas que alcançam este estádio da doença, este procedimento cirúrgico é um sucesso.

O tratamento da hepatite C não se aplica a todos os indivíduos infectados. Alguns necessitam apenas de testes regulares para avaliar a evolução ou regressão da doença. Factores como a idade, a estirpe do vírus, a duração da infecção, o grau de destruição do fígado e se já se desenvolveu cirrose ou não podem ser determinantes para decidir qual o tratamento a aplicar.

Pessoas com Hepatite C, qualquer que seja a sua situação, não devem beber álcool de forma alguma.

Fonte: 
Roche
medicoassistente
Nota: 
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