Hepatite A
A hepatite A é uma infecção provocada pelo vírus da Hepatite A (VHA) que entra no organismo através do aparelho digestivo e multiplica-se no fígado, causando neste órgão a inflamação denominada hepatite A. Uma vez curada a infecção, o fígado regenera totalmente, o vírus desaparece do organismo e surgem anticorpos protectores que impedem uma nova infecção, por isso, não existem portadores crónicos.
A Hepatite A existe de uma forma hiperendémica na maior parte do mundo, e é causada por um vírus que pertence à família Picornaviridae, sendo o ser humano o único reservatório do mesmo. O chamado período de incubação, maior nas crianças do que nos adultos, dura entre 20 a 40 dias, espaço de tempo em que não se revelam quaisquer sintomas. A infecção pode durar seis meses, mas a maioria dos doentes recupera ao fim de três semanas.
O vírus da hepatite A só provoca hepatite aguda, e quase todos os doentes se curam, por isso raramente esta doença é fatal, embora em adultos afectados por uma doença hepática crónica - originada por outros vírus ou pelo consumo excessivo de álcool - a infecção pelo VHA possa provocar a falência hepática, conhecida por hepatite fulminante.
Transmite-se de pessoa para pessoa quando os alimentos ou a água estão contaminados por dejectos, daí que seja mais frequente em países menos desenvolvidos devido à precariedade do saneamento básico, e incida principalmente em crianças e adolescentes (50 por cento dos casos acontecem antes dos 30 anos).
As viagens aos países menos desenvolvidos aumentam o risco de contrair a doença, tornando fundamentais as medidas de prevenção. O maior risco para viajantes não imunes existe nas viagens para África, América do Sul, Sudeste Asiático e para o sub-continente Indiano. Nestas zonas cerca de 70 a 90 por cento da população será seropositiva para esta infecção desde os 5 anos de idade. O risco para os viajantes não imunes e sem profilaxia nestas zonas é calculado em 2 por cento para "turistas de mochilas" e 0.07-0.3 por cento para turistas alojados em bons hotéis e por cada mês de estadia.
Sintomas
De início, a doença pode ser confundida com uma gripe, uma vez que esta também provoca febre alta, dores musculares e articulares, dores de cabeça e inflamação dos olhos mas, normalmente, as dúvidas desfazem-se quando a pele e os olhos ficam amarelados (icterícia)
A falta de apetite, vómitos, mal-estar geral, o aparecimento de pigmentos biliares na urina, a falta de secreção biliar, dor na barriga, aumento do volume do fígado e, nalguns casos, o baço são outros sintomas possíveis. Isto porque, os sintomas são variáveis consoante a reacção do organismo e a idade em do viajante: apenas 5 a 10 por cento das crianças infectadas apresentam sintomas, nas pessoas idosas a doença pode tomar formas mais graves. Mas 90 por cento dos casos de hepatite A aguda são assintomáticos.
O indivíduo com hepatite A fica fraco e debilitado e, por vezes, a icterícia pode demorar mais tempo a desaparecer, prolongando-se durante dois ou mais meses. Podem também ocorrer de recaídas: um a três meses após o desaparecimento dos sintomas, estes reaparecem e, concomitantemente, os resultados das análises agravam-se podendo este quadro clínico e laboratorial persistir até seis meses.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se na detecção, através de análises sanguíneas, de anticorpos anti-VHA do tipo IgM que são gerados pelo sistema imunitário, para combater o vírus, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença. Estes anticorpos mantêm-se no organismo durante três a seis meses e desaparecem quando o doente se cura, dando lugar aos anticorpos anti-VHA do tipo IgG cujo aparecimento significa que o organismo foi infectado e reagiu, protegendo-se contra uma nova infecção com o vírus da hepatite A.
Transmissão
Em quase metade dos casos de hepatite provocados pelo VHA, não se consegue identificar a origem do contágio, mas esta doença transmite-se, geralmente, através da ingestão de alimentos ou de água contaminados por matérias fecais contendo o vírus. São raros os casos de contágio por transfusão de sangue ou por via sexual.
O risco é elevado numa viagem a um país onde as condições sanitárias são deficientes ou a doença é endémica. Já nos países desenvolvidos as epidemias de hepatite A são raras, e as pessoas contaminadas recuperam por completo, de uma maneira geral, ao fim de cerca de 3 semanas.
O marisco, por exemplo, pode representar um perigo se a sua proveniência for um viveiro contaminado por água de esgotos. As frutas, os vegetais e as saladas, ou outros alimentos que estejam crus, se manipulados por uma pessoa infectada ou lavados com água imprópria para consumo podem ser contaminados e, consequentemente, contagiar aqueles que os ingerem.
As pessoas infectadas podem contagiar outras durante o tempo em que o vírus está a ser expelido do organismo juntamente com as fezes; com efeito, o risco de contágio é maior no período de incubação e na primeira semana em que se revelam os sintomas.
Prevenção
Quando o risco é grande, a prevenção ganha ainda maior importância, portanto, numa viagem por países da Ásia, África ou da América Central e do Sul os cuidados devem ser redobrados. Em Portugal, contrair hepatite A já não é muito comum, contudo, como diz o ditado, "mais vale prevenir do que remediar”. Por isso deve manter hábitos de higiene elementares.
O contacto com pessoas infectadas é também um factor de risco, obviamente, por isso, nestes casos, é necessário redobrar os cuidados durante o período infeccioso: lavar a louça a altas temperaturas (na máquina, de preferência), não utilizar a mesma sanita, não partilhar a mesma cama e ponderar os contactos sexuais, evitando o sexo oro-anal e usando preservativo.
Medidas gerais:
- Lavar muito bem as mãos depois de usar a casa de banho e/ou de mudar fraldas, e antes de cozinhar ou comer
- Beber água engarrafada e/ou fervida
- Preferir os alimentos cozinhados, os crus podem estar contaminados
- Evitar o marisco, uma vez que a sua origem pode ser difícil de determinar e a cozedura em vapor não neutraliza o vírus
- Vacina contra o vírus da hepatite A
Vacinação
Aconselha-se a vacinação contra a Hepatite A, a todos os viajantes, independentemente da duração da viagem, para todos os destinos fora da Europa, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Japão.
Na Europa recomenda-se a vacinação de todos os viajantes para a Albânia, Roménia, Bulgária e países da ex-Jugoslávia, bem como, em caso de permanência prolongada, nos países Bálticos, Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia.
A vacina é constituída pelo vírus inactivado, sendo segura e com uma eficácia superior a 95 por cento. A revacinação deve ser feita no período compreendido entre 6-12 meses após a primeira dose.
A vacina contra a hepatite A foi obtida a partir do vírus inactivo, é considerada bastante eficaz e não tem quaisquer contra-indicações. Os efeitos secundários são raros e, caso se façam sentir, são ligeiros, prendem-se com a própria toma, ou seja: dor, vermelhidão e inchaço no local da picada. Em alguns casos, verificam-se sintomas semelhantes aos da gripe (febre, dor de cabeça, arrepios, dores nos músculos e articulações) mas, normalmente, duram um dia.
Tratamento
Não existem medicamentos específicos para tratar esta doença. A Hepatite A cura-se com repouso e uma dieta alimentar específica, até que os valores das análises hepáticas voltem ao normal, e a maioria das pessoas restabelece-se completamente em 5 semanas.
Não se recomenda qualquer dieta especial; a alimentação deve ser equilibrada como, aliás, o bom senso indica em todas as ocasiões: rica em proteínas e com baixo teor de gorduras. Nos casos em que surjam diarreia e vómitos, para evitar a desidratação, devem beber-se muitos líquidos, entre os quais não se inclui o álcool, já que este, mesmo em pequena quantidade, agrava a lesão do fígado. As náuseas e a falta de apetite fazem-se sentir com maior intensidade no final do dia e, por essa razão, a refeição mais completa deve ser tomada durante a manhã.
Por fim, de referir que como o fígado inflamado perde a capacidade de transformar os medicamentos o viajante não deve auto-medicar-se.