Há adultos de 40 anos a ouvir como se tivessem 60 ou 70
As autoridades de saúde reconhecem que este é um problema de saúde pública. Uma delas é a Organização Mundial da Saúde (OMS), escreve o Diário de Notícias, que tem estado a trabalhar com o setor das empresas de telecomunicações para tentar desenvolver standards para estes equipamentos, nomeadamente definindo níveis máximos de volume que não impliquem riscos.
Segundo dados que revelou internacionalmente, haverá mil milhões de jovens com risco de perdas auditivas devido a práticas lesivas ligadas a aparelhos áudio, como os leitores de MP3, telefones, entre outros. Mas não existem dados alusivos à realidade nacional.
Se metade dos jovens de países com médios e elevados rendimentos estão em risco de ter perdas auditivas na sequência de práticas inseguras, há também 40% expostos a níveis demasiado altos de som seja em discotecas, bares ou eventos desportivos.
Margarida Santos dá um exemplo geralmente esquecido. "É o caso dos ginásios, especialmente nas aulas de grupo em que o ruído e a música são muito altos, provavelmente para estimular mais o treino. Este ruído é muito lesivo, especialmente a longo prazo".
Mais frequentes são os associados a idas a discotecas e concertos, "em que os jovens estão encostados às colunas, a ouvi música muito alta. Quando saem de lá vêm com os ouvidos afetados, quase como se estivessem adormecidos".
Células do ouvido interno degeneram
Mas afinal, como se degrada a audição? A diretora de serviço do Hospital de São João fala num envelhecimento precoce. "O ruído conduz à destruição da cóclea, destroi as células que vão sofrendo uma degeneração. A audição já vai sendo afetada com o aumento da idade, fatores de risco e outras doenças. Com traumas acústicos, a situação fica ainda pior."
Atualmente, a médica continua a deparar-se mais com problemas auditivos associados a doenças profissionais, mas já começam a chegar casos de pessoas afetadas por outras circunstâncias. "Os efeitos podem demorar anos a revelar-se, mas já temos casos de pessoas com 30 ou 40 anos a ouvir como se tivessem 60 ou 70. Mas tudo isto é variável, dependendo da intensidade e da existência ou não de uma exposição prolongada a ruídos".
No caso das doenças profissionais, hoje há uma menor exposição. "A legislação que existe já é protetora, obriga ao uso de protetores auriculares, há mais formação nesta área, embora não saibamos se tudo é cumprido ou há fiscalização".
Células do ouvido interno degeneram
A prevenção é, sem dúvida, a melhor solução. "O que conselho que dou é que as pessoas saibam preservar e não expor os ouvidos a ruídos intensos e muito prolongados", reconhecendo ainda que o ouvido se habitua a estas exposições.