Guia para doentes colostomizados
Este artigo contém algumas perguntas que se consideram pertinentes e foram dadas as respetivas respostas de forma simples e objetiva que podem ajudar a simplificar, esclarecer, resolver e melhorar a vida de um(a) colostomizado(a) ou de quem dele cuida – prestador de cuidados. Contudo, esta leitura não dispensa nem substitui a visita regular ao profissional de saúde – enfermeiro ou médico.
Diz o ditado popular “que a esperança é a ultima a morrer” e, por isso, deixa-se uma mensagem de esperança: existem pessoas totalmente adaptadas à sua ostomia, pessoas que conseguem ter uma vida pessoal, familiar e sociais plenas. Está muito na mão de cada um fazer com que isso aconteça.
Existem profissionais de enfermagem distribuídos pelo país inteiro que poderão ajudar a ultrapassar as dificuldades próprias da situação e ter essa vida em pleno. Informe-se dos profissionais que o poderão ajudar na sua área de residência.
Estoma – palavra de origem grega que significa “boca” ou abertura, abertura essa, de dentro para o fora, de forma resumida, é o orifício que está a vista. É realizado através de uma ostomia – que é a intervenção cirúrgica para a realização desse estoma.
No caso de uma colostomia, é uma ostomia onde é exteriorizada uma porção do cólon (intestino grosso). Está situada no abdómen e tem como finalidade a saída ou o desvio das fezes do seu trajeto normal. Tem um tom rosa ou avermelhado e é húmido. Ao tocar no estoma, não dói nem sente. Não existe um esfíncter que controle a saída de fezes. Colostomizado(a) – é uma pessoa com colostomia.
Existem muitas pessoas com ostomias no nosso país e pelo mundo fora. As colostomias são porventura as mais frequentes. Esta realidade obriga a algumas mudanças de hábitos como é o caso do uso de dispositivos “sacos” para recolher as fezes que vão saindo. Estes dispositivos são discretos e muito provavelmente, todos nos já estivemos junto de uma pessoa ostomizada sem o sabermos.
Que dispositivos usar
- Existe uma grande variedade de dispositivos – marcas, números e formatos diferentes
- Estes dispositivos são compostos por um saco que recolhe as fezes e por uma placa que adere ao abdómen e segura o saco
- Podem ser de uma (1) ou duas (2) peças:
- No dispositivo de uma peça, a placa e o saco estão juntos. Para trocar o saco, é necessário “descolar a placa”
- No dispositivo de duas (2) peças o saco e a placa estão separados e possuem um sistema de encaixe. Assim, pode-se trocar o saco mantendo a mesma placa por mais algum tempo (se tudo nos conformes). Neste caso, o saco tem que ser do mesmo número e marca da placa (caso contrario podem não encaixar).
- A placa pode ficar colocada até quatro dias. É composta por um protetor cutâneo e um material aderente. Deverá ser trocada quando se descolar em alguma parte, quando sentir ardor/prurido (comichão) ou se estiver corroída junto à colostomia.
- Os sacos devem ser mudados quando estiverem a meio. Estes sacos contém um filtro, que permite a saída dos gases e neutraliza os odores.
- Existem ainda no mercado, outros materiais chamados de acessórios que poderão ser úteis, ex. protetores da pele, niveladores, desodorizantes, …
Atualmente, no nosso país já existe em muitos Hospitais / Centros de Saúde, profissionais de enfermagem treinados/especializados para ajudar o colostomizado e prestadores de cuidados na escolha do melhor dispositivo, como adquiri-lo, entre muitos outros assuntos que o ajudarão a ter uma vida mais facilitada.
Nota: os dispositivos devem ser guardados num local seco – evitar a cozinha e a casa de banho – e não é aconselhável expor ao calor ou ao sol pelo risco de se estragar.
Como mudar o dispositivo
É necessário ter-se à mão o seguinte material:
Dispositivo (de 1 ou 2 peças), papel e/ou esponja macios, água, sabão de pH neutro (facultativo), saco para os sujos, tesoura de pontas curvas (se necessário)
Como fazer no caso de:
Trocar o dispositivo de uma (1) peça ou trocar a placa no dispositivo de duas (2) peças
- Retirar a placa que está colocada puxando devagar com uma mão e com a outra mão, segurar na pele para não repuxar
- Retirar o excesso de fezes (se as houver) com papel
- Lavar a colostomia e a pele à volta com a esponja molhada em água e sabão, sem esfregar. Depois passar só com água
- Enxaguar bem, com o papel ou toalha, sem esfregar
- Cortar a nova placa na medida certa (ver à frente medida certa)
- Retirar a proteção da placa (papel ou plástico) e colocá-la pressionado durante alguns segundos, com os dedos a toda a volta para aderir melhor
Trocar apenas saco no material de 2 peças:
- Com uma mão, retirar o saco que está colocado, puxando ligeiramente para fora e conforme o sistema de encaixe. Com a outra mão segurar na placa
- Limpar as fezes com papel
- Utilizar a esponja molhada em água e sabão para lavar a colostomia e a placa, se necessário
- Enxaguar bem e colocar o novo saco, conforme sistema de encaixe
- Certificar-se de que está bem encaixado
Notas: Colocar os sujos num saco, fechar (por causa do cheiro) e levar ao contentor do lixo habitual; Certificar-se sempre, se a placa e o saco estão bem seguros e assim evitar fugas.
Qual a medida certa
- A medida certa do recorte da placa é aquela que cobre toda a pele e deixa livre a colostomia
- Esta medida pode variar ao longo do tempo. Para saber qual é, pode utilizar os guias que vêm nas caixas junto de algum material, ou então fazer a sua própria medida. Se necessário pode pedir ajuda a um familiar ou enfermeiro
- Tendo a medida certa, copiar para a placa e cortar com a tesoura
Depois da placa recortada, convém passar a mão para amaciar algum bico que tenha ficado - Nunca ultrapassar o limite de recorte (último risco ou “stop” em algumas placas). Se a sua colostomia é redonda e já passaram 1 a 2 meses de cirurgia (operação) pode optar por material já recortado (disponível apenas em alguns formatos). Falar com o enfermeiro que o orienta. Ao usar sempre a medida certa pode evitar vários problemas no futuro (na pele e na colostomia).
Quando pedir mais dispositivos
- Pedir mais material quando tiver uma caixa em seu poder (placas e sacos ou dispositivos de uma peça).
- Não armazenar muito material em casa. Com o tempo também se estraga.
Que dieta fazer
- A dieta é aquilo que todos nós comemos no nosso dia-a-dia
- A colostomia não obriga a uma dieta especial. Um colostomizado pode comer o que comia antes da cirurgia
- No entanto, é recomendável fazer uma alimentação saudável, variada, seguindo a roda dos alimentos, dando preferência aos chamados “alimentos da época”, do agrado de cada um, e evitar excessos
- Fazer 5 a 6 refeições por dia
- Mastigar bem os alimentos, sem pressa, sentado e de preferência mastigar com a boca fechada (para não engolir ar)
- Existem alimentos que poderão favorecer a formação de mais flatos (gases), aumentar ou diminuir o odor das fezes, alimentos obstipantes ou laxantes, etc. Estas situações variam de pessoa para pessoa e na mesma pessoa até de momento para momento. Poderá ir-se estudando as diversas reações do organismo aos diferentes alimentos e escolher-se depois, ingerir mais ou menos quantidade ou até a altura mais adequada, ou não, para os ingerir
Beber cerca de 1,5 litro de água por dia em média (ajuda no bom funcionamento do intestino e do organismo em geral)
imagem obtida através do site - www.dgs.pt
Que roupa vestir
- Pode-se vestir a roupa que usava antes da cirurgia. O material atual é discreto (não se nota)
- No entanto, convém evitar roupa muito apertada e/ou cintos por cima da colostomia, que a possam ferir ou impedir a saída normal das fezes
- Já existem roupas (em especial roupa interior e banho) adaptadas às pessoas ostomizadas.
Pode-se sair de casa? Como faze-lo?
- Pode-se e deve sair-se de casa para estar com a família, amigos, viajar, trabalhar e retomar (logo que possível) o estilo vida que se tinha antes da colostomia
- Quando sair, mesmo que por poucas horas, levar sempre duas (2) unidades de dispositivo (no mínimo), com a placa já recortada, um pouco de papel e um saco para pôr o lixo. Isto evita corridas desnecessárias para casa/sujar-se, se houver uma descarga maior que o esperado. Ver ainda se é necessário levar um pouco de água (para limpar)
- Para distâncias mais longas, levar os dispositivos sempre junto da pessoa (evita que se perca) e na quantidade do dobro (ou mais) do que se costuma gastar (evitar ficar sem dispositivos no caso de se precisar)
- Pode ser útil ter 1 “bolsa de segurança” onde guarda o material quando sai.
Outros conselhos
Pode-se tomar banho com ou sem saco
- Se tomar banho com o saco: colocar o selo autocolante (que vem na caixa) no local do filtro (evita que este se estrague)
- Se optar por tomar banho sem o saco: poderá acontecer uma saída de fezes
- No banho de imersão /piscina é recomendável o uso de saco
O desporto faz bem à saúde
Pode-se praticar por exemplo: natação, bicicleta, caminhada, dança, etc.…
Se gostar de desportos como boxe, andebol e outros do género, peça orientação ao seu médico, enfermeiro, ou professor da modalidade.
- Evitar trabalhos que exijam um grande esforço abdominal, como por exemplo levantar objetos pesados
- Durante a higiene à colostomia, esta pode sangrar um pouco. É normal. Se acontecer, usar água um pouco mais fria e não esfregar.
- Não usar cremes na pele onde cola a placa (risco da placa não colar), álcool, éter, perfume, tintura de benjoim, ou outro (risco de irritação).
Informe-se junto do enfermeiro ou médico acerca dos seguintes assuntos:
- Legislação existente referente aos dispositivos, e outras leis que poderão ajudar
- A possibilidade de fazer ou não a técnica de irrigação. Esta técnica permite um controle da saída das fezes, e consequentemente mais segurança e bem-estar
- Alteração da vida íntima (sexual)
- Se notar algo fora do normal
- Outras dúvidas que possam surgir.
“A maior conquista do ostomizado é a de ser independente”
Doente colostomizado
“O médico deu-me mais anos de vida, agora é meu dever dar mais vida aos meus anos”
Doente colostomizado
Artigos relacionados
Incontinência Fecal é mais comum do que se pensa
Este texto é uma adaptação do “Guia do Colostomizado” que os autores realizaram para os utentes do Hospital S. Teotónio, E.P.E., Viseu
Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.