Gravidez ectópica: idade e tabaco entre fatores de risco
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o número de mortes associadas a uma gravidez ectópica aumentou, nas últimas décadas, nos países industrializados, estimando-se que seja a causa de 4,9 por cento dos óbitos durante a gestação.
Estima-se que uma em cada 100 a 200 gravidezes seja ectópica, ou seja, uma gravidez em que o feto se desenvolve fora do útero, quer seja na trompa de falópio, no canal cervical ou na cavidade pélvica ou abdmominal. Sendo a mais comum a gravidez tubária – representando 97,7 por cento dos casos.
O principal risco descrito, em resultado da evolução de uma gravidez ectópica (GE), é a rotura do orgão onde se desenvolve, uma vez que apenas a cavidade uterina possui a capacidade de expandir e acomodar o desenvolvimento fetal. Esta rutura pode causar infertilidade ou morte.
Segundo Rute Matos, enfermeira responsável pelo bloco de partos do Hospital da Luz e autora do capítulo dedicado ao tema no manual “Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica”, publicado pela editora Lidel, são vários os fatores de risco que podem condicionar o desenvolvimento de uma gravidez ectópica.
É o caso da doença inflamatória pélvica “que aumenta o risco de danos nas trompas de Falópio”. Esta inflamação é o resultado de uma infeção bacteriana, que costuma começar na vagina e que se propaga ao útero e às trompas, contraída, habitualmente, por contato sexual.
Por outro lado, “as cirurgias que causam danos ou alteram a estrutura tubária acrescem um aumento do risco da gravidez ectópica”. “Como a salpingostomia (abertura da trompa de falópio), reanastomose tubária (após laqueação) ou lise de aderências pélvicas (causadas por endometriose, DIP, infeções, entre outras”, descreve a especialista em enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica.
Também as técnicas de procriação medicamente assistida, como recurso a medicação para estimulação ovárica, foi associado ao aumento deste risco. “Especialmente devido ao número elevado de óvulos e elevados níveis hormonais”, acrescenta.
Diversos estudos associam ainda os hábitos tabágicos como fator de risco. “Possivelmente devido a alterações na ovulação, alterações da motilidade tubária e uterina e da imunidade”, as mulheres fumadoras têm maior risco de GE do que as não fumadoras.
A idade materna avançada, responsável “pela perda progressiva da atividade mioelétrica da trompa de Falópio”, os contracetivos orais apenas com progesterona e dispositivos intrauterinos são também apontados como fatores que podem levar ao aumento da incidência destes casos.
Os principais sintomas de gravidez ectópica são a dor abdominal, hemorragia vaginal anormal e ausência de menstruação.
No entanto, além destes sinais também podem surgir outros sintomas como febre, cansaço, náuseas e vómitos ou sinais de choque hipovolémico (caracterizado pela perda de grandes quantidades de sangue e líquidos).
“O diagnóstico da GE é dificil de efetuar, pois apenas cerca de 50% das pacientes com GE apresentam a clássica tríade de sinais e sintomas - dor, amenorreia e hemorragia vaginal anormal. Deste modo, tem de se efetuar um diagnóstico diferencial, excluindo diversas situações como a apendicite, salpingite, rutura de quisto, corpo lúteo ou de folículo de ovário, aborto espontâneo, torção do ovário ou infeção urinária”, escreve Rute Matos.
De acordo com a especialista o tratamento deste evento clínico “tem-se alterado ao longo dos anos”, muito devido aos meios de diagnóstico disponíveis que têm possibilitado, cada vez mais, um diagnóstico precoce. Na realidade, a possibilidade de um diagnóstico precoce permite que terapêuticas menos invasivas e mais conservadoras sejam aplicadas no tratamento da GE.
“O tratamento da GE passou a incluir uma terapêutica conservadora (cirúrgica e não cirúrgica) sendo que, em situações de rutura tubária ou de lesões complexas, o tratamento terá de ser, inevitavelmente, cirúrgico”, descreve.
O tratamento com metotrexato – um agente antagonista do ácido fólico que inibe a síntese de purinas, interferindo com o ADN e interrompendo a multiplicação celular – é o método não cirúrgico indicado.
A sua administração pode ser por via intramuscular e são elegíveis para a sua utilização grávidas sem sintomas de hemorragia ativa ou hemoperitoneu, com saco gestacional até quatro centímetros e com ausência de atividade cardíaca fetal.
A principal vantagem deste tratamento é evitar a cirurgia, diminuindo os riscos de lesão e infertilidade.
No entanto, apresenta alguns efeitos secundários. Distúrbios gastrointestinais, tonturas, dor ou hemorragia vaginal são os mais frequentes.
Quanto ao tratamento cirúrgico, realizado apenas quando existe lesão complexa ou rutura tubária, consiste, atualmente, na aplicação de técnicas minimamente invasivas. Estas técnicas consistem em: salpingostomia linear, que identifica a trompa afetada e procede a sua libertação das estruturas; Resseção segmentar tubária, “com a resseção da zona tubária onde está contido o saco gestacional e posterior anastomose dos topos da trompa”; e Salpingectomia total.