Grande queda na produção de ópio não trava consumo de heroína
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“A heroína continua a ser a droga que mais mata pessoas e o seu reaparecimento deve ser falado urgentemente”, disse Yury Fedotov, chefe da Agência das Nações Unidas para as Drogas e para o Crime (UNODC, na sigla inglesa), num novo relatório.
A produção de ópio, que é transformado em heroína, caiu para 4.770 toneladas em 2015, uma queda de 38% desde o último ano.
Contudo, 2014 foi um dos anos mais fortes alguma vez registados e o último ano viu uma colheita pobre no Afeganistão, o maior produtor de ópio do mundo, com 70% da produção mundial.
No relatório também se assinala como improvável que a queda acentuada levasse a “maior escassez” no abastecimento de heroína, uma vez que os traficantes acumularam a produção dos últimos anos.
“Não há razão para pensar que a produção de heroína no Afeganistão acabou”, disse à agência francesa France Press a investigadora Angela Me. “Ainda há muita heroína no mercado”, continuou.
Dentro dos 29 milhões de consumidores de drogas pesadas em todo o mundo, 17 milhões são viciados em opiáceos, que incluem heroína, ópio e morfina.
A Ásia continua a ser o maior mercado para derivados do ópio, com cerca de dois terços de todos os utilizadores.
Nos últimos dois anos, o aumento da procura nos EUA levou a um grande aumento no fornecimento de heroína barata do Afeganistão e levou também a que os cultivos de papoila tenham crescido no México - o terceiro produtor mundial da planta com a qual se produz a heroína, depois do Afeganistão e do Myanmar.
A Organização das Nações Unidas (ONU) assinala que na América Latina a produção de ópio entre 1998 e 2015 duplicou até às 500 toneladas, representando cerca de 11% da produção mundial.
Enquanto o Afeganistão abastece os mercados da Europa, Médio Oriente, África e Canadá; o Myanmar foca-se no mercado chinês e a produção do México dirige-se aos EUA.
Como resultado do aumento do consumo nos Estados Unidos, as mortes relacionadas com a heroína atingiram o maior nível numa década, quase duplicando de 5.925 em 2012 para 10.800 em 2014 nos EUA.
O UNODC disse que a epidemia dos EUA ainda não mostrava sinais de diminuição.
O relatório também revelou que havia sinais de que o embarcamento de heroína na Europa estivesse a aumentar, com um grande número de apreensões registadas nas alfândegas em Itália e em França.
Contudo, o mercado global de cocaína parece estar a diminuir apesar da maior produtora, a Colômbia, ter aumentado a produção recentemente, disse a agência da ONU.
O cultivo mundial de cocaína caiu mais do que 30% entre 1998 e 2014, devido, em parte, aos esforços de erradicação e desenvolvimento de programas alternativos para agricultores.
Num estudo publicado em julho, a UNODC disse o cultivo na Colômbia aumentou 44% em 2014 para 69.000 hectares - 175.000 propriedades – pouco mais de metade da área de crescimento mundial, mas ainda bastante abaixo dos níveis alcançados há duas décadas.
Mas o aumento ainda não foi traduzido na entrada de mais cocaína no mercado global, e o consumo tanto nos EUA como na Europa continua a diminuir, lê-se no mais recente relatório.
O UNODC disse que a vaga colombiana pode estar ligada às conversações de paz entre o governo e as forças de guerrilha FARC.
Os rebeldes foram ensinados a encorajar os agricultores a cultivar cocaína para depois beneficiarem de programas de desenvolvimento alternativos assim que o acordo fosse alcançado.
Os rebeldes, que iam assinar hoje um cessar-fogo definitivo com o governo, tinham dito anteriormente que iriam cortar todas as ligações com o tráfico de cocaína, atualmente a maior fonte de rendimento.