Glaucoma
Em Portugal, cerca de 200.000 pessoas apresentam hipertensão intraocular, das quais 1/3 sofre de Glaucoma. Cerca de 6.000 pessoas podem evoluir para cegueira irreversível e/ou degradação acentuada do campo visual, embora a doença possa ser controlada com assistência oftalmológica atempada e correcta adesão à terapêutica.
A idade e história familiar do Glaucoma são factores de risco da doença crónica.
A monitorização do Glaucoma deverá constituir uma atitude sistemática. O Glaucoma, é uma doença crónica que mesmo tendo sido sujeita a tratamento, poderá vir a ter uma evolução que justifique nova terapêutica, necessitando de um acompanhamento com avaliações periódicas que confirmem a estabilidade do quadro clínico ou detectem novos sinais patológicos.
Avaliação oftalmológica recomendada para detecção precoce do glaucoma
Idade (anos) | Com factores de risco para Glaucoma |
<40 | 2-4 anos |
40-54 | 1-3 anos |
55-64 | 1-2 anos |
65 | 6-12 meses |
Definição
O Glaucoma é uma neuropatia óptica progressiva que pode ou não estar associado a hipertensão intraocular.
O tipo de glaucoma mais frequente é o Glaucoma Primário de Ângulo Aberto (GPAA). O Glaucoma de Ângulo Fechado (GAF) é menos frequente e está sempre associado a hipertensão intraocular. O mesmo acontece com a forma mais rara de glaucoma, o Glaucoma Congénito (GC), que se manifesta no nascimento ou nos primeiros anos de vida.
No GC, a criança apresenta olhos grandes, com córneas grandes (megalocórneas) e turvas, e lacrimejo intenso. Sendo devido a uma alteração congénita do ângulo iridocorneano pouco lugar há para a prevenção.
No GAF, os olhos são geralmente pequenos e frequentemente existem sinais premonitórios antes das crises, como halos luminosos circundando os pontos de luz. Manifesta-se por crises agudas dolorosas. O risco é bilateral, embora possa diferir no tempo o aparecimento num e no outro olho, factor importante a ter em consideração após uma primeira crise aguda e face a sinais de alarme de repetição.
Os GPAA, porque têm uma instalação insidiosa, colocam o principal cuidado na prevenção, dado serem assintomáticos nas fases iniciais.
Os campos visuais deterioram-se à medida que a doença se vai desenvolvendo.
A escavação aumentada da papila óptica é a marca do Glaucoma (de todos os tipos de glaucoma).
A doença instala-se e progride sem que o doente se aperceba, pois a visão central (acuidade visual) permanece normal até uma fase avançada da doença.
O GPAA, por definição, não está associado a outra patologia sistémica ou ocular. Quando tal acontece recebe a designação de Glaucoma Secundário.
Factores de Risco
Como factores de risco para o Glaucoma, apontam-se:
- História familiar de glaucoma;
- Idade;
- Raça negra;
- Sexo feminino;
- Acima dos 40 anos (no GPAA);
- Data da última consulta de oftalmologia (há quanto tempo não é observado em oftalmologia).
Anamnese
A avaliação inicial de um suspeito de Glaucoma inclui a história familiar, antecedentes sistémicos e antecedentes oculares.
A medicação sistémica e ocular em curso deve ser considerada.
Sinais e Sintomas, Avaliação
No GAF (agudo), podem ocorrer:
- “Olho vermelho”,
- Visão turva;
- Dor ocular ou supraciliar;
- Halos corados circundando pontos de luz;
- Na crise aguda, há pupila dilatada (midríase), geralmente ovalada de eixo maior vertical e não reactiva à luz.
No GPAA (crónico) não há sintomas, senão muito tardiamente.
O diagnóstico é feito pela verificação, no fundo ocular, de uma papila glaucomatosa associada a uma perda campimétrica. Obrigatoriamente, a avaliação do campo visual deve ser feita por campímetro computorizado. A tonometria revela, frequentemente, valores superiores a 21 mm Hg.
Prevenção
Acima dos 40 anos de idade, o disco óptico (retinografia), deve ser avaliado regularmente, sobretudo nos grupos de risco (história familiar de Glaucoma).
A medição da Pressão Intraocular (PIO), apesar de fazer parte do exame de rotina, é insuficiente como método de rastreio, já que uma parte significativa dos Glaucomas (GPAA) cursa sem hipertensão ocular.
Na suspeição de Glaucoma Primário de Ângulo Aberto (GPAA), a avaliação inclui todos os componentes da vigilância oftalmológica do adulto com atenção especial para os factores fundamentais para o diagnóstico:
- Fundo Ocular (alteração da escavação do disco óptico);
- PIO (Pressão Intraocular) – considerados suspeitos valores acima dos 20-22 mm Hg;
- Campos Visuais (inicialmente manifesta-se por escotomas na zona média “escotomas de Bjerrum” e aumento da mancha cega);
- Acuidade Visual.
Tratamento
O tratamento do Glaucoma Congénito é cirúrgico.
O tratamento do Glaucoma de Ângulo Fechado é essencialmente cirúrgico, por iridotomia com laser ou iridectomia incisional.
O propósito do tratamento no GAF, é prevenir acessos agudos para preservar a função visual (avaliar sempre o olho adelfo em busca de um ângulo estreito e/ou evidência de risco de encerramento do ângulo).
O tratamento do GPAA é fundamentalmente médico, sendo a cirurgia considerada um recurso na falência do tratamento médico (casos em que a terapêutica não surtiu efeito, ou em que o doente não aderiu ao tratamento).
No GPAA, dada a ausência de sintomas na fase inicial da doença, é importante educar o paciente para adesão à terapêutica médica, uma vez que o doente não se apercebe do benefício.
Referenciação
Nos casos com sinais premonitórios típicos de GAF, o doente deve ser enviado com carácter urgente ao oftalmologista. Os sinais premonitórios são muitas vezes despertados por algumas medicações e situações que possam causar dilatação pupilar (ex.: ambientes escuros).
Perante a progressão incontrolável e inexorável de qualquer Glaucoma e suas consequências, a reabilitação visual e o apoio social, constituem recursos a considerar.