Garrotes contaminados impõem a utilização de dispositivos descartáveis, alertam investigadores
Em causa estão os resultados de um estudo realizado no âmbito do projeto “TecPrevInf - Transferência de inovação tecnológica para as práticas dos enfermeiros: contributos para a prevenção de infeções”, que vêm mostrar que os garrotes utilizados nas unidades de saúde estão muitas vezes contaminados por microrganismos potencialmente patogénicos e resistentes a antibióticos.
De acordo com os investigadores do TecPrevInf – o projeto é liderado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), tendo como parceiros a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e a Associação Portuguesa de Acessos Vasculares (APoAVa) –, esta realidade pode colocar em causa a saúde dos utentes e a qualidade dos cuidados prestados.
Intitulado “A disseminação microbiológica associada aos garrotes utilizados durante a punção venosa periférica: achados de uma scoping review”, o trabalho efetuado no âmbito do projeto TecPrevInf partiu da revisão científica de 20 estudos feitos em diversos países – Reino Unido (8), Brasil (2), EUA (2), Alemanha, Austrália, Coreia do Sul, Paquistão, Portugal, Nigéria, Nova Zelândia e Turquia (1 estudo em cada país) – e que foram publicados entre 1986 e 2017, num total de 1479 garrotes analisados.
De acordo com a scoping review (revisão sistematizada destinada a mapear estudos científicos relevantes em determinada área), conclui-se que «as taxas de contaminação variam entre os 10 e os 100%», sendo que «15 dos 20 estudos analisados revelam a existência de contaminação em pelo menos 70% dos garrotes observados».
De acordo com os investigadores do TecPrevInf, os resultados encontrados na scoping review são corroborados pelos resultados da investigação desenvolvida pelo projeto numa unidade hospitalar do centro de Portugal, que apresentou «uma taxa de contaminação de 86% em 35 zaragatoas» recolhidas para análise em garrotes utilizados na cateterização venosa periférica. E «os microrganismos isolados encontrados foram similares aos identificados na literatura, também no que respeita a microrganismos multirresistentes», referem os responsáveis por estes dois estudos.
Numa das fases mais avançadas desta investigação realizada no centro do país, foram introduzidos garrotes descartáveis de uso único no contexto clínico em estudo, referem os investigadores do TecPrevInf, segundo os quais «as guidelines e orientações mais recentes recomendam o uso de garrote descartável, se possível de utilização única», sendo que, «quando não for possível individualizar o garrote», se devem «cumprir os protocolos de descontaminação apropriados antes e após a sua utilização».
Coordenado pela ESEnfC, o projeto TecPrevInf tem por objetivo a implementação de tecnologias inovadoras na prática clínica dos enfermeiros com vista à prevenção de infeções associadas aos cuidados de saúde, relacionadas com o uso do cateter venoso periférico.
O projeto TecPrevInf está inscrito na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), no seu eixo estratégico TecCare, que pretende aliar o conhecimento e a prática clínica à investigação experimental desenvolvida no mundo do ensino superior no domínio das tecnologias dos cuidados de saúde, visando a inovação e a transferência de conhecimento para uma melhoria da saúde prestada às populações.
Recentemente, o estudo “A disseminação microbiológica associada aos garrotes utilizados durante a punção venosa periférica: achados de uma scoping review” foi distinguido como dos melhores trabalhos com impacto social para divulgação apresentados durante o European Congress of Clinical Microbiology & Infectious Diseases, que decorreu, entre os dias 13 e 16 de abril, em Amesterdão e que agregou mais de 12000 pessoas.