Formar atletas paralímpicos pela reabilitação e integração
"Ter deficiência não é uma fatalidade. O desporto adaptado pode ser o caminho para a integração plena e assumimos isso como o estado normal na sociedade e não como excepção", disse o provedor da Santa Casa de Misericórdia do Porto (SCMP), António Tavares.
A futura equipa de desporto adaptado integrará pacientes das três estruturas clínicas desta instituição - hospitais da Prelada e Conde Ferreira, bem como Centro de Reabilitação do Norte (CRN) - e também utentes do Centro Integrado de Apoio à Deficiência (CIAD).
Boccia, orientação de precisão, vela adaptada, iniciação ao basquetebol e ao andebol em cadeira de rodas, voleibol sentado, ténis de mesa e tiro ao arco são algumas das modalidades desportivas que fazem parte desta aposta da SCMP.
"Está mais que provada a influência do desporto não só na recuperação, mas na integração na sociedade", apontou o director clínico do CRN, Rúben Almeida.
A essa convicção de que o desporto facilita a recuperação da autoestima, a melhoria física, a capacidade de resistência e o desenvolvimento muscular, o responsável somou a importância da integração social através da competição.
"É importante que o doente se sinta capaz de integrar um grupo e também de competir com os seus pares", disse.
A opinião é partilhada pelo responsável do núcleo de desporto adaptado que já existe no hospital da Prelada, Gonçalo Borges, segundo o qual "o lazer pode existir", mas a reabilitação e a integração fomentam-se "ainda melhor" quando "as capacidades estão em competição".
"Não é só a reabilitação física que interessa. É também a reabilitação psíquica, cognitiva e emocional. Com a competição estamos a permitir que uma pessoa que tem uma incapacidade se coloque em posição de igualdade com os restantes", frisou Gonçalo Borges, defendendo a importância de este projecto colher apoio junto de federações desportivas.
A experiência da SCMP no desporto adaptado remonta a 2009, quando um enfermeiro, Joaquim Margarido, e um fisioterapeuta, Pedro Cunha, desafiaram os responsáveis da Prelada a apostar em modalidades como orientação de precisão e vela adaptada.
Entretanto, os atletas já passaram por cerca de meia centena as competições nacionais e internacionais, "com bons resultados", como sublinhou Gonçalo Borges, e em actividades que constituem "um excelente embrião para o futuro", como destacou o provedor da Misericórdia do Porto.
"É hora de formalizar esta aposta. Participar em actividades federativas e paralímpicas está no nosso objectivo", apontou António Tavares.
Formado o grupo de trabalho, sob a direcção do vice-provedor Canto Moniz e que integra vários profissionais de saúde e um professor de desporto adaptado, a expectativa é que no último semestre deste ano o projecto esteja a dar alguns frutos.
No CRN, localizado em Gaia, já existem cadeiras de rodas que permitem a prática de basquetebol ou ténis, entre outros desportos, bem como equipamento profissional para o boccia, indicou Rúben Almeida.
Já o responsável da Prelada acrescentou a esperança de que, com a formalização deste projecto, tanto a orientação, como a vela, que já alcançaram "alguma sustentabilidade", possam "ganhar força" para integrarem candidaturas a apoios comunitários.