Esteatose hepática

Fígado gordo

Atualizado: 
20/05/2019 - 14:57
Conhecida popularmente como fígado gordo, a esteatose hepática caracteriza-se pelo excessivo acumular de gordura nas células que formam o fígado.
figado gordo

O nosso fígado possui, normalmente, pequenas quantidades de gordura, que correspondem a cerca de 10% do seu peso. Quando a acumulação de gordura excede este valor, estamos perante um fígado que está a acumular gordura no interior do seu tecido. A esta condição dá-se o nome de esteatose hepática. Chama-se esteatose hepática porque o termo hepático é de origem grega e significa fígado. Esteato é o termo que indica relação com gordura. Portanto, esteatose hepática significa literalmente fígado gordo ou gordura no fígado.

Até 1980, acreditava-se que a esteatose hepática, também conhecida como fígado gordo ou gordura no fígado, era originada pelo consumo abusivo de álcool. Esta condição, tal como o próprio nome refere, ocorre por acumulação de gordura no fígado e, embora possa ser causada pelo consumo excessivo de álcool, também pode surgir em várias outras situações, como em pessoas com colesterol alto, com excesso de peso, em diabéticos, etc.

Alguns anos atrás acreditava-se que a acumulação de gordura no fígado era apenas causada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas e que a presença da esteatose era necessariamente danosa à saúde. Actualmente sabe-se que a esteatose hepática é uma situação muito comum e que pode ser causada por vários e diversos outros factores, que não apenas a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.

Uma esteatose hepática ligeira - esteatose hepática grau 1 ou 2 - normalmente não causa sintomas ou complicações. A acumulação de gordura no fígado é ligeira e não origina a sua inflamação.

No entanto, quando a acumulação de gordura no fígado é maior e mais prolongada, os riscos de lesão hepática são maiores, uma vez que as células do fígado podem ficar inflamadas originando danos. A este quadro dá-se o nome de esteato-hepatite (ou hepatite gorda) e trata-se de uma condição bem mais preocupante, uma vez que cerca de 20% dos doentes evoluem para uma condição de cirrose hepática.

Assim, a esteatose hepática trata-se de um estadio anterior ao desenvolvimento da esteato-hepatite e que, tal como o seu próprio indica, é uma hepatite provocada por excesso de gordura no fígado.

De referir que nem todos os doentes com esteatose hepática evoluem para uma situação de esteato-hepatite. Em boa verdade, a maioria não o faz.

A principal causa de esteato-hepatite é o consumo de bebidas alcoólicas. Por isso, os especialistas distinguem os casos entre esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica.

Causas do fígado gordo

Não são conhecidas com exactidão, as razões que levam alguns indivíduos a desenvolver esteatose hepática. Todavia existem algumas doenças que estão claramente ligadas a este facto. De referir:

  • A obesidade - Mais de 70% dos doentes com esteatose hepática são obesos. Quanto maior o excesso de peso, maior o risco.
  • A diabetes mellitus - Da mesma forma que a obesidade, a diabetes tipo 2 e a resistência à insulina estão também relacionados intimamente com a acumulação de gordura no fígado.
  • O colesterol elevado e níveis elevados de triglicéridos.
  • Os medicamentos - São vários os remédios que podem favorecer a esteatose, como os corticóides ou os anti-retrovirais, entre outros. Também o contacto com alguns tipos de pesticidas está relacionado com o desenvolvimento de esteatose hepática.
  • Uma desnutrição ou rápida perda de grande quantidade de peso.
  • As cirurgias abdominais, em especial o "bypass gástrico”, a remoção da vesícula ou a remoção de partes do intestino.
  • A gravidez.

De salientar que não é necessário padecer de alguma das condições acima citadas para sofrer de esteatose hepática. Mesmo pessoas magras, saudáveis e com baixa ingestão de álcool também podem tê-la, apesar de nestas situações ser menos comum.

Sabe-se que a esteatose hepática é mais comum no sexo feminino, provavelmente por acção do estrogénio.

Sintomas do fígado gordo

Habitualmente, a esteatose hepática não apresenta sintomas. Por isso, muitas vezes o diagnóstico é feito acidentalmente através de exames de imagem, como as ecografias ou as TAC (tomografia axial computadorizada) solicitadas por outros motivos.

Alguns doentes com esteatose hepática queixam-se de fadiga e sensação de peso no quadrante superior direito do abdómen. Todavia, não há evidências, que esses sintomas estejam relacionados com a acumulação de gordura no fígado. Há, inclusive, doentes com elevado grau de esteatose que não apresentam qualquer sintoma.

Esteatose hepática vs esteato hepatite

O que diferencia a acumulação de gordura benigna da esteatose hepática da acumulação de gordura prejudicial da esteato hepatite é a presença de inflamação no fígado. Ambos os quadros não costumam causar sintomas e clinicamente é impossível distingui-los.

Diagnóstico do fígado gordo

Conforme já foi referido, muitas vezes o diagnóstico é feito acidentalmente através de exames de imagem. Por isso, a história clínica, um exame físico e análises laboratoriais são imprescindíveis para a avaliação do doente. Para além disso, uma boa avaliação médica pode identificar a causa da lesão hepática.

As análises laboratoriais servem para avaliar o grau de lesão do fígado através das chamadas enzimas hepáticas (TGO e TGP ou AST e ALT) e de outros marcadores de doença do fígado, como a gama GT. Na esteatose hepática, as enzimas do fígado estão normais, enquanto na esteato-hepatite há aumento das mesmas.

Nem sempre, através dos exames de imagem, é possível diferenciar casos de esteatose da esteato-hepatite, principalmente em fase avançada. Por exemplo, através da ecografia consegue-se ver bem a gordura, mas esta não possui sensibilidade suficiente para se descartar ou confirmar a presença de inflamação no fígado.

Graus de esteatose hepática

Geralmente, é possível quantificar a quantidade de gordura acumulada no fígado através da ecografia.

Assim:

Esteatose hepática grau 1 (leve) - quando há uma pequena acumulação de gordura;

Esteatose hepática grau 2 - quando há acumulação moderada;

Esteatose hepática grau 3 - quando há grande acumulação de gordura no fígado.

Estes estadios não têm muito peso, uma vez que o mais importante é a presença ou não de inflamação no fígado. O doente pode ter esteatose grau 3 e não apresentar inflamação hepática, mesmo após 20 anos de acumulação de gordura, o que o coloca sob baixo risco de evolução para cirrose.

Biópsia hepática

O único modo de se diagnosticar uma esteato-hepatite, com certeza, é através da biopsia hepática. Este procedimento costuma ser indicado apenas nos doentes com sinais clínicos, radiológicos e/ou laboratoriais de lesão do fígado.

Os indivíduos com um esteatose leve não precisam ser biopsiados. Portanto, se num determinado doente, a ecografia sugere esteatose hepática, mas não apresenta sintomas e não tem sinais de lesão hepática, é necessário apenas o acompanhamento anual para avaliar a progressão da doença. Por outro lado, não há necessidade de repetir exames de imagem, uma vez que estes não são bons para avaliar a progressão da esteatose.

Se houver sinais de esteato-hepatite, com sintomas ou alterações nos exames laboratoriais, deve-se pensar na hipótese da biopsia e o doente deve ser reavaliado a cada seis meses.

Tratamento do fígado gordo

Não existe tratamento específico para esteatose, por isso o alvo devem ser os factores de risco acima referidos. Quer isto dizer que devem ser tomadas medidas para alteração dos hábitos de vida e eliminar as causas que lhe estão a provocar a esteatose.

A perda de peso é, talvez, a mais importante medida. Todavia, deve-se limitar a perda de peso ao máximo de 1,5 kg por semana, com o propósito de evitar um agravamento do quadro. A prática regular de actividade física também ajuda muito, na medida em que diminui o colesterol e aumenta o efeito da insulina.

Em doentes com obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção.

O colesterol, a diabetes devem ser controlados e, se possível, substituir medicamentos que possam estar a contribuir para a esteatose.

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Fonte: 
mdsaude.com
Nota: 
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