Febre tifóide
Esta doença apresenta sintomas semelhantes a uma gripe ou constipação, nomeadamente febre, dores de cabeça, dores abdominais, obstipação e, em alguns casos, diarreia.
A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonella typhi. Caracteriza-se por febre prolongada, alterações do trânsito intestinal, aumento de vísceras como o fígado e o baço e, se não tratada, confusão mental progressiva, podendo levar ao óbito.
É uma doença exclusivamente humana cuja transmissão ocorre principalmente através da ingestão de água e de alimentos contaminados. Mais raramente, pode ser transmitida pelo contacto directo (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vómito ou pus proveniente de um indivíduo infectado. Após a contaminação, as bactérias invadem o intestino e daí espalham-se pela corrente sanguínea para diversos órgãos.
O tempo entre a exposição e o início dos sintomas (período de incubação) pode variar de 3 a 60 dias, ficando entre 7 e 14 dias na maioria das vezes. A infecção pode não resultar em doença.
A febre tifóide tende a ser mais grave em pessoas que permaneceram doentes por tempo mais prolongado, em desnutridos, em imunodeficientes, em portadores de doenças da vesícula biliar e em indivíduos com certas características genéticas.
A doença tem distribuição mundial, sendo mais frequente nos países em desenvolvimento, onde as condições de saneamento básico são inexistentes ou inadequadas. Estima-se a ocorrência de 12 a 33 milhões de casos por ano no mundo, com aproximadamente 600 mil óbitos.
Causas
A febre tifóide é provocada pela Salmonella typhi que penetra no organismo através do tudo digestivo.
Embora o contágio se costume efectuar através do consumo de líquidos ou alimentos contaminados, também pode ser realizado por contacto directo com os pacientes ou portadores saudáveis que não respeitem as devidas normas de higiene.
A acidez gástrica é o primeiro mecanismo de defesa do organismo contra a bactéria, mas quando consegue resistir à acidez do estômago, a Salmonella typhi chega ao intestino delgado, onde compete com as bactérias da flora normal intestinal. Se sobreviver, a Salmonella typhi invade a parede intestinal e alcança a circulação sanguínea. A presença da bactéria no sangue determina o início dos sintomas.
Embora o processo infeccioso costume desaparecer ao fim de um ou dois meses, período ao longo do qual as bactérias são eliminadas em cerca de 10 a 15 por cento dos indivíduos afectados, os microrganismos estabelecem-se de maneira persistente na vesícula biliar e, mesmo que não gerem complicações, continuam a ser eliminados essencialmente com as fezes - por isso, existem portadores saudáveis.
Diagnóstico
A confirmação do diagnóstico de febre tifóide é feita através de isolamento da bactéria, feito geralmente a partir de sangue, fezes, urina ou biopsia das lesões de pele. O isolamento de amostras da bactéria é fundamental, pois torna possível determinar a sua susceptibilidade aos antimicrobianos.
Sintomas
A maioria das pessoas infectadas pela Salmonella typhi permanece assintomática durante o período de incubação, usualmente 10 a 14 dias após ingestão de água ou alimentos contaminados, embora seja possível (em 10 a 20 por cento dos casos) a ocorrência de diarreia transitória.
Após esse período surge a febre, inicialmente baixa, mas torna-se progressivamente mais alta. Também é comum nesta fase a ocorrência simultânea de dor de cabeça (cefaleia intensa frontal ou difusa), dores pelo corpo, dor no abdómen, fadiga, perda de apetite, náuseas e alteração do trânsito intestinal - diarreia ou prisão de ventre. É também frequente a queixa de dor de garganta transitória e, por vezes, o surgimento de tosse seca.
Para além destas, existem outras manifestações que aparecem cerca de uma semana após o início dos sinais e sintomas, entre as quais se destacam um aumento do tamanho do baço e do fígado, o aparecimento de uma camada esbranquiçada na superfície da língua (língua saburrosa) e a erupção cutânea de pequenas manchas rosadas que revestem o abdómen e, por vezes, se estendem ao tórax, persistindo alguns dias.
Embora a doença costume desaparecer ao fim de quatro semanas sem originar complicações, existem casos em que, sobretudo quando não se procede ao devido tratamento, surgem complicações graves, por vezes mortais, entre as quais é possível destacar as hemorragias e perfurações intestinais, que podem originar uma peritonite e choque cardiovascular.
Pode-se igualmente produzir um quadro de desidratação, problemas neurológicos significativos e processos infecciosos localizados, tais como meningite, otite, colecistite, entre outros.
Tratamento
O tratamento baseia-se na administração de antibióticos activos contra o microrganismo causador da febre tifóide, medicamentos antipiréticos e anti-inflamatórios, que deve ser complementado com as medidas de apoio para melhorar o estado geral, como repouso, uma dieta ligeira e reposição de líquidos.
Nos casos leves e moderados, o médico pode recomendar que o tratamento seja feito em casa, com antibióticos orais. Os casos mais graves devem ser internados para hidratação e administração venosa de antibióticos de forma a prevenir e tratar oportunamente as eventuais complicações e, também, para manter o paciente isolado, de modo a evitar a propagação da infecção.
Por vezes, é necessário recorrer à realização de uma intervenção cirúrgica de emergência, por exemplo em caso de perfuração intestinal. Caso não surjam complicações, o tratamento costuma ter três ou quatro semanas de duração.
Sem tratamento adequado, a febre tifóide pode ser fatal em até 15 por cento dos casos. Para além disso, cerca de 2 a 5 por cento das pessoas, mesmo quando tratadas, tornam-se portadoras crónicas e podem eliminar a bactéria nas fezes durante até mais de um ano. Esta situação é particularmente frequente em menores de 5 anos, idosos e mulheres com doenças biliares.
Prevenção
O fundamental da prevenção desta doença consiste na realização de um controlo bacteriano da água de consumo, uma medida realizada regularmente nos países desenvolvidos, mas que nos países em vias de desenvolvimento ainda não é, infelizmente, muito comum, o que justifica o facto de a febre tifóide ser uma doença endémica nesses países.
Quando se viaja para estes países, é essencial adoptar várias medidas de precaução, tais como beber água previamente fervida, submetida a um processo de desinfecção, comer apenas alimentos cozinhados e não consumir frutas e verduras com casca.
A selecção de alimentos seguros é crucial. Em geral, a aparência, o cheiro e o sabor dos alimentos não ficam alterados pela contaminação com agentes infecciosos. Por isso, o viajante deve alimentar-se em locais que tenham condições adequadas ao preparo higiénico de alimentos. A alimentação na rua, com vendedores ambulantes, constitui um risco elevado. O consumo de alimentos como leite, manteiga, queijo e peixes são considerados de alto risco, pois possuem o pH ideal (4,4 a 7,8) para o crescimento da Salmonella typhi.
Por outro lado, as pessoas que pretendam viajar para áreas endémicas e as que nelas vivem devem vacinar-se contra a febre tifóide. Existem vacinas deste tipo, de administração oral ou parentérica, normalmente administradas em duas doses, embora actualmente exista uma vacina administrada numa única dose que, à semelhança das restantes, proporciona imunidade durante um ano.