Febre da carraça
Conforme a região geográfica, a febre recorrente transmite-se através dos piolhos do corpo ou das carraças. A febre recorrente transmitida por piolhos só ocorre em certas zonas da África e da América do Sul, enquanto a febre recorrente veiculada por carraças se verifica na América do Norte e do Sul, em África, na Ásia e na Europa.
Os piolhos do corpo infectam-se com estas bactérias quando se alimentam num indivíduo infectado; a infecção pode ser transmitida a outra pessoa quando os piolhos mudam de hospedeiro. Quando o piolho é esmagado, as bactérias libertam-se e entram na pele que entretanto foi arranhada ou mordida. As carraças infectam-se ao alimentarem-se de roedores, os quais albergam essas bactérias de forma natural. A infecção é transmitida aos humanos através da picada de uma carraça.
Sintomas e diagnóstico da febre da carraça
As pessoas expostas às bactérias podem não ter sintomas durante 3 a 11 dias (geralmente 6 dias). Os sintomas iniciais são arrepios súbitos seguidos de febre alta, ritmo cardíaco acelerado (taquicardia), intensa dor de cabeça, vómitos, dor muscular e das articulações e frequentemente delírio.
Nas primeiras fases pode aparecer uma erupção cutânea avermelhada sobre o tronco, os braços e as pernas. O médico pode encontrar vasos sanguíneos lesados na membrana que reveste o olho, a pele e as membranas mucosas. À medida que a doença avança, pode verificar-se febre, icterícia, hipertrofia do fígado e do baço, inflamação do coração e insuficiência cardíaca, especialmente na infecção causada por piolhos. A febre continua elevada durante 3 a 5 dias e depois desaparece bruscamente, à semelhança dos restantes sintomas.
Ao fim de 7 a 10 dias, a febre e os sintomas voltam a aparecer subitamente, em regra acompanhados de dor nas articulações. A icterícia é mais frequente durante uma recaída. A febre recorrente causada por piolhos costuma acompanhar-se de uma única recaída, ao passo que as recaídas múltiplas (de duas a dez vezes, com intervalos de uma a duas semanas) são mais características da doença causada por carraças. Os episódios tornam-se gradualmente menos intensos e, finalmente, o doente recupera e cria imunidade.
A febre recorrente pode confundir-se com muitas doenças, inclusive o paludismo/malária e a doença de Lyme. O padrão da febre recorrente é a chave para diagnosticar a doença. O diagnóstico é confirmado quando aparecem bactérias espiroquetas numa amostra de sangue recolhida durante um episódio de febre. Como as carraças se alimentam de forma rápida durante a noite e não causam dor, a pessoa pode não se recordar de ter sido picada por uma delas.
Prognóstico, prevenção e tratamento da febre da carraça
Menos de 5 % das pessoas com febre recorrente morrem; contudo, quem corre maior risco são os mais jovens, ou os de idade avançada e aqueles que se encontram desnutridos ou debilitados. As complicações da doença incluem inflamação ocular, ataques de asma e uma erupção cutânea de cor vermelha (eritema multiforme) por todo o corpo. O cérebro, a espinal medula e a íris do olho também se podem inflamar. Uma mulher grávida pode sofrer um aborto.
Para se proteger contra a febre recorrente causada pelos piolhos corporais é preciso pulverizar a roupa interior e a face interna da roupa de cama com pó de malatião ou lindano. As picadas das carraças são mais difíceis de evitar, porque, geralmente, os insecticidas e repelentes não têm nenhum efeito sobre elas. Contudo, os que contêm dietiltoluamida (para a pele) e permetrina (para a roupa) podem ser úteis.
O tratamento antibiótico com tetraciclinas, eritromicina ou doxiciclina cura a infecção. Apesar de o medicamento ser habitualmente tomado por via oral, pode administrar-se por via intravenosa se os vómitos forem muito intensos.
O ideal é que o tratamento comece de forma precoce durante a fase da febre ou então durante o intervalo sem sintomas. Começar a terapia perto do final do período de febre pode induzir uma reacção de Jarisch-Herxheimer, que produz febre elevada e um aumento da tensão arterial seguido de uma queda da mesma (por vezes até níveis perigosamente baixos). Esta reacção é característica nas pessoas cuja doença foi causada por piolhos e por vezes revela-se mortal.
A desidratação é tratada com soro fisiológico administrado por via intravenosa e, a dor de cabeça intensa, com analgésicos como a codeína. Para as náuseas pode administrar-se dimenidrinato ou proclorperazina.