Fatores genéticos e ambientais podem ser responsáveis pela Esclerose Múltipla
A esclerose múltipla muitas vezes denominada esclerose em placas é uma doença inflamatória, crónica do sistema nervoso central que se caracteriza por uma resposta anormal do organismo desencadeando um ataque imunológico contra determinadas células do sistema nervoso. A mielina é um dos alvos deste ataque imunológico. Trata-se duma bainha que cobre os neurónios isolando-os e fazendo com que o impulso eléctrico da transmissão nervosa se torne mais rápido. A sua lesão caracteriza-se por uma inflamação e posteriormente cicatrização, resultando numa interrupção da transmissão de ordens quer no cérebro ou na medula espinhal e surgem assim os sintomas da doença.
Não existe uma única causa identificada, na sua génese encontram-se vários factores genéticos e ambientais que juntos parecem contribuir para o desenvolvimento da doença.
Atinge mais frequentemente mulheres e as manifestações surgem entre os 30 e os 40 anos.
Sintomas:
Vários são os sintomas atribuíveis a esta patologia dos quais os mais frequentes são: alterações da visão (perda da visão num dos olhos ou visão dupla), diminuição da força ou da sensibilidade, vertigem e desequilíbrio na marcha.
Como diagnosticar:
O diagnóstico é suspeitado com base num exame neurológico anormal (exame clínico em que são testadas as várias funções do sistema nervoso central). A realização duma ressonância magnética encefálica e medular identifica as lesões resultantes quer da inflamação activa quer cicatrizes de lesões prévias e permite excluir outras doenças que podem ter os mesmos sintomas. A uma punção lombar pode detectar inflamação no líquido céfalo raquidiano (líquido que cobre o sistema nervoso).
Tipos de Esclerose Múltipla:
De acordo com as características clínicas podemos classificar a Esclerose múltipla em formas surto-remissão e formas primária e secundariamente progressivas.
A forma surto remissão é a mais frequente e caracteriza-se por défices neurológicos que surgem abruptamente (surto) que podem durar até 3 semanas e que recuperam totalmente após este tempo (por vezes a recuperação é parcial mas a incapacidade é mínima).
A forma secundariamente progressiva diz respeito à fase da doença para a qual pode progredir a anterior, isto é, após um curso surto remissão os surtos podem ser menos frequentes e a incapacidade começar a progredir de forma constante.
A forma primariamente progressiva caracteriza-se por incapacidade progressiva e cumulativa desde a fase inicial sem surtos clinicamente identificáveis.
Os estudos mostram que a taxa de progressão duma forma surto remissão para uma forma secundariamente progressiva aumenta ao longo do tempo (aos 25 anos de doença cerca de 80% dos doentes têm uma forma secundariamente progressiva). Existem casos que não progridem e atingem uma fase de remissão permanente
Os termos de Esclerose múltipla benigna e maligna dão-nos uma noção do comportamento da doença ao longo do tempo com base no grau de atividade e incapacidade da doença.
Estes termos aplicam-se a qualquer uma das fases anteriormente descritas mas podem ser traiçoeiros pois determinado doente cuja doença se tem apresentado como benigna a qualquer momento pode passar a ter um curso maligno.
Até à data não existe nenhum marcador biológico que nos permita saber que curso vai tomar a doença em determinado doente nem podemos antecipar nenhum surto. No entanto sabemos que a exposição prolongada a temperaturas excessivamente elevadas assim como a mudança brusca de temperatura podem aumentar a probabilidade de surtos ou agravar os sintomas preexistentes.
Tratamento:
Podemos dividir o tratamento destes doentes em tratamento modificador da doença, tratamento dos surtos e tratamentos de outros sintomas associados à doença.
O tratamento modificador da doença tem como objectivo diminuir a inflamação e degeneração do sistema nervoso central diminuindo o número e gravidade dos surtos assim como a incapacidade a longo prazo. Nos últimos anos assistiu-se a uma grande evolução neste tipo de terapêuticas e actualmente existem vários tratamentos disponíveis no mercado com bons resultados.
No tratamento dos surtos são usadas altas doses de corticoides cuja acção resulta numa diminuição da inflamação e numa recuperação mais rápida das crises.
Existem ainda os tratamentos sintomáticos que reduzem outros sintomas que vão surgindo com a doença como as dores, fadiga, depressão, rigidez muscular ou incontinência urinária e que melhoram a qualidade de vida destes doentes.
Viver com a doença
Saber em idade jovem que se tem uma doença crónica e potencialmente incapacitante é bastante difícil. Uma grande parte dos doentes tem medo de falar da doença pelo estigma social que representa.
A incapacidade não resulta do facto de ter a doença mas dos sintomas e sinais que se vão acumulando com o decorrer dos anos.
Os novos tratamentos diminuem significativamente a incapacidade associada a esta doença e muitos são os doentes que se mantem activos e autónomos com o passar dos anos.
Estes doentes necessitam de tempo para se tratarem. A inflexibilidade de horários e funções laborais acaba, por vezes, por levar à incapacidade para o trabalho. Alguns doentes têm possibilidade de adaptar funções e horários trabalhando a tempo parcial ou no domicílio.
Manter seguimento por neurologia e cumprir a medicação prescrita são alguns dos aspectos que o doente não deve descurar, assim como adoptar estilos de vida saudáveis com horários de sono, evicção tabágica, prática regular de exercício físico e alimentação equilibrada.