Faculdade de Medicina do Porto vai homenagear dadores de cadáveres
A cerimónia vai ter lugar às 15:00 no Serenarium do Cemitério de Agramonte, no Porto, local onde se encontram as cinzas dos dadores, no que a responsável pelo Departamento de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Dulce Madeira, espera que seja um momento simbólico que passe a ter lugar uma vez por ano.
Para a professora catedrática da FMUP, a cerimónia vai ter duas finalidades: “A primeira é obrigar as pessoas, os meus colaboradores e os meus estudantes a parar meia hora que seja para pensar neste assunto. Penso que para muitos dos meus alunos é a primeira vez que vão entrar num cemitério e, portanto, só isso vale mais do que muitas horas que a gente gasta a explicar a importância da doação cadavérica e o respeito que tem que se ter pelos cadáveres”.
Por outro lado, Dulce Madeira destaca que o objetivo é também dirigir-se aos dadores que estão vivos e seus familiares para lhes mostrar que são lembrados, num ato “da mais elementar justiça”.
A também investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde realçou que este ano tem assistido a um aumento significativo do número de cadáveres recebidos pela FMUP, salientando que recebem, em média, um formulário de doação por dia.
Ao contrário dos órgãos - em que qualquer pessoa, em caso de morte, é dadora desde que não se tenha manifestado contra em vida - para doar o cadáver é preciso que uma pessoa “em vida e no seu estado de consciência normal [tenha decidido] voluntariamente entregar o seu corpo para fins de ensino e de investigação”, havendo também conhecimento e consentimento por parte da família.
“Até há pouco tempo diria que recebia menos de 5% das doações”, constatou Dulce Madeira, que frisou que o aumento registado recentemente pode significar que “as pessoas agora estão mais sensibilizadas, não só para dar como para compreender que os seus familiares deram e respeitar a sua vontade”.
Os cadáveres ficam na posse da FMUP durante diferentes períodos e, quando terminado o processo de estudo e investigação, são, em geral, cremados e depositados no Cemitério de Agramonte.
“A doação de cadáveres para estudo e investigação é um ato de generosidade e filantropismo. Contribui para formar melhores médicos, com conhecimentos mais sólidos e de maior humanismo e, portanto, mais aptos a tratar dos vivos. Com esta homenagem, singela no seu recorte mas de profundo significado social, pretende-se manifestar um universal reconhecimento por este exercício de grada solidariedade humana”, sublinhou a FMUP.