Opinião

Europacolon: Desigualdade na acessibilidade ao rastreio e às políticas de prevenção continua a causar 4.000 mortes por ano

Atualizado: 
26/04/2017 - 11:19
Todos os anos são registados mais de 12 mil casos de cancro digestivo. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2015 morreram cerca de 4 mil portugueses com cancro colorretal, um número que preocupa o presidente da Europacolon. De acordo com Vítor Neves, o Plano Estratégico para implementação dos rastreios oncológicos continua por aplicar.

Com uma incidência de mais de 12 mil novos casos anuais e uma mortalidade que ronda os 1.700 óbitos em Portugal, o cancro digestivo continua subdiagnosticado. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados em 2015, morreram aproximadamente 4.000 portugueses com cancro colorretal, 2.300 com cancro do estômago e 1.400 com cancro do pâncreas.

São números preocupantes e que, no nosso entender, continuam sem solução à vista.

Em 2016 foi anunciado que o rastreio de base populacional iria arrancar nesse mesmo ano. Depois disso, foi ainda publicado um despacho que determinava que as ARS deveriam desenvolver iniciativas que visassem melhorar a taxa de adesão aos rastreios, garantir a sustentabilidade da sua execução, bem como informar os cidadãos da importância dos mesmos para a deteção precoce da doença.

Um ano depois, o Plano Estratégico para a implementação dos rastreios oncológicos de base populacional do Cancro do Intestino continua por aplicar.

Aquilo que sabemos é que apenas a ARS Norte implementou um projeto Piloto do cancro colorretal, abrangendo 3.000 pessoas, entre algumas faixas etárias dos 50 e 75 anos, em alguns centros de saúde das regiões de Valongo, Maia, Póvoa de Varzim e Vila do Conde, com a aplicação de dois métodos diferentes.

Esse mesmo projeto, após alguma reflexão, faz-nos levantar três grandes questões:

1º Continuamos preocupados a testar o melhor método para a aplicação dos rastreios de base populacional, quando o mesmo já foi encontrado à custa de várias iniciativas privadas promovidas pelas Associações de doentes e instituições como a Europacolon e as Farmácias Holon, por exemplo,  bem como na generalidades dos países europeus, respetivamente. O desafio que se impõe é tão simples como a sua aplicação a nível nacional;

2º Um dos modelos de captação que está a ser utilizado – é o envio de carta convite e kit de captação de amostras de fezes para casa dos utentes. Este modelo assume-se, segundo o nosso ponto de vista, como impessoal, redutor  e pouco incisivo. Dever-se-ia, pelo contrário, apostar numa maior abordagem e aproximação por parte dos profissionais de saúde nos cuidados de saúde primários, por forma a aumentar o diagnóstico precoce e a sensibilização para a importância da prevenção;

3º O projeto piloto esta a ser aplicado no norte do país, contudo o cancro do colon apresenta-se com maior incidência (2.563) nas regiões de Lisboa, Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, segundo dados do Registo Oncológico Regional – Sul, e este tipo de rastreio tem de abranger toda a área geográfica do nosso país.

Concluímos que, infelizmente, em Portugal continuamos a privilegiar a vertente curativa em detrimento de políticas de prevenção e a fomentar a iniquidade que se regista ao nível da acessibilidade ao rastreio e tratamentos!

Por outro lado, e não menos preocupante, temos a questão da realização das colonoscopias de seguimento ou diagnóstico sobretudo  na Grande Lisboa. Após vários anos de alerta continua a situação, com algumas melhorias, mas a ser insuficiente a resposta à concretização daqueles exames dado que, com a implementação do rastreio de base populacional a procura aumentará significativamente. Pesquisa de sangue nas fezes positiva exige que se faça colonoscopia de imediato….

Ao contrário do que acontece na maioria dos demais países europeus, em Portugal ainda não se encontra implementado um rastreio de base populacional tendo como alvo o cancro colorretal (CCR) que é, de entre as doenças oncológicas, a mais rastreável, aquela em que o rastreio apresenta a melhor relação custo/benefício.

Esta lacuna coloca o nosso país na cauda da Europa no que toca, quer à incidência, quer à mortalidade.

Recordamos que o cancro colorretal é o tipo de cancro em que o custo/benefício na implementação de medidas preventivas é mais positivo, o que implica que qualquer investimento nesta área trará uma poupança exponencial nos custos em saúde na área oncológica, para o tratamento de casos de estadios mais avançados e que requerem tratamento muito dispendioso.

A Europacolon foi fundada há uma década, ao longo da qual já morreram mais de 40 mil pessoas por cancro do intestino e outras tantas foram afetadas por tratamentos muito duros e com elevados custos sociais. Desenvolve atividades de sensibilização, junto da população, tentando aumentar a literacia em saúde em Portugal de forma a podermos dotar as pessoas de ferramentas que permitam ter atitudes que permitam  aumentar os níveis de prevenção e de diagnóstico precoce, e assim reduzir drasticamente os números da incidência e mortalidade através do conhecimento dos sintomas, da necessidade de rastreio, entre outras.

Autor: 
Dr. Vítor Neves - Presidente da Europacolon
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Europacolon