“Estamos no limite de manter segurança e qualidade”
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Pouco mais de um mês depois de os chefes de serviço do Hospital de S. João no Porto terem apresentado a demissão contra a degradação da instituição, os responsáveis médicos do Hospital de Garcia de Orta tornaram ontem públicas preocupações idênticas, revela o iOnline. Ao contrário do que se passou no Norte, a administração não se mostrou solidária e negou problemas graves, falando de “alarmismo desnecessário”.
A preocupação é dos 42 directores de serviço do Hospital de Almada e foi tornada pública após ter sido exposta numa carta ao Ministério da Saúde, ao parlamento e à Ordem dos Médicos. Nuno Campos, director do serviço de oftalmologia e representante da comissão médica do hospital, reiterou ao i que, após reflexão interna, decidiram tornar público um sentimento de apreensão que exige mudanças imediatas. “Estamos no limite de garantir segurança e qualidade”, avisa o médico, que não descarta que os profissionais venham a tomar mais medidas de contestação embora uma situação de demissão em bloco não tenha sido discutida inicialmente.
A incapacidade do hospital para contratar especialistas, mesmo os que ajuda a formar através dos internatos, e carências ao nível da manutenção dos equipamentos, com camas diferenciadas com 25 anos de utilização, são algumas das preocupações. Traduzem-se, segundo o médico, em demora na resposta em exames ou cirurgias, que a boa vontade, a diferenciação técnica dos profissionais e a resiliência não chegam para ultrapassar.
Além de maior capacidade para contratar pessoal diferenciado, os médicos defendem um reforço de financiamento da instituição. “Temos tido uma missão sobreponível a um hospital central, mas com financiamento de um hospital de província”, critica Nuno Campos.
Em comunicado, a administração informou que a qualidade da unidade foi reconhecida internacionalmente e que passaram de uma situação deficitária para um superavit, dizendo ainda que com a ajuda da tutela foi possível amortizar dívida e encurtar prazos de pagamento. “Os médicos preocupam-se com questões médicas e as administrações com eficiência e rentabilidade. Entendemos que isso pode ser conseguido com qualidade e achamos que a qualidade está em risco de se perder por falta de meios profissionais e por um parque tecnológico obsoleto”, contrapõe Nuno Campos, sublinhando que, havendo superavit, deve poder ser investido, o que não se tem verificado.
A denúncia surge numa altura em que o ministério ainda não divulgou que unidades vão ser alvo de reforço financeiro com os 300 milhões de euros anunciados no início do mês. Em comunicado, a administração reconhece que, face à limitação de recursos públicos, há dificuldades ao nível de renovação e manutenção de infra-estruturas, informando estar a tentar encontrar soluções com a tutela.
Nuno Campos sublinha que chegou o momento de inverter a “discriminação” da unidade no financiamento: “O investimento parou no tempo, mas sobre isso tem havido uma diminuição da capacidade operacional”. O i tentou perceber junto da tutela se a unidade vai ter um reforço financeiro mas não obteve resposta.