Doenças reumáticas atingem quase 6 milhões de portugueses

“Está na hora, não esperes pela demora”

Atualizado: 
17/12/2018 - 16:43
É com este lema que celebramos a 12 de outubro o dia mundial das doenças reumáticas. O objetivo é aumentar a visibilidade das doenças reumáticas e permitir ao público em geral uma melhor compreensão do impacto das doenças reumáticas (DR) na vida das pessoas. Pretendemos encorajar a partilha dos casos pessoais, da forma como convivem com as DR, como ultrapassaram os seus problemas profissionais, familiares e sociais por forma a encorajar os doentes reumáticos a viver com a melhor qualidade possível.

Procuramos o empoderamento do público em geral e dos doentes em particular, nas suas associações, em intervenções nas redes sociais e na vida pública.

No sector da saúde fazendo-se representar em todos os níveis de decisão e não apenas como meros espectadores das decisões que são tomadas sobre a sua saúde e sobre as suas vidas.

Aproveitem todas as oportunidades para AGIR e fazer a diferença na qualidade de vida dos doentes em Portugal.

Tomem o futuro nas vosssas mãos!

Este tem sido o exemplo da ANDAR associação nacional dos doentes com artrite reumatóide que há mais de 20 anos apoia os doentes com artrite reumatóide em Portugal.

Temos partilhado com os nossos doentes as grandes conquistas e descobertas no tratamento da artrite reumatóide (AR), e podemos mesmo dizer que nos últimos 15 anos, grandes avanços e progressos vieram modificar o prognóstico e a qualidade de vida na AR.

Os medicamentos inovadores chegaram em 2000 e com eles uma nova oportunidade para os doentes com AR em Portugal. Em 2006 termina a discriminação no acesso aos medicamentos inovadores com o despacho de comparticipação.

As palavras de “resignação” e “não há nada a fazer” são hoje substituídas por “foi o melhor que me aconteceu na vida”, “pena não ter começado mais cedo” “ nem me lembro que tenho artrite”.

Mas ainda não é a cura! Na AR a remissão da doença sem medicamentos é ainda uma quimera, e mais de metade dos doentes que param os biotecnológicos (BT) vêm agravar a sua doença no prazo de 1 ano…

Noutras doenças reumáticas também surgem avanços. Na artrite associada à psoríase novos medicamentos inovadores vêm enriquecer a panóplia dos BT. O Sekukinumab demonstra reduzir o dano estrutural após 1 ano de tratamento.

Na gota, novos fármacos apareceram como alternativa ao alopurinol, para além do Febuxostat, que têm mostrado eficácia e boa tolerância mesmo em doentes com insuficiência renal moderada a grave.

No Lupus, a remissão é possível após três anos em cerca de 1/5 dos doentes, mas recaídas podem ocorrer mesmo após 10 anos de remissão.

Novas enzimas (inibidores JAK) parecem tão eficazes como alguns BT.

Uma melhor compreensão pelos doentes do risco cardiovascular na AR parece ser importante, para além da correção dos fatores de risco conhecidos como a hipertensão e dislipidémia.

Novos marcadores de doença e fatores de risco são conhecidos na AR e fazem do diagnóstico precoce e do tratamento da artrite inicial uma vantagem no melhor prognóstico.

De duas doenças reumáticas muito frequentes, podemos mesmo dizer que “todos as teremos se vivermos o suficiente”. Refiro-me à Artrose e à Osteoporose.

Na Artrose, a mais frequente das doenças reumáticas em todo o mundo, com cada vez mais idosos e grandes idosos entre nós, cujo número ultrapassou pela 1ª vez os jovens e adolescentes, começam a aparecer fruto da investigação algumas promessas terapêuticas. Os dispositivos médicos (viscosuplementação) numa estratégia de “lubrificantes articulares” responde parcialmente, em muitos casos, nas articulações de carga e não só. Hoje em dia, muito em voga como “preventivo” na pré-epoca de alguns desportos profissionais, como é o caso do basquetebol nos EUA, e já também nalguns países da Europa.

Quanto à Osteoporose, é hoje um problema de Saúde Pública pelo número crescente de população atingida e pelas consequências das fraturas que dela resultam.

É, hoje, bem conhecido o risco de mortalidade aumentado quando surge uma fratura do fémur, sendo nos EUA a 7ª causa de morte!

Acresce que as fraturas vertebrais, que contribuem para aquela curvatura (tão detestada) da coluna dorsal, que surge mais frequentemente nas mulheres pós-menopausa, que nos vai tirando a altura e se correlaciona também com uma maior mortalidade.

A ocorrência de uma fratura vertebral osteoporótica aumenta em 25% o risco de nova fratura no espaço de um ano…

Também nesta área, além das medidas preventivas em todas as idades, com a alimentação e o exercicio ao longo da vida, os hábitos de vida saudável sem tabaco e sem muito alcóol, os cuidados com algumas doenças endócrinas (tiroide, suprarenal e paratiroideias), a demencia, e algumas doenças neurológicas.

Utilização crónica de alguns medicamentos como os corticóides, alguns medicamentos para o cancro e o «deficit» de vitamina D são também fatores de risco que os reumatologistas conhecem bem. Prevenir o risco de quedas é muito importante e independente da massa óssea.

Cuidados com a visão, toma de medicamentos que alterem o equilíbrio, a marcha instável, a audição, fraqueza muscular e falta de força nas mãos têm de ser avaliados.

As causas ambientais e na habitação devem ser acauteladas. A calçada portuguesa pode ser uma ratoeira fatal! Passeios escorregadios, com folhas ou piso polido. Tapetes e carpetes no quarto e em casa, a casa de banho e a banheira… os fios elétricos enrolados e nalguns casos até alguns animais domésticos (gatos que se enrolam nas pernas, cães que saltam…) podem ocasionar quedas e fraturas de alto risco.

A boa notícia é o aparecimento de novos medicamentos para a Osteoporose que surgem como alternativa aos já recomendados e com provas dadas.

Autor: 
Dr. António Vilar - Reumatologista Coordenador da Unidade de Reumatologia do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock