Especialista defende criação de entidade que reúna grupos de investigação de cancro
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Intervindo no primeiro dia de um simpósio promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), Fátima Cardoso, que pertence à direção da Sociedade Europeia de Oncologia Médica e é especialista em cancro da mama do Centro Clínico Champalimaud, defendeu a criação de uma instituição que funcione como "chapéu" dos grupos de investigação de diversos tipos de cancro, argumentando que "num país pequeno como Portugal, não faz sentido não ter um [grupo] para tudo".
Fátima Cardoso adiantou que este organismo, a que chamou Grupo Português de Investigação Oncológica, poderia funcionar sob a égide da SPO, admitindo, no entanto, que países de dimensão aproximada a Portugal, como a Bélgica - onde também exerce funções diretivas na Organização Europeia de Investigação e Tratamento do Cancro (EORTC) - não possuem um grupo nacional de investigação.
"Mas tem uma rede de instituições com muita experiência, públicas e privadas", esclareceu.
O primeiro dia da reunião da Sociedade Portuguesa de Oncologia, que decorre até sábado, foi dedicado ao 1º Encontro de Internos e Jovens Especialistas, desafiados por Fátima Cardoso a contribuírem para a criação do grupo nacional: "isto deve ser feito pela nova geração", argumentou.
Antes, em resposta a uma questão suscitada na plateia, que defendia a existência de "tempo protegido" para investigação dissociado da prática clínica, Fátima Cardoso frisou que isso "não existe", nem em Portugal nem noutros países.
"Se estão à espera de ter tempo protegido para a investigação, então não vão fazer nada. [Esse tempo] será à noite, será aos fins de semana, será tempo tirado à família, não será tempo retirado à clínica. Eu nunca tive, nem aqui, nem na Bélgica, nem nos EUA. O que é preciso é simplificar a investigação, de forma a poder ser incorporada na prática clínica", disse a especialista.
O simpósio nacional da SPO é subordinado ao tema "Reflexões para o Futuro" e a comunidade oncológica nacional reúne-se para debater as inovações ao nível do diagnóstico e do tratamento do cancro.