Equipa de investigadores sensibiliza para a prevenção da infertilidade
Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, acredita que este é apenas um passo para aumentar o conhecimento e que o envolvimento dos profissionais de saúde reprodutiva na prevenção é crucial.
Estes vídeos estão a ser testados pela equipa em ensaios randomizados controlados há mais de um ano, envolvendo mais de uma centena de casais. Ainda são aceites voluntários, bastando para isso aceder à página de facebook ‘Casais e famílias em construção’.
Na sequência de uma revisão sistemática publicada pela equipa no Upsala Journal of Medical Sciences (1), que aponta para a importância de informação personalizada neste domínio, a equipa desenvolveu um vídeo informativo para que os jovens casais e mulheres a considerar terem filhos no futuro se possam informar acerca das principais causas de infertilidade e quais os comportamentos preventivos que podem adotar.
Sendo o aumento da idade materna a principal causa de problemas ao nível da conceção espontânea (não esquecendo que há também evidência recente da influência da idade paterna), “é importante que os jovens casais reflitam sobre como priorizar a transição para a parentalidade quando estão a pesar todos os outros fatores na balança como a carreira, formação e estabilidade económica”, adianta Juliana Pedro.
“Não temos a pretensão que as pessoas comecem a ter mais filhos e mais cedo, mas que apenas estejam conscientemente informados acerca da idade ideal na qual devem começar a planear uma família – por exemplo, sabemos hoje que se a família pretendida contemplar um filho, a idade máxima da mãe recomendada para engravidar deve ser 32 anos, e no caso de serem desejados dois filhos não deve ultrapassar os 27”.
O segundo vídeo é dirigido já para os casais que estão a tentar conceber um filho, no sentido de detetar o melhor momento conducente a uma gravidez espontânea enquanto se enfrenta o stress relacional inerente a vários meses de tentativas falhadas. “O planeamento familiar em Portugal infelizmente ainda não contempla informação sobre como planear uma família, consiste na maioria dos casos em informar e prescrever no sentido de evitar uma gravidez”, afirma Mariana Martins, coordenadora da secção de Psicologia da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.
“Num estudo anterior (2) reunimos evidência de que a população jovem mantém expetativas elevadas acerca da facilidade de procriar, quer seja espontaneamente, quer com recurso às técnicas de reprodução assistida”. Estes dados revelaram que os jovens adultos acreditam que a probabilidade de uma mulher de 25 anos engravidar se estiver na fase de ovulação é de 85%, quando na verdade é de 35%. O mesmo acontece quando se pergunta qual a probabilidade de uma mulher de 35 anos engravidar recorrendo à procriação assistida, tendo os jovens dado uma resposta média na ordem dos 60%, muito acima da percentagem real de 25%.
A equipa atribui estas falsas perceções à educação sexual, que ainda é centrada na prevenção da gravidez, e ao mediatismo de certos casos que recorrem a estas técnicas fazendo com que pareça fácil (sendo o exemplo mais carismático em Portugal o de Cristiano Ronaldo).
(1) Pedro J, Branda o T, Schmidt L, Costa ME & Martins MV. What do people know about fertility? A systematic review on fertility awareness and its associated factors, Upsala Journal of Medical Sciences. 2018, 123(2): 71-81.
(2) Conceição C, Pedro J, Martins MV. Effectiveness of a video intervention on fertility knowledge among university students: a randomised pre-test/post-test study. The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care. 2017 22(2):107-13.