Enfermeiros são os funcionários públicos mais mal pagos
“São, de todos os funcionários públicos, aqueles em que a relação formação-salário é mais desequilibrada, isto é, que ganham menos na relação com a sua formação da força de trabalho”, sublinha, num artigo hoje publicado no nº 40 da revista Enfermagem e o Cidadão.
Para a Coordenadora do Grupo de Estudos do Trabalho da Universidade Nova de Lisboa, além disso, os enfermeiros estão também ameaçados pelas mudanças das relações laborais, que afectam todos os sectores.
Por vezes – acrescenta - também são despedidos como trabalhadores fixos para serem contratados como trabalhadores precários, “a ganhar em média 30 a 40 por cento menos” de salário.
Não obstante essas condições, “os enfermeiros portugueses são expostos a uma brutalidade de turnos em regime de horas extraordinárias porque assim evita-se a contratação de novos profissionais”, acentua num artigo com o título Enfermeiros, o que parece e o que é.
“Tem sido na sua resistência física e moral que repousam os cuidados (prestados aos cidadãos) e não na protecção laboral que lhes é devida”, realça a historiadora Raquel Varela.
Para a Coordenadora do Grupo de Estudos do Trabalho da Universidade Nova de Lisboa, os cuidados de enfermagem “são essenciais e deviam ser ampliados, em nome de uma correcta gestão dos fundos públicos”.
Refere, como exemplo, que doentes acamados com menos cuidados vão ter mais doenças, ou doentes seguidos no período pós tratamento hospitalar têm menos probabilidade de ter reincidências/recaídas não programadas.
“Os exemplos de investir em cuidados de enfermagem são quase infinitos. E todos eles acarretam melhores condições laborais para os enfermeiros, melhores cuidados de saúde para a população e gestão mais eficiente dos orçamentos públicos de saúde”, acrescenta.
Na sua perspectiva, o Estado não pode alegar insuficiência de recursos para fazer essa mudança, pois iria criar mais eficiência e uma diminuição ou contenção de custos.
Reportando-se a dados do PIB de 1995 a 2010, a investigadora Raquel Varela conclui que a “subcontratação e serviços privados dentro do SNS têm criado simultaneamente menos produtividade e mais lucro – tudo à custa dos salários dos profissionais de saúde”.
A revista Enfermagem e o Cidadão é editada pela Secção Regional do Centro (SRC) da Ordem dos Enfermeiros (OE). Com uma tiragem de 14 mil exemplares, hoje é distribuída gratuitamente aos cidadãos do Centro de Portugal.
No editorial, o Presidente da Mesa da Assembleia Regional da SRC, Enfº Rui Cruz, critica a crise de valores na sociedade português, que também é intrínseca à área da saúde.
“Num País onde a qualidade dos cuidados de saúde melhorou ao longo de muitos anos, assiste-se hoje ao ‘desmantelar’ progressivo dessa realidade. Cuidados de proximidade cada vez mais distantes. Cuidados diferenciados cada vez mais caros (para o contribuinte e para o doente). Cuidados de emergência cada vez difíceis. Num País pequeno como o nosso, o conflito de ‘interesses’ parece ser muitas vezes sobreponível ao interesse do cidadão”, refere
Sob o título “É o País que temos... ‘Fujam todos!...’”, o dirigente da OE escreve que o país não cria as condições para que profissionais de saúde, com qualidade diferenciada, possam atender o cidadão naquela que porventura será a maior das suas necessidades, a de cuidados clínicos de emergência.
Mas, “em vez disso, discute-se hoje nos meandros de decisão como (e o quê!) colocar alguém, sem a formação adequada, a executar actos para os quais não estão habilitados” na área da emergência.
Na edição da revista são publicadas artigos de divulgação sobre várias temáticas, designadamente sobre o Testamento Vital, entrevistas a enfermeiros autarcas e músicos, e uma reportagem à Unidade de Diabetes do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, que inclui um testemunho na primeira pessoa de uma jovem diabética.
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