Em Portugal quase metade dos idosos ouve mal
Em Portugal, os dados do último Inquérito Nacional da Saúde e Exame Físico de 2015 (INSEF 2015), apontam para mais 1.6 milhões de portugueses com dificuldades auditivas entre os adultos dos 25 aos 75 anos de idade, aproximadamente 23% dessa população. A prevalência é ainda maior nos idosos entre os 65 e 75 anos, em que 4 de cada 10 idosos (40%) apresentam dificuldades para ouvir uma conversa normal, mesmo em ambientes silenciosos.
As dificuldades auditivas estão directamente relacionadas às dificuldades na comunicação, pois podem limitar a escuta de uma música da qual apreciamos, dos elogios que recebemos, como também dos sons de perigo ou da fala de um professor. O facto é que a perda auditiva não tratada é incapacitante, e em pessoas que não possuem outros meios de linguagem, nomeadamente a gestual, ou tratamento adequado apresentam dificuldades de aprendizagem na infância e maior risco de isolamento social e depressão em todas as idades.
O impacto social e emocional da perda auditiva é preocupante, e quando relacionada ao aumento da idade, geralmente evolui de maneira lenta e progressiva, dificultando o seu diagnóstico precoce. Toda gente conhece aquele vizinho reformado que escuta a televisão nas alturas ou aquela senhora que sempre pede para repetir aos gritos o que você acabou de dizer, e sabemos que muitos de nós apenas dizemos “Ah! É da idade.”. Mas são esses os sintomas que podem aumentar em até 5 vezes o risco de se desenvolver a demência, a depender do grau da surdez.
Sabemos que a esperança de vida à nascença em Portugal tem vindo a aumentar nas últimas décadas e espera-se com isso o aumento das perdas auditivas relacionadas ao aumento da idade. Mas, Portugal ainda é um dos países europeus que encontra-se abaixo da média em relação aos anos de vida saudável acima dos 65 anos, ou seja, vivemos muito anos mas com pouca qualidade de vida.
O que é muito importante saber é que a idade não é um factor limitante para o tratamento das dificuldades auditivas, nem nas crianças e nem nos idosos, mesmo em tratamentos mais invasivos como as cirurgias.
Existem diversas soluções para a grande maioria das perdas auditivas, como a realização de cirurgias, as terapias da fala, o uso de dispositivos externos e implantados, que evoluíram muito nas últimas décadas, e são cada vez mais realizados no mundo e em Portugal. Com a finalidade de melhorar a qualidade da saúde auditiva e de vida das pessoas, os tratamentos são cada vez mais frequentes nos idosos.
Fique atento à sua saúde auditiva e das pessoas próximas de si: ao apresentar ou identificar sintomas de dificuldades auditivas nas conversas normais em ambientes silenciosos ou notar a necessidade de aumentar o volume de diversos dispositivos para ouvir melhor, fale com um médico. Uma boa saúde auditiva é importante para toda gente!
*este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, por opção dos autores
Autores:
Dra. Tammy Messias Takara – Médica Interna de Saúde Publica
Dr. Guilherme Machado de Carvalho e Dr. Sousa Vieira - especialistas em otorrinolaringologia Hospital Lusíadas Porto