Duplicaram os estrangeiros que procuram suicídio assistido
Cada vez há mais europeus a recorrer a organizações suíças que promovem o suicídio assistido, em que os doentes ingerem medicação letal fornecida após ser avaliado o seu desejo de pôr fim à vida por causa da situação em que se encontram. Uma análise de investigadores da Universidade de Zurique divulgada ontem revela que só neste cantão suíço o número de estrangeiros que morreram desta forma duplicou entre 2008 e 2012, de 86 para 172. Entre os 611 casos encontram-se três portugueses que neste período solicitaram o apoio da Dignitas, escreve a edição digital do jornal i.
Na Suíça o suicídio assistido é legal desde 1942, mas os investigadores avisam que o enquadramento jurídico tem algumas "zonas cinzentas", nomeadamente relativo às circunstâncias e critérios em que é aceitável fornecer a medicação aos doentes. Por outro lado, alertam que o facto de países como a Alemanha ou Inglaterra terem reforçado as restrições a esta prática, que na maioria dos países europeus não tem legislação própria, poderá estar a contribuir para o crescimento de um fenómeno que classificam como um caso único de "turismo do suicídio" que carece de estudos e debate.
A análise teve por base dados do Instituto de Medicina Legal de Zurique, que investiga todos os casos de forma supervisionar em que circunstâncias ocorrem e regular um sector que conta com seis organizações que todos os anos ajudam 600 pessoas a pôr fim à vida, 150 a 200 de nacionalidade estrangeira. Isto porque embora a prática seja permitida, deontologicamente os médicos estão proibidos de participar em casos em que os doentes não têm um prognóstico terminal. Por outro lado, incitar o suicídio é punível com pena de prisão até cinco anos. Os autores deste estudo concluíram no artigo que actualmente cada organização tem os seus critérios de admissão, nem sempre claros. Com base nos dados recolhidos no Instituto de Medicina Legal, os investigadores constam que parecem estar a aumentar as situações em que não estavam em causa patologias fatais mas doenças crónicas, sobretudo do foro neurológico e reumatóide como é o caso de Alzheimer, osteoporose ou fibromialgia.
Entre os 611 casos analisados encontraram ainda 40 ficheiros clínicos onde se incluía nas razões para o suicídio assistido problemas de visão e/ou audição e 14 de doença mental. As doenças oncológicas surgem como razão dominante, com 217 casos, sensivelmente um terço. Julian Mausbach, autor do estudo publicado na revista médica Journal of Medical Ethics, adiantou ao i contudo que esta é uma análise preliminar e ainda não é possível perceber exactamente o que motivou os pedidos, já que um terço dos ficheiros apresentavam várias razões para o suicídio assistido.
De acordo com o estudo, mais de um terço das pessoas que morreram desta forma eram alemães (268), seguindo-se britânicos (126), franceses (66) e italianos (44). Os investigadores assinalam que ao todo foram detectadas 31 nacionalidades e que a abrangência do fenómeno deve motivar uma reflexão nos países de origem. Segundo o último balanço da Dignitas, a principal organização a que recorrem os estrangeiros, em 2013 realizaram-se um recorde de suicídios assistidos (205). Em Dezembro estavam inscritas na organização 6924 pessoas, entre as quais 23 portugueses.