Factores de risco psicossociais

Doenças profissionais

Atualizado: 
24/04/2014 - 12:27
Avaliar e identificar as doenças profissionais associadas aos factores psicossociais centra-se sobretudo na dificuldade de definir barreiras: onde começam e onde acabam?
Doenças profissionais

O trabalhador em contexto de trabalho age influenciado não só pelas condições e características da situação de trabalho, como seja o espaço físico, o sistema técnico e organizacional, e outras estruturas e processos organizacionais, mas igualmente, e de modo determinante, pelas suas condições de vida. É na interacção destas dimensões que, segundo alguns autores, se situam os factores de risco psicossociais para o desenvolvimento de algumas doenças profissionais.

Ou seja, as doenças profissionais não são unicamente influenciadas, nem apresentam apenas manifestações ao nível da capacidade física do trabalhador. Pelo contrário "disfuncionamentos do foro psicossomático, perda de auto-estima, problemas familiares e de enquadramento socioprofissional são declarações evidentes de distúrbios no contexto profissional, apresentando-se como factores de risco psicossociais e produto dos mesmos, porém invisíveis.

A verdade é que dimensões como o stress ou o consumo de álcool e drogas no trabalho revelam-se em simultâneo como factores de risco e problemas de saúde, e contribuem para o aumento da probabilidade e predisposição à ocorrência de acidentes de trabalho e doenças profissionais devido ao impacto nas defesas do trabalhador, na sua capacidade de atenção, concentração e respostas.

No que toca ao consumo de álcool e drogas há diferentes abordagens e opiniões, e enquanto uns defendem tratar-se de um problema de saúde relacionado com o trabalho, que deve ser encarado e analisado como tal, ainda que não seja classificado como doença profissional, outras abordagens defendem tratar-se de um factor de risco psicossocial. Sabe-se que em muitos casos o consumo é muitas vezes a manifestação de problemas associados às condições de trabalho e surge em resposta às mesmas, como seja o stress no trabalho, o emprego precário, o trabalho monótono, o trabalho por turnos e o trabalho nocturno.

Seja como for, o facto é que o consumo de álcool e drogas pode contribuir para a ocorrência de acidentes de trabalho em consequência de dificuldade de coordenação física dos movimentos, diminuição dos níveis de atenção, concentração e capacidade de resposta, particularmente grave no caso dos trabalhadores que manuseiam máquinas e veículos motorizados.

O aumento do absentismo, a diminuição do rendimento e produtividade, os problemas disciplinares, a maior frequência na mudança de pessoal com custos de formação e contratação associados e danos na reputação da empresa, apresentam-se como as principais consequências negativas no local de trabalho. Ao passo que a deterioração da saúde e das relações interpessoais surgem como os impactos negativos no trabalhador. 

Violência no trabalho
As fontes da violência no trabalho podem ser internas à organização ou partir do exterior da mesma, tendo em qualquer um dos casos como destinatário o trabalhador. Este pode ser vítima de violência física ou psicológica resultante de agressões verbais, insultos, ironias e outras formas com elevado impacto psicológico para o trabalhador. Enquanto a primeira (física) sempre foi reconhecida, a segunda (psicológica) é subestimada, no entanto o mais frequente é que os dois tipos ocorram em simultâneo.

A desmotivação, o stress e o prejuízo da saúde psicológica como seja a ansiedade, a depressão, o isolamento e manifestações psicossomáticas, são os principais resultados da vivência de violência em situação de trabalho por parte da vítima sujeita à mesma.

Contudo, verificam-se outras manifestações como sejam:

• Efeitos cognitivos que se traduzem em problemas de concentração
• Diminuição da auto-confiança
• Reacções de medo
• Insatisfação profissional.

A violência sexual e a violência racial constituem-se como outras duas formas de violência, assumindo muitas vezes a forma de piadas e insultos que afrontam a dignidade do trabalhador no seu contexto de trabalho, conduzindo-o a experimentar sentimentos de medo, raiva e falta de confiança no seu trabalho, bem como deterioração e insatisfação com as relações interpessoais. No quadro europeu a legislação europeia reconhece progressivamente, e de modo intenso, o assédio sexual como forma de violência no trabalho.

Uma outra forma que a violência pode assumir, consiste na intimidação ou assédio moral no trabalho. Trata-se de um conceito introduzido pela francesa Marie-France Hirigoyen, que lutou pela sua inclusão em França e que pretende significar a exposição prolongada e repetida dos trabalhadores a um conjunto de críticas, insinuações e desqualificações ao longo do seu tempo de trabalho, que vitimizam o trabalhador, afectando a sua performance profissional e resultando no seu pedido de demissão ou na antecipação da reforma.

As principais consequências para as vítimas de assédio moral residem em sintomas físicos, mentais e psicossomáticos, como o "stress, a depressão, a reduzida auto-estima, a culpabilização, as fobias, as perturbações de sono, e os problemas digestivos (náuseas, perda de apetite, etc.) e músculo-esqueléticos”. Irritabilidade, problemas de memória e concentração, bem como o desenvolvimento de comportamentos agressivos, são outras das manifestações dos efeitos a que as vítimas deste tipo de violência estão sujeitas.

Ainda no contexto dos factores de risco psicossociais é importante referir a discriminação a que os trabalhadores eventualmente poderão estar sujeitos, justifica sintomas de ansiedade, stress e depressão associados, que estarão na origem de uma maior predisposição à ocorrência de acidentes de trabalho e de desenvolvimento de doenças profissionais, conduzindo do mesmo modo ao abandono da situação de trabalho por parte dos trabalhadores vítimas deste tipo de discriminação. 

Factores relacionados com o stress
No domínio da saúde no trabalho, um dos conceitos mais amplamente objecto de estudos e análises é o stress, uma vez que reconhecidamente apresenta consequências indesejáveis para a saúde dos trabalhadores, bem como para as empresas em que trabalham.

Caracteriza-se por stress o "conjunto de factores que provocam uma determinada reacção no organismo humano”. Este conceito não se manifesta unicamente através de estados fisiológicos (problemas cardíacos, hipertensão, úlceras e colites nervosas, dores generalizadas e problemas gastrointestinais), mas também psicológicos (depressão e ansiedade), sendo que muitas das causas do stress ao nível da organização são também consequências do mesmo, sendo difícil identificar onde começa a manifestação do stress provocada por um factor e onde acaba a de um outro.

Assim, o stress surge associado à concepção e gestão da organização do trabalho, entre os quais se encontram:

• Ritmos de trabalho impostos
• Trabalho por turnos
• Trabalho nocturno
• Ausência de controlo sobre o trabalho, pausas e férias
• Movimentos e tarefas repetitivos
• Horários de trabalho

O assédio moral, a violência no trabalho e os riscos físicos, como o ruído e a temperatura, podem estar também na origem de sintomas de stress no trabalho, conduzindo a quadros patológicos como a depressão, a ansiedade, o nervosismo, a fadiga, problemas cardíacos e distúrbios da produtividade, criatividade e competitividade. 

Principais factores de risco psicossociais:

• Violência no trabalho;
• Intimidação ou assédio moral;
• Discriminação (por género, idade, etnia, nacionalidade, deficiência, orientação sexual, etc.);
• Relações hierárquicas;
• Factores relacionados com o stress;
• Consumo de álcool e drogas no local de trabalho;
• Satisfação profissional;
• Exigências muito altas ou muito baixas em relação às competências;

Fonte: 
Relatório do Estudo "Programa de apoio à manutenção e retorno ao trabalho das vítimas de doenças profissionais e acidentes de trabalho"
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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