Factores de risco que contribuem para o seu aparecimento

Doenças profissionais

Atualizado: 
15/04/2014 - 09:51
Conhecer os factores de risco que estão na origem das doenças profissionais pode ajudar a criar condições para a sua prevenção.
Doenças Profissionais factores de risco

No exercício da actividade laboral são muitos os riscos e doenças a que os trabalhadores estão expostos se não for executada em condições adequadas. Uma doença profissional em nada se distingue das outras doenças, a não ser pelo facto de ser desenvolvida em ambiente laboral. Por isso, uma doença profissional é aquela que resulta directamente das condições de trabalho.

Existe em Portugal, devidamente aprovada, uma extensa lista de doenças profissionais que resultam de diferentes e diversos factores de risco. Qualquer doença que não conste dessa lista será considerada como tal, desde que se prove ser consequência necessária e directa da actividade exercida e não representem normal desgaste do organismo.

São vários os factores de risco que podem estar na origem das doenças profissionais. Desde os agentes físicos, químicos, passando pelas causas biológicas até aos associados a riscos específicos.

Analisam-se abaixo os riscos associados aos equipamentos, à movimentação de cargas, riscos específicos e risco ergonómico. 

1. Equipamentos
Os equipamentos de trabalho (máquinas, ferramentas, equipamentos) têm automaticamente associados à sua existência riscos para o trabalhador, quer estes provenham do próprio uso na execução das tarefas, quer decorram do seu transporte, reparação, transformação, manutenção e conservação, incluindo a limpeza.

Quando o trabalhador manipula algum tipo de equipamento está sujeito a riscos por inerência da construção do próprio equipamento. Desta forma, as lesões mais frequentemente ligadas à utilização dos equipamentos centram-se em:

• Electrocussão
Queimaduras
• Esmagamento e entalamento
• Cortes
• Perda de visão
• Perda de audição

Para que estes riscos possam ser eliminados, ou no mínimo reduzidos, a entidade empregadora deverá assegurar que os equipamentos de trabalho são os adequados e que estão convenientemente adaptados para a execução do trabalho em condições de segurança e saúde para os trabalhadores. 

2. Movimentação de cargas
Muitos trabalhadores no seu local de trabalho estão em permanente contacto com os mais diversos tipos de cargas, e a maneira como estes as movimentam tem influência na sua segurança. A movimentação de cargas pode ser efectuada manual ou mecanicamente, determinando, assim, a presença de dois factores de risco a analisar: o transporte manual e o transporte mecânico de cargas. 

2.1 Transporte manual de cargas
Entende-se por movimentação ou transporte manual de cargas, qualquer operação de transporte e sustentação de uma carga, por um ou mais trabalhadores, que devido às suas características ou condições ergonómicas desfavoráveis, comporte risco (s) para os mesmos, nomeadamente na região lombar.

Desta forma, os riscos inerentes ao transporte manual de cargas estão intimamente ligados com os factores de risco ergonómicos devido à sua complementaridade.

As principais lesões derivadas do transporte manual de cargas são as relacionadas, maioritariamente, com a região dorso – lombar, no entanto, podemos assinalar outras, tais como entorses, esmagamento e cortes.

Sendo assim, a entidade empregadora terá de tomar medidas apropriadas de forma a eliminar ou minimizar os riscos inerentes à actividade de movimentação manual de cargas. 

2.2 Transporte mecânico de cargas
A movimentação mecânica de cargas traduz-se no manuseamento das cargas (movimentação e/ou elevação) por parte dos trabalhadores, socorrendo-se do uso de um equipamento de trabalho para execução dessa tarefa.

Os riscos aos quais o trabalhador está exposto serão idênticos aos riscos associados ao transporte manual de cargas. Contudo, aos riscos referentes aos equipamentos de trabalho acrescem outros que põem em causa a integridade física do trabalhador e que exigem por parte da entidade empregadora medidas adicionais de segurança. Esses poderão ser o risco de colisão e o de capotamento. 

3. Riscos específicos
Na condução normal das actividades laborais, os trabalhadores deparam-se com factores de risco que estão sempre presentes em praticamente qualquer actividade que executem, por exemplo, o risco eléctrico e o risco de incêndio/explosão. 

3.1 Risco eléctrico
Apesar da frequência dos acidentes eléctricos ter pouca expressão, em termos numéricos face a outro tipo de acidentes e com tendência regressiva na maior parte dos países industrializados, importa referir que a passagem da corrente eléctrica através do corpo humano pode determinar numerosas alterações e lesões temporárias ou permanentes, que actuam sobre as mais diferentes partes do corpo humano, como sejam, os vasos sanguíneos, o aparelho auditivo, o sistema nervoso central, o sistema cardiovascular, etc.

Os efeitos mais frequentes e mais importantes que a electricidade produz no corpo humano e que contribuem para a definição dos limites de perigosidade são essencialmente:

• Tetanização
• Paragem respiratória
• Fibrilação ventricular
• Queimaduras 

Tetanização
Tetanização é a contracção completa (contracção do músculo provocada pela acção de um estímulo eléctrico) existindo uma crispação permanente. Ou seja o indivíduo já não consegue largar o objecto em tensão, podendo em alguns casos originar a morte deste. 

Paragem respiratória
Quando o tempo de passagem da corrente eléctrica é prolongado, o organismo humano entra em paragem respiratória, ocorrendo dificuldades respiratórias e sinais de asfixia, que poderão conduzir à morte. Assim sendo, é fundamental que com a maior rapidez possível (3 a 4 minutos) se efectue a respiração artificial, de modo a evitar lesões irreversíveis no tecido cerebral. 

Fibrilação ventricular
O coração é autónomo no seu funcionamento, no que diz respeito aos impulsos eléctricos gerados no nódulo sinusidal (ponto de origem dos impulsos eléctricos do coração) que o comandam. Quando ao seu funcionamento normal se sobrepõe um elemento perturbador (corrente eléctrica mais elevada), naturalmente que surgirá uma perturbação ao nível dos ventrículos, passando as fibras destes a contraírem-se de forma desordenada. A este comportamento chama-se então fibrilação ventricular, que constitui a principal causa da morte por acção da corrente eléctrica.

A fibrilação ventricular foi, durante muito tempo, um fenómeno praticamente irreversível, ou seja, ainda que a causa que a produziu cessasse, persistia a morte do indivíduo. Hoje em dia, e com o aparecimento do desfibrilador, pode conseguir-se a recuperação da vitima, parando a fibrilação. No entanto, há limites para a utilização deste equipamento e, para tal, o nível de prontidão e os primeiros socorros (massagem cardíaca e respiração boca à boca) tornam-se auxiliares essenciais para a utilização do desfibrilador com uma alta taxa de sucesso, na salvaguarda da vida humana. 

Queimaduras
As queimaduras são, vulgarmente, a consequência mais frequente dos acidentes relacionados com a electricidade, e são aquelas a que os trabalhadores estão mais sujeitos, quer pela utilização de máquinas nas suas actividades, quer pelo contacto com outras fontes de energia nos locais de trabalho.

Como lesões mais frequentes relacionadas com a corrente eléctrica pode-se assinalar:

• Queimaduras
• Lesões cardíacas
• Lesões cerebrais 

3.2 Risco incêndio/explosão
O risco de incêndio/explosão está presente em praticamente todos os contextos de trabalho, desde o manuseamento de equipamentos até à armazenagem de matérias-primas ou produtos e, como tal, representam um factor de risco relevante.

As principais lesões são:

• Queimaduras
• Asfixiamento
• Esmagamento por quedas de objectos (provocada maioritariamente por explosões)
• Cortes

As medidas de prevenção a implementar passam, entre outros, por:

• Dar formação e fornecer informação aos trabalhadores de como deverão actuar em caso de incêndio/explosão;
• Efectuar simulacros de incêndio/explosão;
• Utilizar meios extintores adequados à actividade da organização (extintores, detectores de fumo);
• Utilizar equipamentos adequados de protecção (colectiva e individual);
• Armazenar adequadamente as matérias e materiais, químicos perigosos, explosivos e tóxicos;
• Colocar sinalização de segurança adequada;
• Possuir um plano de segurança adequado. 

4. Risco ergonómico
Os factores de risco ergonómico, muitas vezes interligados e confundidos com os factores de risco físico, dos quais não se podem separar, são maioritariamente decorrentes da organização e da gestão das situações de trabalho.

Assim, nesta categoria, podemos identificar como factores de risco ergonómico aos quais os trabalhadores se encontram expostos:

• As posturas adoptadas
• O esforço físico
• A manipulação das cargas
• Os movimentos repetitivos
• As actividades monótonas 

4.1 Posturas adoptadas e esforço físico
As posturas adoptadas pelos trabalhadores no seu desempenho profissional, ao nível das funções e actividades físicas e manuais, obrigam à adopção de posturas como:

• Hiperflexão ou hiperextensão da coluna dorso-lombar
• Sobrecargas musculares
• Pressão sobre os nervos, plexos nervosos e cartilagem intra-articular dos joelhos
• Entre outras de imediato classificadas como "penosas”.

A realidade industrial, por exemplo, obriga a adopção de posturas físicas que produzem efeitos negativos e graves problemas músculo-esqueléticos. São disso exemplo, entre outras doenças ou manifestações clínicas reconhecidas:

• As lesões do menisco
• As paralisias
• As tendinites
• As lombalgias de esforço

Actualmente, assiste-se à substituição do trabalho manual pelo trabalho mental, automatizado e informatizado, nomeadamente nas actividades de escritório. Trata-se de contextos de trabalho não menos exigentes entre os quais se encontram as actividades que implicam o despender de longas horas em frente ao computador conduzindo à "adopção de posturas de trabalho rígidas, associadas a contracções musculares estáticas de longa duração”.

Desta associação resulta o aparecimento de sintomas como "inflamações articulares e tendinosas, degeneração crónica das articulações, dores musculares e problemas vários ao nível dos discos intervertebrais, na coluna vertebral”

De modo associado a estes problemas, identificam-se outros não menos graves, como sejam elevados níveis de fadiga que se podem traduzir numa maior probabilidade de ocorrência de acidentes de trabalho, uma vez que a fadiga se traduz em alterações da performance, na dispersão dos tempos de reacção e movimento, numa diminuição da precisão e na desorganização da actividade.

A verdade é que, maioritariamente, as posturas associadas ao uso dos computadores são incorrectas na medida em que implicam o sobrecarregar em excesso dos músculos do pescoço, dos ombros e dos braços, bem como de toda a coluna vertebral. 

4.2 Manipulação de cargas
Juntamente com as posturas adoptadas, a manipulação de cargas (levantamento, deslocação e transporte) é responsável pela maioria dos problemas de coluna que se verificam nos indivíduos, afectando fundamentalmente os trabalhadores da indústria.

Assim, os riscos inerentes à manipulação manual de cargas prendem-se com:

• Adopção de posturas inadequadas
• Reduzidas áreas disponíveis de acção
• Cargas volumosas e pesadas

A automatização ou a reorganização do trabalho, com o objectivo de reduzir a movimentação manual de cargas, apresenta-se como medida preventiva para os riscos a ela inerentes. 

4.3 Movimentos e actividades repetitivas e monótonas
Do trabalho repetitivo, automatizado e que mobiliza os membros do corpo humano, derivam os problemas de saúde, precisamente desta exigência simultânea entre os gestos repetitivos e a necessidade de atenção, sendo que o trabalho repetitivo apresenta correlação directa com o estado de saúde dos trabalhadores.

As lesões por esforços repetitivos e os distúrbios osteomusculares relacionados com o trabalho afectam pessoas que realizam o mesmo tipo de movimento diversas vezes ao dia, e apresentam sintomas que prejudicam o desempenho profissional.

Trata-se de doenças que afectam trabalhadores que desempenham a sua actividade profissional em linhas de montagem e desmontagem, bem como aqueles que passam o dia a digitar. As lesões por esforços repetitivos predominam ao nível da coluna cervical e dos membros superiores e traduzem-se em:

• Dores
• Tendinites
• Ligamentites
• Lesões musculares

Os operários da indústria alimentar, das linhas de montagem, os bancários, os empregados de escritório e todos os outros profissionais obrigados ao uso repetido de terminais e computadores, são os mais afectados.

A movimentação manual de cargas, as posturas adoptadas e os movimentos altamente repetitivos apresentam elevada correlação com distúrbios físicos como os problemas músculo-esqueléticos. Por exemplo:

• Cervicalgias
• Dorsalgias
• Lombalgias
• Doenças dos membros superiores
• Doenças dos membros inferiores

Estes problemas são ainda agravados quando os factores de risco enumerados são conjugados com ritmos de trabalho intenso, trabalho repetitivo e monótono, fadiga e factores psicossociais, como seja a pressão e o stress no trabalho. Neste contexto, as mulheres, os trabalhadores mais idosos e os trabalhadores com trabalho precário constituem-se como o grupo de maior risco.

Fonte: 
Relatório do Estudo "Programa de apoio à manutenção e retorno ao trabalho das vítimas de doenças profissionais e acidentes de trabalho"
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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