As doenças digestivas mais frequentes: do diagnóstico à terapêutica
Assim sendo farei uma abordagem sucinta de cada um destes temas tendo como preocupação usar linguagem simples e não muito técnica, que possa ser entendida pela grande maiorias dos leitores.
Comecemos então pela Dispepsia, palavra que tem origem na língua grega e que significa má digestão que talvez seja, mesmo, a patologia mais frequente das nossas consultas.
Podemos defini-la como uma dôr ou desconforto centrada no abdómen superior.
Para nós gastrenterologistas existem, essencialmente, dois tipos de dispepsia: orgânica e funcional. Sendo esta a mais comum. Por sua vez, esta ainda pode ter origem numa dismotilidade ou ser inespecifica.
Passemos então ao diagnóstico e é necessário dizer, desde já, que este é sobretudo clínico e baseado em alguns exames complementares. O diagnóstico clínico é fundamental e assenta, desde logo, na colheita de uma boa história clínica que possibilite colher os sintomas que sustentam o diagnóstico, sobretudo na dispepsia funcional que se relaciona muito com factores anímicos, como o ”stress“ diário.
Os exames complementares, dos quais destaco a endoscopia alta servem, sobretudo, para excluir as causas orgânicas como por exemplo as doenças pépticas de falaremos a seguir.
A terapêutica deve ser feita de acordo com as causas para o caso da dispepsia orgânica.
Na dispepsia funcional poderemos utilizar os procineticos, que actuam na motilidade gástrica, os inibidores da bomba de protões e sucralfato que actuam na acidez gástrica e até,mesmo,os psicofármacos em casos específicos.
Como segundo tema iremos agora abordar a Doença Ulcerosa Péptica, até porque se pode relacionar com a dispepsia, que foi anteriormente referida.
Existem dois tipos principais: as úlceras quer gástricas quer duodenais e as gastrites e bulbites erosivas. Importa referir que estão presentes em cerca de 15 a 25% dos doentes que apresentam sintomas de dispepsia e que, no caso das úlceras, poderão ser responsáveis por algumas complicações como as hemorragias digestivas ou perfurações gastrointestinais.
A causa principal do aparecimento destas patologias prende-se como desequilíbrio entre a barreira protectora do estômago e os factores agressivos da mucosa gástrica como por exemplo alguns fármacos, o excesso de ácido ou determinados comportamentos sociais como o excesso de álcool e tabaco.
O diagnóstico é clinico, sendo fundamental uma boa colheita de sintomas e antecedentes pessoais e endoscópico para que seja possível caracterizar bem as lesões.
A terapêutica deve ser feita com base em duas premissas: alteração dos comportamentos dietéticos e sociais de modo a evitar as agressões da mucosa gástrica, como foi mencionado anteriormente, e na utilização dos medicamentos ao nosso dispor. Dentro destes importa mencionar os Inibidores da bomba de protões (ex: Omeprazol), os protectores da mucosa gástrica, como o Sucralfato e até mesmo alguns antibióticos, nos casos específicos em que exista infecção pelo Helicobacter pylori.
No terceiro tema iremos falar sobre a doença do cólon irritável, também uma das patologias que, juntamente com a dispepsia, serão as mais frequentes nas nossas consultas.
O cólon irritável de acordo com o postulado na reunião de consenso de Roma, denominada Roma III, pode ser definido por um mal-estar abdominal com alterações dos hábitos de defecação.
Existem, essencialmente, dois tipos: predomínio da diarreia e predomínio da obstipação. No entanto pode haver doentes que manifestam os dois.
Como características podemos referir duas: muito comum correspondendo a 35-40 % das consultas e o elevado custo relacionado com esta patologia (muitos exames de diagnóstico e abstenção ao trabalho).
As causas que são mais apontadas têm relação com a hipersensibilidade visceral,dismotilidade intestinal e doenças do foro psiquiátrico.
Na grande maioria dos doentes, deve ser feito com base na clínica, contudo, e tal como já referimos, existe um grande número de casos em que os doentes fazem múltiplos exames antes de ser estabelecido o diagnóstico. Voltamos a reforçar que a clinica é na maioria das vezes suficiente para o diagnóstico.
A terapêutica tem por base medidas gerais de higiene alimentar e alteração de alguns hábitos da vida do doente.
Como fármacos os mais usados são os antiespasmódicos, antidiarreicos e, por vezes, os probióticos. Ultimamente surgiu um novo composto (Xiloglucano) que pare ser muito benéfico nos casos em que predomina a diarreia.
Por último vamos tratar de um tema que, pela sua actualidade, julgamos ser de grande interesse: os pólipos do cólon.
A palavra pólipo vem do grego e significa excrescência correspondente a protusão da mucosa cólica.
O seu diagnóstico precoce é de extrema importância, uma vez que alguns poderão ter potencial de malignização. Este diagnóstico deve ser, essencialmente, endoscópica dada a possibilidade de serem imediatamente removidos, no entanto também pode ser feito através da colonografia por TAC (colonoscopia virtual) O risco de progressão para cancro do cólon depende do seu tipo histológico (adenomas) e do seu tamanho na altura da descoberta.
Convém, também, realçar que a prevenção do cancro do cólon não passa apenas pela remoção dos pólipos mas também tem relação com factores genéticos e do comportamento social como por exemplo o pouco exercício físico a dieta desequilibrada e o consumo exagerado de álcool e tabaco.
Terminamos, assim, este pequeno artigo, no qual procuramos ser sintéticos e usar linguagem facilmente perceptível por pessoas sem formação médica.
Queremos por último agradecer a oportunidade que nos foi dada para abordar temas muito importantes e actuais na nossa práctica clínica.
*este artigo está escrito, por opção do autor, sem respeitar o acordo ortográfico