Dispneia… A “dor” do doente respiratório
A mesa redonda dedicada ao tema Dispneia… A “dor” do doente respiratório, inserida no 9º Congresso Nacional de Fisioterapeutas, que decorre no Centro de Congressos do Estoril, vai estar em destaque no próximo dia 14 de Junho. O Atlas da Saúde quis saber mais sobre este tema e esteve à conversa com o fisioterapeuta Paulo Abreu, e também membro do Grupo de Interesse em Fisioterapia Cardio-Respiratória da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas.
Como se caracteriza a principal “dor” do doente respiratório, a dispneia?
A dispneia define-se como “uma experiência subjectiva de desconforto respiratório que consiste em sensações qualitativamente distintas que variam em intensidade”. Os doentes respiratórios podem referir sensações como falta de ar, aperto no peito, respiração difícil ou respiração pesada. A sensação de dispneia e a sua intensidade são influenciadas pelo tipo e gravidade da doença, factores psicológicos, sociais, culturais e ambientais.
A dispneia pode afectar até 50% dos doentes admitidos nas urgências e 25% dos doentes que recorrem aos Centros de Saúde ou a consultórios privados. Pode ter origem em várias doenças (ex. pulmonares, cardíacas, neurológicas) mas também em pessoas sedentárias com má condição física. Tem muitas características semelhantes à dor, sendo o principal sintoma do doente respiratório e por se diz que é a sua “dor”.
É um sintoma comum e debilitante, cria sofrimento, impede o doente de realizar as suas actividades do dia a dia de forma normal e reduz a sua qualidade de vida. Por estes motivos, é importante que o doente seja observado por um médico para determinar a causa da dispneia e realizar um tratamento adequado que deve incluir, em muitos casos, a Reabilitação Respiratória.
Dados recentes do Instituto Nacional de Estatística apontam as doenças respiratórias como a 3ª causa de morte em Portugal. Na sua opinião isso deve-se a que factores. Ou seja, falta de diagnóstico, tratamento incorrecto, falta de tratamento...
As razões para este facto são várias e muitas delas certamente associadas. Segundo dados de 1998 a 2013, as doenças respiratórias responsáveis por maior mortalidade são as pneumonias e o cancro e, certamente aqui as epidemias virais, as condições socioeconómicas da população e os hábitos de risco como o tabagismo terão uma responsabilidade importante. Neste aspecto faltam provavelmente medidas de prevenção mais eficazes e um diagnóstico mais precoce. Uma das medidas importantes de prevenção do agravamento e da agudização da doença respiratória crónica, como a DPOC, é o nível e a regularidade de actividade física que dos doentes. Os doentes mais activos fisicamente têm menos agudizações, estas aparecem mais tarde, vivem mais tempo e com mais qualidade de vida.
Qual a importância da Reabilitação Respiratória?
A Reabilitação Respiratória assenta essencialmente em três pilares: uma rigorosa e completa avaliação do doente e do seu controlo clínico, o treino de exercício físico e a educação. Os benefícios da Reabilitação Respiratória, comprovados cientificamente, são a melhoria da qualidade de vida relacionada com a saúde, o aumento da tolerância ao esforço, a melhoria da capacidade para realizar as tarefas diárias, a redução dos sintomas (dispneia, tosse, expectoração), a redução do número de consultas não programadas, das hospitalizações e dos dias de internamento, o aumento da esperança de vida e uma maior eficácia na autogestão da doença.
E do tratamento/abordagem multidisciplinar?
A doença respiratória, em particular doenças crónicas como a DPOC, as bronquiectasias, a fibrose pulmonar, têm impacto não só ao nível do pulmão (causando sintomas como dispneia, tosse, expectoração, diminuição das trocas gasosas), como ao nível dos músculos (fraqueza muscular), ao nível nutricional (obesidade ou magreza), ao nível psicológico (ansiedade, depressão, medos, crenças desajustadas, pânico) e ao nível sociofamiliar. Deste modo, é importante que o doente seja visto por profissionais de saúde com diferentes especializações (médico, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, enfermeiro, terapeuta ocupacional), num processo de intervenção interdisciplinar, para que o resultado da intervenção seja o melhor, mais rápido e mais duradouro, com mudanças de comportamentos que sejam promotoras de saúde a longo prazo.
Qual o papel do fisioterapeuta na qualidade de vida destes doentes?
O fisioterapeuta é um elemento fundamental na equipa de Reabilitação Respiratória, ou na intervenção em doentes agudos (como doentes internados), pelas suas competências específicas no treino de exercício (aeróbico, força, flexibilidade, equilíbrio), na execução e no ensino de técnicas de remoção de secreções, técnicas para melhorar a ventilação, técnicas para controlo da respiração, técnicas de relaxamento, técnicas de conservação de energia, entre outras.
Qual o impacto socioeconómico da não intervenção?
A não intervenção, a intervenção não atempada ou a intervenção feita por profissionais não-habilitados pode ter consequências significativas na melhoria da condição do doente, pode levar a complicações com prejuízo no bem-estar, na funcionalidade e na qualidade de vida, assim como mais custos directos e indirectos com a saúde.
Especificando melhor o tipo de doentes:
Quais os doentes que mais necessitam de intervenção?
Todos os doentes que tenham sintomas (dispneia, tosse, expectoração) e/ou sintam limitação na realização das suas actividades da vida diária relacionadas com a sua doença.
Qual a doença respiratória que mais beneficia com os cuidados do fisioterapeuta?
As doenças respiratórias têm impactos diferentes na vida das pessoas, que nem sempre estão relacionados com a gravidade da doença física. Mais importantes do que o tipo de doença são as consequências que a doença tem sobre a capacidade funcional do doente, o seu bem-estar e a sua qualidade de vida. Nesse aspecto qualquer doença respiratória pode ter um grande benefício dos cuidados do fisioterapeuta.
Que mensagem, ou principal conclusão, pretendem que saia da mesa redonda dedicada ao tema?
Sendo a audiência do Congresso fisioterapeutas e estudantes de fisioterapia, pretendemos que conheçam melhor este sintoma tão importante, que o saibam avaliar bem, percebam a importância que os aspectos psicológicos têm neste sintoma e no seu tratamento, e que conheçam o que de melhor temos ao nosso dispor para ajudar os doentes a reduzir a sensação de dispneia e o impacto que ela tem nas actividades diárias e na qualidade de vida.
Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico