Disfunções sexuais masculinas
A prevalência das disfunções sexuais masculinas, se considerarmos todas as suas expressões, é muito elevada, podendo atingir cerca de 35% dos homens. A disfunção de maior impacto pessoal é a disfunção eréctil, que atinge cerca de 10% de todos os homens. O impacto social das disfunções sexuais pode, assim, ser muito significativo. Contudo, as disfunções são em geral subdiagnosticadas devido à relutância dos doentes, e dos responsáveis pela Saúde, em discutir a função sexual e a sexualidade.
Na prática clínica corrente encontramos quatro tipos de disfunções sexuais masculinas: desejo sexual hipoactivo, disfunção eréctil, disfunção orgásmica e disfunção ejaculatória.
Existindo uma qualquer disfunção sexual, e ao contrário do que muitos pensam, esta pode ser tratada quase sempre, independentemente da idade e, até, da causa. O reconhecimento dessa realidade é cada vez maior. Na verdade, e apesar da baixa procura de ajuda especializada, são cada vez mais os homens que, tratados, conseguem recuperar a sua capacidade sexual, graças aos cada vez mais eficazes tratamentos existentes.
O desejo hipoactivo
O desejo sexual masculino é geralmente desencadeado pela existência de um estímulo sensorial erótico. Nesse estímulo podem intervir todos os sentidos: táctil, visual, auditivo, olfactivo e, até, gustativo. O estímulo atinge primeiramente os núcleos hipotalâmicos e pré-ópticos cerebrais, onde é feito o processamento sensorial e onde são integrados os afectos e os comportamentos do individuo. Daí o estímulo passa ao hipocampo, também no cérebro, onde integra a memória das experiências vividas anteriormente. O neocortex, finalmente, integra os conhecimentos e, às vezes, as fantasias. É no hipocampo e no neocortex que se encontra a explicação biológica das causas psicogénicas do desejo hipoactivo. As causas orgânicas, por seu lado, devem-se a lesão dos centros ou vias neurológicas centrais, a acção reduzida de neuromediadores químicos ou, finalmente, a factores hormonais hipogonádicos.
A disfunção eréctil
A disfunção eréctil é a incapacidade persistente para obter ou manter uma erecção peniana que permita a um homem ter relações sexuais satisfatórias. Significa o mesmo que “impotência sexual”, embora este termo seja menos utilizado pela comunidade científica, excepto quando descreve um grau extremo de disfunção eréctil.
Quando os impulsos cerebrais originados pelo estímulo erótico chegam ao tecido cavernoso peniano, uma série de acontecimentos bioquímicos determinam o relaxamento das fibras musculares lisas. É esse factor que obriga a que o sangue arterial comece a encher os espaços abertos. O sangue, cada vez em maior quantidade, faz com que o pénis entumeça e expanda. Cria-se assim uma pressão intracavernosa cada vez maior, que vai comprimir as pequenas veias periféricas de encontro à túnica albugínea. É esse mecanismo que encerra as veias, o que permite o estabelecimento e a manutenção da rigidez peniana, indispensáveis para a erecção.
A disfunção eréctil pode surgir sempre que houver interrupção ou perturbação de qualquer dos acontecimentos fisiológicos atrás sumarizados. Pode assim ser de causa neurológica ou vascular, geralmente devido a diabetes, ateroesclerose, hipertensão ou tabagismo. Todas elas provocam alterações das artérias cavernosas, obstruindo o seu interior ou diminuindo a elasticidade da parede. Isso pode determinar uma diminuição do aporte sanguíneo. Ao mesmo tempo provoca a lesão do tecido muscular liso dos septos sinusoidais, o que vai dificultar o mecanismo de encerramento das pequenas veias periféricas. No caso da diabetes, vai ainda haver neuropatia periférica.
As disfunções orgásmicas e ejaculatórias
A ejaculação e o orgasmo são complexos processos que dependem da regulação directa do sistema nervoso central, melhor dizendo, de centros nervosos localizados na medula espinal e no cérebro. A medula espinal pode desencadear uma resposta ejaculatória, do tipo reflexa, a partir de centros nervosos localizados em dois níveis: o centro mecânico, ou centro simpático dorsolombar, a nível D10-L3, que comanda a fase de emissão; o centro secretor, ou centro parassimpático sagrado, a nível de S2-S4, que comanda a fase de expulsão.
Cada ejaculação espermática desenvolve-se em duas fases que são cronologicamente muito próximas: a emissão e a expulsão. O orgasmo é essencialmente um fenómeno cortical cerebral, que é percepcionado como uma intensa sensação de prazer físico-psíquico. Constitui o clímax da actividade sexual e geralmente acompanha o processo de ejaculação, sendo simultânea com a fase de expulsão. A prevalência da disfunção orgásmica isolada é muito baixa, geralmente não ultrapassando 2-3%, havendo frequentes situações de orgasmo sem ejaculação, quando se produz a fase de expulsão sem ter havido prévia fase de emissão.
A disfunção ejaculatória pode ser encarada pelo homem com um grau variável de preocupação, que depende da etiologia, da idade do aparecimento, dos sintomas acompanhantes, da repercussão sobre a fertilidade, do efeito psicológico que produz. A prevalência é muito elevada, especialmente no caso da ejaculação prematura, que pode atingir cerca de 30% dos homens sexualmente activos.
Sob o ponto de vista etiológico existem três causas fundamentais para uma disfunção ejaculatória: neurológicas, anatómicas e psicológicas. As duas primeiras são, naturalmente, causas puramente orgânicas.