Hospital no limite

Diretores clínicos do Centro Hospitalar de Leiria solidários com colegas da Urgência

Os diretores de serviço da área clínica do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) anunciaram que estão solidários com os médicos do Serviço de Urgência do Hospital de Santo André, em Leiria.

Após reunião na terça-feira, os diretores de serviço manifestam, em comunicado, "aos colegas que no dia-a-dia trabalham no Serviço de Urgência Geral total solidariedade, deixando claro que o problema" deste serviço é extensível a "toda a instituição" e afeta todos os médicos.

No texto, assinado por 20 diretores clínicos, os médicos justificam que o CHL tem "sido objeto de várias notícias veiculadas pela comunicação social, em consequência da complexa situação vivida no Serviço de Urgência, sobrecarregado pelo elevado número de doentes que a ele têm acorrido ao longo dos últimos meses".

"Esta situação levou recentemente a uma tomada de posição das chefias das equipas que naquele serviço trabalham”, acrescentam.

No comunicado, é reconhecida a "gravidade dos problemas, bem como a necessidade da implementação de um conjunto de medidas urgentes para as quais manifestam toda a disponibilidade para colaborar".

Os responsáveis médicos exigem ainda aos "organismos da tutela uma resposta adequada, conscientes que estão da natureza multifatorial desta situação, a que não são alheios os constrangimentos de natureza financeira, a falta de recursos humanos, a total perda de autonomia das instituições e a incapacidade de resolução do problema do acesso aos serviços de saúde".

O documento, que será enviado ao presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria, à ministra da Saúde, ao bastonário da Ordem dos Médicos e aos sindicatos médicos, apela às "organizações profissionais que não contribuam para este clima e que, pelo contrário, possam participar na procura das melhores soluções".

Segundo o comunicado, os médicos dizem ainda estar em "total desacordo como o problema do Serviço de Urgência tem sido tratado por alguns órgãos de comunicação social" e solicitam que, "no cumprimento da sua missão, não ponham em causa o bom nome e o prestígio da instituição, bem como a dignidade dos profissionais que nela trabalham".

Esta semana, o Conselho de Administração do CHL confirmou à Lusa que sentiu necessidade de reprogramar algumas cirurgias não urgentes, de modo a "canalizar recursos" para os "doentes cirúrgicos urgentes".

"Face aos constrangimentos que vimos sentindo, confirmamos que houve necessidade de fazer algumas alterações e restrições à programação cirúrgica dos doentes não urgentes, e apenas estes, de forma a canalizar recursos e disponibilidades para os doentes cirúrgicos urgentes, nomeadamente ao nível da equipa de Anestesiologia", referiu o Conselho de Administração.

Na semana passada, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos revelou que todos os chefes de equipa da Urgência de Medicina Interna do Hospital de Santo André se demitiram em janeiro, alegando a inexistência de condições essenciais ao desempenho das funções.

O presidente daquela secção regional, Carlos Cortes, explicou que os médicos "não têm tempo para a chefia do serviço, nem recursos para cumprir a escala de urgência".

Em declarações à Lusa, Carlos Cortes acrescentou que o Serviço de Urgência do hospital de Leiria atingiu o "limite" e que "só não encerra por todo o esforço dos médicos que lá trabalham", mesmo "sem serem reconhecidos pelo Conselho de administração do CHL".

Desde o início do ano, a Ordem dos Médicos já recebeu 159 declarações de responsabilidade deste hospital, mais "do que de todos os hospitais do Centro juntos, o que mostra uma grande preocupação com o que está a acontecer em Leiria, sobretudo na Urgência de Medicina Interna", salientou Carlos Cortes.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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