Cancro de Cabeça e Pescoço

Diagnóstico precoce é chave para a cura

Atualizado: 
02/08/2016 - 13:09
Mais frequente a partir dos 40 anos, o cancro de Cabeça e Pescoço tem como principais fatores de risco o consumo excessivo de álcool e tabaco. Afetando mais homens do que mulheres, a sua taxa de sobrevivência subiu de 50 para 70 por cento, nas últimas décadas, graças ao desenvolvimento de novas modalidades de tratamento e, sobretudo, quando diagnosticado precocemente.

O cancro de cabeça e pescoço corresponde a qualquer tipo de cancro que possa ser encontrado na região da cabeça ou do pescoço, com exceção dos olhos, cérebro, orelhas e esófago. “Tem origem na pele ou nos tecido moles, na parte superior dos aparelhos respiratório e digestivo: Cavidade Oral, Glândulas Salivares, Seios Perinasais e Fossas Nasais, Faringe (Nasofaringe, Orofaringe, Hipofaringe), Laringe e Gânglios Linfáticos”, explica Ana Castro, médica oncologista e Presidente do Grupo de Estudos Cancro de Cabeça e Pescoço.

De acordo com os dados internacionais, este tipo de cancro é o sexto mais comum na Europa, apresentando metade da incidência do cancro do pulmão, mas sendo duas vezes mais comum do que o cancro do colo do útero. Só em 2012 foram diagnosticados cerca de 150 mil novos casos de cancro de Cabeça e Pescoço em território europeu.

No entanto, apesar da sua crescente incidência, a população continua pouco sensibilizada para esta doença e suas consequências.

Estima-se que cerca de 60 por cento dos casos de cancro de Cabeça e Pescoço sejam diagnosticados num estádio avançado da doença o que limita o sucesso do tratamento e, consequentemente, a sua cura.

Ao longo dos últimos anos, o Grupo de Estudos Cancro da Cabeça e Pescoço (GECCP), tem tentado alertar para esta patologia, através da realização várias ações de sensibilização, de modo a inverter esta tendência.

Este ano, o GECCP associou-se ao evento desportivo “Volta a Portugal em Bicicleta”, levando ações de rastreio aos pontos de chegada de cada etapa, e que irão decorrer até ao próximo dia 7 de Agosto.

“O consumo de tabaco e álcool são dois grandes fatores de risco e a junção dos dois aumenta muito a probabilidade de vir a sofrer desta doença. Os fatores de risco dependem também do tipo de cancro de cabeça e pescoço em causa”, revela a especialista.

De acordo com a médica oncologista, “os tumores mais frequentes são dos da laringe (apresentando uma incidência de 25%) e Cavidade Oral (22%)”.

Os principais sintomas do cancro da laringe são rouquidão, tosse persistente, dificuldade em respirar, perda de peso, mau hálito, dor ao engolir e dor de ouvidos. Já o cancro da Cavidade oral apresenta como principais sintomas feridas que não cicatrizam na língua ou mucosa da boca, inchaço no maxilar, mancha branca ou vermelha nas gengivas e sangramento anormal ou dor na boca.

“Se o doente tiver algum destes sinais ou sintomas que não se resolve em três semanas deve consultar um médico”, adverte Ana Castro.

De acordo com a avaliação do especialista, e caso a lesão seja suspeita, poderá ser necessário a realização de uma biópsia para diagnóstico.  “Se o diagnóstico for cancro, o médico terá de avaliar o estadio e para isso serão necessários exames de imagem, como a TAC ou RMN”, explica.

Ana Castro acrescenta ainda que “os cancros de cabeça e pescoço são classificados conforme o tamanho e a localização do tumor original, o número e tamanho de metástases nos gânglios linfáticos do pescoço e a evidência de metástases em outros órgãos”, sendo considerado o estadio I o menos avançado e o IV o último grau (e também o mais grave) de evolução da doença.

A falta de conhecimento, em geral, a respeito do cancro de cabeça e pescoço faz com que os seus sintomas sejam, muitas vezes negligenciados, ou facilmente confundidos com outras patatologias benignas. “Por isso, o que se recomenda é que uma ferida/lesão, rouquidão, dor de garganta, nódulo no pescoço que não se resolve em três semanas deve ser alvo de observação médica”, sublinha a especialista. “Como em qualquer outro cancro, a taxa de sobrevivência será maior quanto mais cedo for feito o diagnóstico”, justifica.

Apesar de ser mais frequente a partir dos 40 anos, tem-se assistido a uma taxa de incidência cada vez mais elevada em jovens com menos de 30 anos, “devido ao facto da doença estar associada ao estilo de vida e sobretudo, ao consumo excessivo de tabaco e álcool”. Pelo mesmo motivo, afeta mais homens que mulheres, “por estes serem maiores consumidores destas substâncias”.

Nas últimas décadas tem-se assistido ao aumento da taxa de sobrevivência da doença, sobretudo graças ao diagnóstico precoce. “A sobrevivência em cinco anos deste cancrou passou de 50 para 70 por cento (de 1960 a 2009) quando diagnosticado em estádios precoces. Este crescimento foi possível graças ao desenvolvimento de novas modalidades de tratamento”, justifica a presidente do GECCP.

“Os avanços tecnológicos ao nível da medicina permitiram a redução da mortalidade associada a este cancro. Os instrumentos utilizados – endoscópios, navegação intra operativa e imagens de excelente qualidade – são altamente sensíveis e permitem um diagnóstico mais precoce”, acrescenta.

No entanto, revela que também o tratamento é cada vez mais eficaz, uma vez que envolve abordagens com mais do que uma opção terapêutica. “Por exemplo, quimioterapia concomitante com radioterapia”, exemplifica Ana Castro.

Não obstante esta evolução, a especialista em oncologia defende a prevenção como a melhor arma contra a doença. “A melhor forma de prevenir este tipo de cancro é evitar os fatores de risco (consumo de tabaco e álcool), ou seja, adotar um estilo de vida saudável. As idas regulares ao dentista podem permitir a identificação de lesões pré-cancerígenas na cavidade oral”, afiança.

Por outro lado, os rastreios são igualmente importantes. “Os pacientes apresentam frequentemente tumores em estadios avançados (grandes tumores ou mesmo cancro metastático), o que diminui a probabilidade de cura. Assim, é necessário reforçar a ideia de que um diagnóstico precoce é a chave para um prognóstico positivo, e isso poderá ser feito através de um rastreio”, reforça a oncologista.

Estes rastreios, que consistem na avaliação da cavidade oral e do pescoço através de exame objetivo, permitem “sensibilizar as pessoas para estarem atentas a alterações que possam surgir no futuro e alertar o seu médico de família se isso acontecer”.

Embora o plano de tratamento para os doentes com cancro de cabeça e pescoço dependa de fatores como a localização do tumor, estadio do cancro ou estado geral do doente e idade, as três formas de tratamento mais frequente são a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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