Dia Mundial do Cancro do Ovário

“Diagnóstico deste tumor não é fácil e continua a ser tardio”

Atualizado: 
04/05/2015 - 14:50
De todos os cancros ginecológicos, o do ovário é aquele que regista a taxa de sobrevivência mais baixa. Alertar para a gravidade deste problema é o principal objectivo do Dia Mundial do Cancro do Ovário que se assinala a 8 de Maio.
Cancro do Ovário

Celebrado pela primeira vez em 2013, o Dia Mundial do Cancro do Ovário foi criado para alertar a população feminina “para uma situação que, embora rara, tem tanta gravidade e tão elevada taxa de mortalidade”, refere Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. O Dia Mundial do Cancro de Ovário celebra-se anualmente no dia 8 de Maio. Para esta data está previsto o lançamento de um livro sobre cancro do ovário, da iniciativa do Grupo Português de Estudos do Cancro do ovário, bem como a participação em iniciativas públicas de esclarecimento.

Em Portugal e segundo o Registo Oncológico de 2008 a incidência anual (número de novos casos) é de 7 casos por cada 100 mil mulheres. De todos os cancros ginecológicos, o do ovário é aquele que regista a taxa de sobrevivência mais baixa.

Fernanda Águas diz que “a taxa de mortalidade é elevada, aproximadamente 60% e está directamente relacionada com a fase da doença em que é feito o diagnóstico. Os estádios iniciais apresentação recorrência em 20% dos casos e os estádios avançados apresentam recorrência em 80% dos casos”.

Por isso o diagnóstico precoce é importante, uma vez que é determinante para o prognóstico. A realidade é que “aproximadamente 75% dos carcinomas do ovário são diagnosticados num estádio avançado daí a mortalidade ser tão elevada”. O diagnóstico deste tumor não é fácil, não só pelo facto de não haver forma eficaz de proceder ao seu rastreio, mas também porque os sintomas do cancro do ovário são inespecíficos: “distensão abdominal persistente, sensação de enfartamento, dor abdominal ou pélvica e em fases avançadas a percepção de uma massa/tumefacção abdominal”.

A especialista recorda para a necessidade de estar alerta a estes sinais/sintomas e procurar o médico logo que possível. “É certo que as consultas regulares de Ginecologia são sempre importantes, contudo relativamente ao cancro do ovário, não podem ser consideradas determinantes para um diagnóstico precoce”.

O cancro do ovário é menos frequente na mulher a quem se removeu o útero, mas a remoção dos ovários é a única forma certa de redução de risco do cancro depois da menopausa.

Factores de risco
Nem sempre é possível explicar o porquê de algumas mulheres sofrerem de cancro do ovário e outras não. Contudo, sabe-se que uma mulher com determinados factores de risco está mais predisposta a ter este tipo de cancro.

“Existe um componente de hereditariedade estando o risco de transmissão genética associado a 5 a 10% dos casos”, explica a presidente, acrescentando que, “as mulheres nulíparas têm um risco aumentado comparativamente às que já tiveram filhos e também as estimulações dos ovários associadas a tratamentos de infertilidade poderão ser responsáveis pelo aumento de risco da doença”. Também a obesidade é um factor de risco a ter em consideração, já pelo contrário o uso de contraceptivos hormonais confere protecção para a doença.

Prevenção
As hormonas produzidas pelos ovários são muito importantes para a mulher nomeadamente no que se refere à saúde cardiovascular e óssea mas também noutros órgãos ou sistemas.

As doenças oncológicas têm, em geral, um aumento de incidência com o avançar da idade e existem ainda problemas ginecológicos associados à falência de funcionamento dos ovários e ao envelhecimento dos tecidos componentes do aparelho genital. Razões que Fernanda Águas considera suficientes para a manutenção da vigilância ginecológica. Até porque a forma clássica de cancro do ovário, de alto grau, é um doença maligna ab initio e tem uma curta janela de intervenção, desde que surge no ovário até que se manifesta, no estádio avançado.

A especialista refere ainda que, “em geral os ‘quistos’ ou tumores benignos não evoluem para cancro embora dados actuais sobre a carcinogénese cancro do ovário, possam sugerir esta possibilidade nalguns casos sobretudo em mulheres mais velhas. Daí que, depois da menopausa, seja dada especial atenção aos quistos do ovário detectados pela ecografia”.

E a prevenção de forma radical, com a retirada dos ovários, tal como Angelina Jolie, actriz norte-americana, decidiu fazer recentemente? Bom, segundo a especialista, “nas mulheres com risco genético, comprovado por estudo específico, é recomendada a remoção dos ovários e trompas até aos 40 anos. Na mulher que é submetida a cirurgia ginecológica por patologia uterina benigna, recomenda-se actualmente que se removam as trompas com o objectivo de reduzir risco de cancro do ovário. Ainda nas mulheres submetidas a cirurgia uterina por patologia benigna, a remoção dos ovários a título profilático deve ser discutida com a doente e devem ser ponderados os eventuais benefícios versus riscos”.

Sem constrangimentos, o tratamento do cancro do ovário tem revelado maior eficácia, embora o diagnóstico continue a ser tardio. Fernanda Águas refere “a importância da qualidade da cirurgia inicialmente efectuada. É importante que as doentes sejam operadas em centros de referência com experiência no tratamento desta doença. Há aproximadamente 20 anos que se mantém o esquema de quimioterapia de primeira linha. Recentemente, foi introduzido um fármaco com propriedades antiangiogénicas, que trouxe alguma melhoria de prognóstico, em casos seleccionados”.

Em jeito de conclusão, a especialista deixa a mensagem “para um tomar de consciência da gravidade da doença e alertar para os sintomas que devem valorizar para procurar o médico e realizar os exames complementares necessários para o diagnóstico ou sua exclusão”.

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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