Diabetes tipo 2 aumenta o risco de doença cardíaca
Considerada uma epidemia do século XXI, a diabetes afeta um milhão de portugueses, estimando-se que este número aumente se se tiver em consideração os casos de pré-diabetes. De acordo, com Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, “cerca de 3,1 milhões de pessoas entre os 20 e os 79 anos têm diabetes ou pré-diabetes”.
Obesidade e sedentarismo são os principais fatores de risco de uma doença que, só em Portugal, tem registado um aumento anual de 3% .
“A diabetes tipo 2 e a obesidade são as duas epidemias gémeas do século XXI que têm aumentado ao longo dos anos de forma paralela. Em Portugal, mais de 50% da população tem obesidade ou pré-obesidade. No que diz respeito à diabetes mellitus, cerca de 90 a 95% dos casos são de diabetes mellitus tipo 2. Esta é a forma mais comum, mais prevalente, sendo que cerca de um em cada 10 portugueses tem este tipo de diabetes”, revela a médica endocrinologista do Centro Hospitalar de São João (CHSJ).
Com um impacto considerável junto da população, quando não é bem tratada ou controlada a doença pode dar origem a várias complicações tardias resultando na perda de qualidade de vida.
“A diabetes é a principal causa de cegueira, insuficiência renal, amputação de membros inferiores e das doença cardiovasculares”, refere a especialista.
Em termos financeiros, segundo o último Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, a doença custa ao Estado mais de 200 milhões de euros. “No entanto, estima-se que os custos do tratamento de complicações e hospitalizações rondem os 1550 milhões de euros anuais, quase 1% do PIB, sendo que é um custo que tende a aumentar ao longo dos anos”, revela Paula Freitas que afirma que este custo é o único que pode ser controlável.
Entre as medidas para reduzir este impacto, a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade destaca como primordial a prevenção da doença.
Por outro lado, o tratamento precoce “correto e eficaz da hiperglicemia e de todos os outros fatores de risco cardiovasculares associados”, contribuirá e muito para a redução de custos, uma vez que evitará o aparecimento de complicações tardias “quer micro e macrovasculares”cujos tratamentos são caros.
“O tratamento eficaz também garante uma melhor qualidade de vida dos doentes, o que se traduz em redução dos custos diretos e indiretos relacionados com a diabetes tipo 2”, afirma reforçando a necessidade de se apostar no controlo glicémico e “dar ferramentas aos doentes, nomeadamente, a nível de educação para a sua doença, bem como o acesso ao tratamento mais adequado para cada indivíduo”.
Acresce ainda a importância da inovação terapêutica, que nestes casos, gera poupanças a longo prazo, uma vez que para além de contribuirem para uma melhor qualidade de vida, evitam ainda “as complicações causadas pelas doenças cardiovasculares neste doentes”.
Diabetes e o risco de doença cardiovascular
A diabetes provoca um conjunto de alterações no organismo que torna mais frequentes e mais graves as doenças cardiovasculares. “A hiperglicemia, stress oxidativo, disfunção endotelial, alterações no processo inflamatório, alterações do fluxo sanguíneo e permeabilidade vascular, fenómenos vaso-oclusivos e isquémicos, alterações epigenéticas consequentes ao mau controlo glicémico com repercussão na memória metabólica, e múltiplas outras vias complexas aumentam a susceptibilidade da ocorrência de fenómenos de oclusão e que podem originar acidentes cardiovasculares”, enumera Paula Freitas.
De acordo com a especialista, os doentes com diabetes mellitus tipo 2, para além da obesidade, também têm dislipidemia, hipertensão, hiperuricemia “e todos os outros múltiplos fatores constituintes ou associados ao síndrome metabólico” o que aumenta o risco de doença cardiovascular.
Os dados disponíveis sobre esta relação mostram que a diabetes de tipo 2 aumenta quatro vezes mais o risco de doença cardíaca e enfarte, estimando-se que cerca de 50% das mortes entre a população diabética esteja relacionada com problemas cardiovasculares.
“Para reduzir o risco cardiovascular é necessário fazer uma intervenção multifatorial com intervenção ao nível do estilo de vida, com promoção de uma alimentação saudável, prática regular de exercício físico, promoção da cessação tabágica e perda de peso”, começa por explicar a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade.
Por outro lado, é essencial a aplicação de tratamento correto “e com os fármacos adequados” da hiperglicemia, hipertensão, dislipidemia e “fazer antiagregação plaquetária, quando indicado”.
“De facto, as complicações crónicas da diabetes, e nomeadamente as macrovasculares – a doença cardiovascular – podem ser prevenidas ou atrasada a sua progressão, ou controladas se já ocorreram, se o médico e a pessoa com diabetes gerirem de forma a adequada a sua doença desde o início”, reforça.
No que diz respeito ao seu tratamento, a especialista afirma que o médico deve escolher os fármacos que são eficazes mas seguros do ponto de vista cardiovascular, ou que, pelo menos, já tenham demonstrado a sua eficácia na redução dos eventos ou a mortalidade cardiovascular em doente de alto risco.
“Relativamente aos doentes diabéticos tipo 2, com elevado risco cardiovascular, é de destacar os resultados do estudo LEADER que mostrou uma redução significativa nos eventos cardiovasculares major, assim como uma redução na mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular”, acrescenta.
Segundo o estudo, houve uma redução de 22% de morte cardiovascular “e reduções de enfarte de miocardio não fatal e de AVC não fatal em doentes em tratamento com liraglutido”.
Deste modo, tal como adianta a especialista, estes resultados levam a uma nova perspectiva para o tratamento da diabetes tipo 2. “De facto, os novos fármacos trazem um enorme avanço na qualidade de vida dos doentes com diabetes. Os resultados deste estudo são promissores e têm potencial para alterar a prática clínica na área da diabetes, uma vez que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nesta população, no mundo inteiro”, conclui.
Quanto aos sintomas, sabe-se que a doença cardiovascular pode ser silenciosa e permanecer assitomática durante vários anos. No entanto, Paula Freita alerta para aqueles que são os principais sinais de alerta: cansaço fácil, palpitações, taquicardia, tonturas, hipertensão arterial, dispneia, claudicação intermitente e disfunção sexual.
A Diabetes em Congresso
O 13º Congresso Português da Diabetes, que contará com a presença de especialistas de várias áreas – desde a Endocrinologia, Medicina Interna ou Medicina Geral e Familiar – e investigadores nacionais e internacionais, levará à discussão estas e outras matérias.
Neste evento pode-se esperar a apresentação do relatório Factos e Números do Observatório Nacional da Diabetes, bem como de guidelines sobre as cirurgias metabólicas para o tratamento da diabetes ou algoritmos de tratamento da diabetes tipo 2, entre outros.
De acordo com Paula Freitas, “o Congresso Nacional da Diabetes é um dos eventos nacionais mais relevantes nesta área e que marca o panorama nacional de forma muito posivita”.