Descoberta proteína capaz de prevenir obesidade e diabetes
Chama-se Amuc_1100 e é uma proteína que integra a membrana externa da bactéria Akkermansia muciniphila, que vive exclusivamente na flora intestinal de animais vertebrados.
A equipa conduzida pelo professor Patrice Cani descobriu que, administrada em grande quantidade, essa proteína bloqueia completamente o desenvolvimento da intolerância à glicose e da resistência à insulina, atuando como uma espécie de barreira protetora e diminuindo a absorção no intestino, escreve o sapo.
"A permeabilidade intestinal é responsável pela passagem para o sangue de determinadas toxinas que contribuem para o desenvolvimento da diabetes e inflamações e para o facto de algumas pessoas obesas sentirem fome constantemente", explicou Cani em entrevista à BBC. Essa barreira também reduz a absorção de energia pelo intestino, resultando num menor ganho de massa corporal, escreve a referida televisão britânica.
Foi por acaso que Hubert Plovier, da equipa de Cani, descobriu a proteína Amuc_1100. A bactéria Akkermansia muciniphila é conhecida pela sua capacidade em reduzir entre 40 a 50% o ganho de massa corporal e de resistência a insulina em ratos, comprovada em 2013 também por Cani. Mas o teste em humanos esbarrava na dificuldade de reproduzir sinteticamente a bactéria, altamente sensível ao oxigénio.
Para resolver o problema, Plovier optou pela pasteurização, um processo no qual a substância é aquecida a 70 graus. "Descobrimos não só que a bactéria produzida dessa maneira conserva as suas propriedades, mas também que duplica a sua eficácia, detendo totalmente o desenvolvimento da obesidade e da diabete tipo 2, independente do regime alimentar", afirma Cani.
A equipa testou os efeitos da proteína isolada em três séries de testes com ratos e obteve, em todas elas, os mesmos resultados do tratamento com a bactéria Akkermansia muciniphila pasteurizada. Submetidos a um regime rico em gordura e altamente calórico, os animais que receberam a bactéria viva ganharam menos peso e desenvolveram menos resistência à insulina que os que receberam um placebo. No caso dos que receberam a bactéria pasteurizada ou a proteína isolada, o tratamento deteve totalmente o aumento de peso e a resistência à insulina.
O tratamento com Akkermansia muciniphila pasteurizada já foi submetido a uma primeira fase de testes em humanos e a conclusão é que sua administração não apresenta riscos para a saúde. A prova foi realizada com quatro grupos de dez voluntários. Segundo Cani, nenhum dos voluntários apresentou efeitos secundários graves ou muito graves. Se os resultados forem positivos, será o primeiro passo para o desenvolvimento de um futuro produto terapêutico contra ambas doenças, que pode chegar ao mercado dentro de cinco ou seis anos.