Estudo

Descoberta de subestruturas cerebrais pode ajudar nos procedimentos neurocirúrgicos

Investigadores portugueses lideram um projeto europeu que descobriu subestruturas cerebrais com diferentes perfis de conectividade que afetam a parte motora e não-motora do ser humano, algo que pode ajudar a melhorar os procedimentos neurocirúrgicos em doenças como a distonia.

A distonia "é uma doença neurológica crónica que se caracteriza por uma estimulação descontrolada dos nervos (músculos), que levam o indivíduo a ter dificuldades na locomoção e na utilização dos membros, podendo evoluir para incapacidades graves, como a não utilização do braço inteiro", explicou o coordenador do Centro de Investigação em Engenharia Biomédica do INESC TEC, João Paulo Cunha.

Este estudo faz parte de um projeto que envolve o Centro de Investigação em Engenharia Biomédica do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e a Universidade de Munique, na Alemanha.

"Os investigadores portugueses" envolvidos na iniciativa "chegaram a este resultado através do estudo de uma parte do cérebro chamada GPi (Globus Pallidus Internus), que se situa na sua zona central e é composta por estruturas cerebrais com funções primárias", lê-se num comunicado do INESC TEC.

Em 2016, desenvolveram "métodos de neurocomputação para estudar as densidades de conectividade das fibras que saem do GPi para outras áreas do cérebro em pessoas saudáveis, sem indicação de qualquer patologia", descobrindo "que este núcleo da base do cérebro parece apresentar pelo menos 3 subestruturas com conectividades distintas, tendo uma delas clara ligação ao córtex sensoriomotor pelo tálamo".

O GPi é um dos alvos de uma técnica chamada DBS ('Deep Brain Stimulation' ou Estimulação Cerebral Profunda), que coloca elétrodos dentro da cabeça dos doentes (uma espécie de pacemaker cerebral) e ajuda a melhorar os sintomas, dependendo sempre do alvo a atingir, isto é, "se estamos a falar da doença de Parkinson, distonia, ou outras patologias", explicou o investigador João Paulo Cunha.

Com este estudo percebeu-se que "os elétrodos DBS implantados em determinada subestrutura produzem melhores resultados clínicos que os localizados noutras subestruturas", tornando estes resultados "úteis para o planeamento e execução de procedimentos neurocirúrgicos", referiu o também docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Outra das vantagens deste método é "a possibilidade de personalizar o padrão de conectividade para cada doente candidato a cirurgia, de forma a adaptar o alvo neurocirúrgico ao seu perfil específico, melhorando a precisão do procedimento", acrescentou.

Para chegar a estas conclusões a equipa de investigadores de Portugal e da Alemanha utilizou uma técnica de ressonância magnética denomiada 'Diffusion Tensor Imaging', que ajuda a perceber a densidade de conectividade entre estruturas cerebrais, permitindo assim mapear as fibras que ligam as diferentes estruturas do cérebro.

Os resultados deste estudo foram publicados na revista NeuroImage, orientada para a área da Neurociência.

Já em 2014, os mesmos parceiros tinham demonstrado, num artigo publicado na mesma revista, que as localizações dos elétrodos de estimulação profunda, colocados em doentes com distonia, tinham mais efeitos quando posicionados em certas zonas.

"Verificamos que projeções de conectividade das fibras que partiam das imediações dos elétrodos de estimulação DBS junto ao Gpi, para diferentes estruturas corticais e subcorticais, pareciam estar relacionadas com o resultado clínico, positivo ou negativo, dessas neurocirurgias", acrescentou.

Esse "estudo permitiu perceber que o GPi poderia ter subestruturas com diferentes ligações preferenciais a outras partes do cérebro que, consequentemente, estimulariam essas estruturas cerebrais com melhores efeitos, se estivessem ligadas às regiões motoras, e piores se a outras regiões com funções não-motoras", tendo sido este o estímulo para este estudo agora divulgado.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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