Dermatite Atópica: a doença inflamatória crónica de pele que dá comichão intensa
Mais frequente durante a infância, estima-se que a Dermatite Atópica atinja entre 2 a 5% da população geral e cerca de 15% das crianças e adolescentes. Comichão intensa, sensação de ardor e pele muito seca são os principais sintomas de uma doença que, embora seja muito desvalorizada, pode acarretar outras complicações.
“A dermatite atópia é a doença inflamatória crónica cutânea mais comum e é caracterizada por uma pele muito seca que apresenta frequentemente inflamação e um intenso prurido. Quando persiste no adulto tende a ser mais grave”, começa por explicar Cristina Lopes Abreu, Coordenadora do Grupo de Interesse de Alergia Cutânea da Sociedade Portuguesa de Alergia e Imunoalergologia Clínica.
De acordo com a especialista, a doença parece resultar de uma combinação de fatores. “Fatores genéticos – muitos doentes quando nascem já estão predispostos para ter uma pele mais frágil e sensível, com tendência a desenvolver reações exageradas contra compostos inócuos do meio ambiente (alergia) -, e ambientais”, descreve referindo que a exposição à poluição atmosférica ou ao fumo de tabaco podem estar na sua origem.
Apesar de poder afetar todas as idades, o ínicio da doença é mais frequente durante a infância, sobretudo, no grupo etário abaixo dos cinco anos. “Pensa-se que poderá estar relacionada com maior imaturidade da pele nesta faixa etária, produzindo menos substâncias que a impermeabilizam, permitindo um contacto precoce com alergenios e bactérias invasoras que promovem a inflamação”, justifica a responsável pelo Grupo de Interesse de Alergia Cutânea da SPAIC.
Por outro lado, esta patologia é, habitualmente, a primeira manifestação de doença alérgica “precedendo o aparecimento de rinite ou asma alérgica”.
Quanto ao diagnóstico, este é feito mediante a observação de manifestações cutâneas sugestivas “em localizações típicas e que variam de acordo com a idade”.
Face, tronco e abdómen são as áreas mais atingidas no lactente. “Na criança e adolescente, as pregas cutâneas nos braços e atrás dos joelhos, atrás das orelhas e dobra do pescoço; no adulto as mãos, nuca, também as pregas podendo ser generalizadas”, acrescenta.
Os testes cutâneos alergológicos que comprovam atopia ou alergia, bem como outras manifestações como rinite, asma ou alergia alimentar são também importantes para concluir a presença da patologia. No entanto, “é importante fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças de pele como a psoríase ou dermatite seborreica”, salienta a especialista.
A aplicação de cremes específicos que fomentam a restauração da barreira cutânea são a primeira “arma” contra a Dermatite Atópica. Seguem-se os cremes com corticóides e outros compostos que têm como objetivo desinflamar pele. “Nos casos mais graves é necessária medicação mais abrangente (sistémica) sob a forma de comprimidos imunossupressores”, explica Cristina Lopes Abreu quanto à terapêutica recomendada para o seu tratamento.
“Recentemente, têm surgido novos medicamentos de utilização apenas hospitalar que parecem ser promissores porque poderão atuar de forma mais específica na desregulação do sistema imunológico que caracteriza a dermatite atópia”, acrescenta.
No âmbito da Semana Mundial da Alergia, a Coordenadora do Grupo de Interesse para Alergia Cutânea, reforça a importância do diagnóstico e o seu acompanhamento especializado. “A Dermatite Atópica pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos doentes e das suas famílias e por isso não deve ser subvalorizada”, afirma adiantando que, nos casos mais graves, esta doença pode condicionar o aparecimento de sentimentos depressivos e de ansiedade.
Por outro lado, “devido à importância que a alergia pode desempenhar na Dermatite Atópica, é indispensável que seja feito um diagnóstico preciso e que haja seguimento por um médico especialista nesta área”. É que, de acordo com Cristina Lopes, com o aumento significativo das doenças alérgicas nos países em vias de desenvolvimento, a dermatite atópica passou a ser vista não apenas como uma doença cutânea “mas parte de um processo mais abrangente conhecido como a marcha alérgica”.
Não sendo possível de apontar uma forma de prevenção da doença, aconselha-se sobretudo à manutenção dos níveis de hidratação da pele. “Pensa-se que a aplicação de cremes protetores da barreira cutânea possa prevenir o desenvolvimento da dermatite atópica em crianças de risco (história familiar de doença alérgica significativa) mas é um conceito ainda em estudo”, conclui.