Depressão pós-parto não é diagnosticada em mais de metade dos casos
Para além de todas as alterações que este processo biológico envolve, estar à espera de um bébé, habitualmente, constitui um fator de stress para a grávida. “Para a mulher não é só o corpo que muda. Durante este período, muda também um conjuntos de representaçãoes que a mulher tem sobre si mesma, sobre o bebé e o seu parceiro”, começam por explicar o psiquiatra Diogo Telles Correia e a especialista em ginecologia e obstetrícia Maria do Céu Santo, ambos coordenadores do manual “Saúde Mental na Gravidez e Puerpério” publicado pela editora LIDEL.
Neste quadro de mudança, durante o perído pré e pós-parto, podem surgir algumas perturbações psquiátricas que requerem tratamento especializado.
Do conjunto de perturbações psiquiátricas registadas, as perturbações de ansiedade e a depressão são as mais frequentes, estimando-se que esta última possa atingir cerca de 30% das mulheres no pós-parto. “Durante a gravidez pode atingir 12 a 13%. No entanto, sabe-se que, em cerca de 65% dos casos, estas depressões não são diagnosticadas”, esclarece Diogo Telles Correia.
Entre as causas da pertubação depressiva major encontram-se a genética da própria grávida, ou seja, a propensão hereditária para o desenvolvimento de perturbações psiquiátricas, e as alterações hormonais a que está sujeita durante e após a gravidez.
“Existem alguns estudos que se debruçam sobre as consequências das perturbações depressivas e de ansiedade graves durante a gravidez. Alguns deles demonstram que pode haver influência no desenvolvimento e bem-estar do bebé. No pós-parto, é também referido que o processo de relação/vinculação do bebé com a mãe pode ser influenciado por estas situações”, revela Maria do Céu Santo justificando, deste modo, a necessidade quer de um diagnóstico precoce quer de tratamento especializado. “Quanto antes for diagnosticada menos consequências terá”, acrescenta.
A verdade é que, de acordo com alguns estudos, as crianças de mães com depressão pós-parto são descritas como mais ansiosas e menos felizes.
No entanto, importa referir que nem todos os estados de melancolia, que surgem nesta fase da vida, implicam a existência de pertubação psiquiátrica. “Por vezes, há sintomas ligeiros depressivos ou ansiosos no pós-parto que não constituem uma perturbação propriamente dita”, afirma o psiquiatra.
Irritabilidade, choro frequente, falta de energia ou motivação, ansiedade e desinteresse sexual são alguns dos sintomas de depressão
O chamado «Baby Blues» ou «Blues pós-parto”, que se caracteriza por um período de maior tristeza, ansiedade, irritabilidade, surge geralmente nas primeiras duas semanas do pós-parto e não dura mais de um mês. “Caso aumente a sua gravidade, quer em termos temporais quer em termos de intensidade dos sintomas, é fundamental o tratamento psiquiátrico especializado”, aconselham os especialistas.
Quanto a fatores de risco, os antecedentes pessoais (história passada de depressão) ou familiares (por exemplo, mãe com depressão pré e pós-parto) ou o suporte social estão entre os aspetos a ter em atenção. Sabe-se, por exemplo, que mães com um bom suporte familiar têm uma menor probabilidade de virem a desenvolver depressão.
“O tratamento da depressão durante a gravidez e pós-parto pode ser feito com recurso a psicoterapia (apoio psicológico) e/ou medicação. Nos casos mais importantes costuma ser necessário medicação”, explica Diogo Telles Correia acrescentando que o mesmo acontece em relação às perturbações de ansiedade.
No que diz respeito ao tratamento farmacológico, é importante reforçar que “há medicações muito eficazes e seguras para serem tomadas durante a gravidez e mesmo no período de aleitamento pós parto”. “Daí que eu costume dizer que as consequências de não tratar uma depressão, ou ansiedades graves, podem ser muito superiores àquelas que surgem nas mães tratadas com medicação psiquiátrica apropriada”, afirma o especialista em psiquiatria.