Dentistas emigrados não voltam a Portugal e Ordem avisa para formação em excesso
Segundo o Estudo da Empregabilidade realizado aos dentistas portugueses, apenas 30% dos profissionais emigrados pretende voltar a Portugal, mas sem um horizonte de tempo definido.
De acordo com a Ordem dos Médicos Dentistas, um em cada dez dentistas portugueses está a trabalhar no estrangeiro, sendo um total de 1.500 em 11 mil profissionais no ativo.
“Não estamos a dar condições de segurança, condições de remuneração e de carreira. O que estamos a oferecer em Portugal é uma grande precariedade a estes jovens médicos dentistas. E grande parte deles vai exercer para o estrangeiro, nomeadamente para países da Europa”, afirmou o bastonário, Orlando Monteiro da Silva.
A larga maioria dos emigrados que não pretende sequer regressar a Portugal indica que, no estrangeiro, tem melhores condições de trabalho e de vida.
Segundo o Estudo da Empregabilidade, realizado no ano passado e agora divulgado, 60% dos dentistas a exercer em Portugal trabalham em dois ou mais consultórios e mais de metade dos que se formaram há menos de uma década trabalha em mais de quatro consultórios.
O bastonário dos Médicos Dentistas sublinha que as condições de trabalho são difíceis, sobretudo para os médicos mais jovens, que trabalham muitas horas, em vários consultórios ao mesmo tempo e com deslocações grandes, por vezes a uma ou duas horas do local de residência.
“Os nossos colegas mais jovens, sobretudo com menos de 10 anos de profissão têm uma grande precariedade, remunerações baixas, sem perspetivas de carreira e isso leva-os, nomeadamente, à emigração. É fundamental que a sociedade e os candidatos ao curso de Medicina Dentária se informem sobre as condições de emprego que vão encontrar e que desfaçam essa ideia de que a medicina dentária é uma profissão onde se ganha muito bem. Não é assim de há muito tempo a esta parte”, aconselha Orlando Monteiro da Silva.
Ao Governo, a Ordem dos Médicos Dentistas recomenda e apela a que sejam reduzidas as vagas nos sete cursos de Medicina Dentária existentes em Portugal.
“Parece-me óbvio que as faculdades têm de repensar a sua oferta para não continuarmos a formar pessoas para as convidarmos a exercer fora de Portugal”, indica o bastonário, lembrando que todos os anos saem dos cursos entre 600 a 700 novos licenciados em medicina dentária.
O responsável defende que este valor devia ser progressivamente reduzido, pelo menos 10 a 15 por cento por ano, apostando antes na formação pós-graduada.
Aliás, Portugal tem um médico dentista por cada mil habitantes, quando as recomendações internacionais apontam para um profissional para 1.500 a 2.000 habitantes.
“As próprias faculdades sabem que estão a formar médicos dentistas ou para o desemprego ou, talvez ainda mais grave, para o subemprego, a precariedade. Um médico dentista, por ser uma profissão ainda liberal, raras vezes se pode considerar desempregado. Ele está é numa situação grave de subemprego”, comenta o bastonário dos Médicos Dentistas.