Cuidar do doente reumático
A enfermagem é para mim uma partilha constante de responsabilidades, atitudes, técnicas, conhecimentos, reflexões e dedicação; sendo assim gostaria de partilhar o meu trabalho na consulta externa de reumatologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, E.P.E. Sou enfermeira há 23 anos com experiência dedicada aos cuidados de saúde diferenciados, e iniciei o meu caminho nesta consulta em 2012. É um trabalho aliciante, agora mais interventivo na promoção, recuperação e prevenção de complicações.
Refletir sobre o caminho percorrido em relação aos cuidados de enfermagem específicos ao doente reumático que exigiu novos conhecimentos e aprendizagens, com a vontade e motivação de querer agir sempre melhor. É hoje motivo de grande satisfação quando sentimos que os nossos objetivos são alcançados, obtendo-se novos ganhos profissionais e pessoais, contribuindo para tal também as relações interpessoais e a organização de trabalho de toda a equipa.
A Organização Mundial de Saúde descreve "doenças crónicas como sendo doenças de duração prolongada e progressão lenta que exigem tratamento continuado ao longo de anos ou décadas". Apesar de não terem cura, é possível diminuir a sua gravidade e assim melhorar a qualidade de vida do doente. O papel de enfermagem é muito importante no sentido de prevenir ou adiar estados de saúde e os benefícios são evidentes não só na doença mas também no aumento da longevidade a que assistimos. É imprescindível que a pessoa com doença crónica tenha um papel ativo e responsável na sua saúde, sendo tarefa principal de enfermagem nesta consulta ajudar o doente a promover a sua saúde bem como a prevenir complicações.
As doenças reumáticas afetam em todas as idades
As doenças reumáticas afetam todas as idades e são um problema importante, não só para a pessoa, mas também a nível social e económico, sendo forte motivo de ausência esporádica ou definitiva do trabalho. São muitas as doenças do aparelho musculosquelético principalmente as inflamatórias, degenerativas, peri-articulares, doenças metabólicas e sistémicas associadas as mais frequentes.
As principais queixas do doente são a dor, rigidez, tumefação, limitação da mobilidade e fadiga. O sofrimento causado pela incapacidade para a realização das N.H.B como cuidar da higiene pessoal, preparar alimentos, vestir-se ou despir-se, deslocar-se dentro de casa, deitar e levantar da cama é enorme com repercussões no próprio, na família, no trabalho, na relação com os amigos, não esquecendo as repercussões socioeconómicas. Ajudar o doente/família a aceitar com atitude positiva a mudança que a doença traz, e a necessária adaptação envolvendo-o sempre no seu projeto, é fundamental para que o seu estado de saúde seja melhorado. Esta consulta é feita através da relação interpessoal atendendo às prioridades do doente informando-o sempre do que é necessário.
Doente bem informado é doente bem tratado
“Não há dúvidas que um doente bem informado é um doente bem tratado. Há de fato uma melhor adesão ao tratamento e uma maior aceitação às recomendações feitas na consulta" BARCELOS, A.2014; Painetwork pág.13.
As ações independentes dirigem-se para a importância da vigilância do estado de saúde, incentivo aos estilos de vida saudável, como a alimentação, hidratação, exercício adequado, repouso e descanso, assim como riscos específicos do aparelho locomotor ligados à doença reumática tendo em atenção posturas, gestão de energia, a proteção articular, calçado, ou outras ajudas. Os cuidados a ter com doenças concomitantes como hipertensão, diabetes, excesso ponderal, hipercolesterolémia, etilismo ou tabagismo, que influenciam não só a doença reumática mas a saúde em geral, também são alvo importante.
"A minimização da dor permite não só devolver a aptidão para a realização de tarefas rotineiras, mas também impedir o isolamento e até o desenvolvimento de co morbilidades como a depressão "BARCELOS,A.2014; Painetwork pág.10.
A atenção dirigida aos cuidados a ter com a terapêutica prescrita pelo médico, nomeadamente anti-inflamatórios, corticoides, DMARDS (agentes modificadores da doença), biológicos, anti osteoporóticos e polimedicação, são também motivo importante de ensino. O trabalho de toda a equipa é centrado e realizado com o doente. As ações interdependentes são partilhadas e cada uma das partes tem a sua responsabilidade e competência própria, sendo o objetivo único o melhor estado de saúde do doente.