Crise no Relacionamento: são as mulheres que mais procuram ajuda profissional
Dirigida a casais com dificuldades no seu relacionamento conjugal, a consulta de crise no relacionamento permite identificar problemas, conduzindo à sua resolução. “Este é um passo significativo para um casal, uma vez que admite que existe infelicidade e que precisa de ajuda exterior para ultrapassar esta dificuldade”, começa por explicar Tânia Silva, psiquiatra responsável pela Consulta de Crise no Relacionamento na Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra.
Esta consulta, tal como nos explica a especialista, é realizada com ambos os elementos do casal, “num espaço apropriado”, acompanhados por um terapeuta especializado em terapia familiar e sistémica.
“A terapia familiar consiste numa psicoterapia em que toda a família é envolvida no tratamento. Em vez de se concentrar no indivíduo e suas particularidades, os terapeutas familiares consideram que os problemas, em parte, podem ser influenciados pela forma como se relacionam com os seus familiares próximos”, justifica.
No que diz respeito à crise no relacionamento, esta terapia envolve um plano adaptado ao casal onde, ao longo de várias sessões, “são discutidas várias áreas do relacionamento” e são estabelecidos objetivos e planos de ação. No entanto, “uma parte importante do trabalho do casal é feita fora das sessões”, na medida em que o terapeuta, habitualmente, prescreve pequenas tarefas como “trabalho de casa”.
A queixas mais frequentes prendem-se com dificuldades de comunicação – discussões em que rapidamente há trocas desagradáveis de palavras ou argumentos -, falta de envolvimento na relação, “quando os dois vivem uma vida demasiado individual e não se sentem companheiros”, ou com questões relacionadas com a gestão financeira, sexualidade e relações extraconjugais.
“Frequentemente, os casais chegam-nos em situações de disfunção considerável, perto de uma situação de rutura”, adianta Tânia Silva que reforça a necessidade de se estar atento aos primeiros sinais de alerta. “Quando o casal sente que já não consegue comunicar eficazmente é um sinal de que beneficiam de terapia”, afirma.
A verdade é que, muitos dos conflitos existentes entre casais nascem de pequenas “diferenças e quezílias que se vão amplificando, tornando-se grandes problemas que se perpetuam e não são resolvidos”.
"Frequentemente os casais têm medos e angústias relacionadas com o sentimento de incapacidade", revela a psiquiatra Tânia Silva
Apesar de serem sobretudo as mulheres que mais procuram ajuda profissional, são cada vez mais os que estão sensibilizados para os benefícios destes “novos instrumentos psicoterapêuticos” e que investem no seu bem-estar.
Por outro lado, esta terapia pode ser ainda uma preciosa ajuda em caso de divórcio. “Por vezes os casamentos não resultam e o divórcio é a resolução possível, e o que parece ser uma sensação de alívio e libertação, poderá transformar-se numa situação stressante e perturbadora, envolvendo sentimentos de culpa, luto, raiva, insegurança, medo vergonha e ansiedade”, revela a psiquiatra.
Nestes casos, o objetivo do terapeuta passa por ajudar a construir uma perspetiva mais racional do processo de divórcio. “Em termos individuais, é importante reestruturar as expectativas individuais de uma relação futura”, explica.
Em relação ao casal em processo de divórcio, este é “auxiliado na dissolução do casamento de uma forma mais saudável e construtiva, funcionando o terapeuta como mediador, tentando-se alcançar o divórcio com o mínimo de hostilidade e impacto emocional”, esclarece a terapeuta reafirmando a importância desta intervenção sobretudo quando há filhos.
Seja qual for a situação, Tânia Silva deixa alguns conselhos para tempos de crise:
1. Dar e receber. “Numa perspetiva de procurar uma comunicação equilibrada e eficaz, uma regra importante a estabelecer no diálogo entre o casal é respeitar o espaço de cada um para argumentar a sua perspectiva do problema em discussão”.
2. Boa comunicação verbal leva à boa relação sexual. “Uma comunicação eficaz entre o casal, no momento e espaço apropriado, leva a uma relação íntima mais satisfatória.
3. Espaços neutros. “Os locais apropriados para uma discussão equilibrada sobre temas difíceis serão espaços “afetivamente neutros”. Por exemplo, optar por dialogar na sala e não na cama”.
4. Atenção plena. “Quando do casa está em diálogo será importante que ambos se mantenham atentos, fazendo contacto visual, evitando ter uma postura de desinteresse como olhar para a televisão ou telemóvel durante a discussão, ou interrompar o discurso do companheiro”.
5. Disponibilidade. “É necessário ouvir o ponto de vista do companheiro e estar disponível para aceder à sua opinião, e não ter medo de dar a sua própria opinião. A solução poderá estar na conjugação do ponto de vista de ambos”.