Crise aumentou internamentos nos hospitais públicos
A crise aumentou os internamentos nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Estes internamentos também passaram a ser mais curtos e subiram os casos de gravidezes com complicações. E o aumento do desemprego em Portugal também surge ligado a mais enfartes agudos do miocárdio, escreve a TSF na sua página digital.
As conclusões são de um estudo de três investigadores da Universidade Nova de Lisboa que analisou os quase 18 milhões de internamentos entre 2001 a 2012. Um dos autores admite que há alguns sinais preocupantes: os portugueses podem estar com menos capacidade para evitar situações de saúde mais graves.
O trabalho publicado na revista científica internacional "Health Policy" (Política de Saúde) tem por título "A Grande Recessão em Portugal: impacto na utilização dos cuidados hospitalares". Um dos resultados revela que, nos anos de recessão (2009, 2011 e 2012), os internamentos aumentaram muito mais do que era habitual até aí, sobretudo aqueles que tiveram origem nas urgências.
Julian Perelman, investigador da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa e um dos autores do estudo, fala num “salto” acima do normal nos internamentos devido à crise (mais 3,2% depois de 2009 e 3,1% depois de 2011). Tendência contrária, de descida, tiveram os tempos de internamento.
À TSF, Perelman sublinha que esta evolução é “estatisticamente significativa” e motivada pela crise, recordando que a análise inclui todos os internamentos no SNS durante uma década. Os resultados são aliás consistentes com outros que já se tinham alcançado em estudos sobre a Grécia e outros países em recessão.
Para além dos efeitos da crise sobre os internamentos nos hospitais do SNS, o trabalho mostra que cresceram as gravidezes com complicações nos anos de recessão e o aumento do desemprego surge associado a mais enfartes agudos do miocárdio (de novo, com crescimentos acima do que tinha acontecido noutros anos).
Os investigadores colocam duas hipóteses sobre o que motivou estas mudanças na procura de cuidados de saúde nos hospitais: a crise limitou a procura de cuidados de saúde privados levando mais doentes ao serviço público; e/ou a falta de dinheiro travou o acesso a consultas da especialidade, cuidados de ambulatório e cuidados de saúde primários.
O investigador da Universidade Nova de Lisboa sublinha que há um sinal de que a crise pode ter mesmo limitado os cuidados de saúde prévios antes da ida ao hospital com sintomas mais graves: o aumento dos internamentos aconteceu, em grande parte, através de doentes chegados pelas urgências.
Os efeitos da crise sobre a saúde dos portugueses têm sido alvo de polémica. Depois de críticas dos especialistas, em Junho de 2013 o ministro anunciou um estudo detalhado. Um ano depois, Paulo Macedo sublinhou que o trabalho estava a ser feito pela OCDE e pela Organização Mundial de Saúde. Um estudo que, segundo fonte do governo, continua a ser feito.
Escutado pela TSF, Luís Graça, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno Infantil, atribui o aumento das complicações na gravidez ao facto de as mulheres estarem cada vez mais a adiar a maternidade. Luís Graça acrescenta que são pontuais os casos em que as mulheres atribuem complicações na gravidez à falta de dinheiro para as consultas.