As crianças e as alergias
As doenças alérgicas respiratórias (rinite e asma) e o eczema atópico são as manifestações de alergia mais frequentes na criança. Segundo os dados disponíveis, estima-se que cerca de 5 a 20 por cento da população, com maior percentagem nas crianças e adolescentes, tenham asma, já a dermatite atópica afecta 10 a 20 por cento das pessoas durante a infância.
A sua origem ainda não está perfeitamente esclarecida mas sabe-se que existe um componente familiar importante, por isso o maior factor de risco para o desenvolvimento de alergias é a história familiar de doenças alérgicas. Quando uma criança tem um dos pais com alergias tem um risco de 20 a 40 por cento de vir a ter alguma doença alérgica. O risco sobre para 40 a 60 por cento se os dois pais forem alérgicos.
No entanto, o contacto precoce com os alergénios e certos factores ambientais como a exposição ao fumo do tabaco e a poluição atmosférica parecem desempenhar um papel importante.
Os alergénios são variados e as pessoas podem ser alérgicas a um ou a vários. Os mais frequentes são aqueles que estão presentes nos alimentos (proteínas do leite de vaca, amendoim, marisco); aqueles que circulam no ar e que são inalados quando respiramos (pólen das árvores ou gramíneas, pêlo e excrementos dos animais domésticos, ácaros do pó); certos medicamentos (como a penicilina); ou ainda as picadas de insectos que também são uma importante causa de reacções alérgicas.
Sintomas
Os sintomas são muito variados e dependem do órgão afectado e da gravidade da alergia. As crianças costumam apresentar alergias na pele a que se chama dermatite/eczema atópico ou alimentares. A dermatite/eczema atópico manifesta-se como zonas de pele muito seca, vermelha, com pequenas borbulhas, e que provocam imensa comichão.
As alergias alimentares podem surgir como vómitos, diarreia, aumento do tamanho da língua, lábios ou olhos, manchas vermelhas na pele, falta de ar e/ou chiadeira. Este tipo de alergia é muito frequente nas crianças mais jovens (bebés), assim que começam a ser alimentados com leite de vaca (ainda que parcialmente), podem reagir a ele. Também quando começam a comer fruta, pode manifestar-se uma alergia a maçãs ou bananas, e quanto mais variada se torna a alimentação da criança maior é a possibilidade de se desenvolver uma alergia. Algumas crianças ficam com urticária e comichão ("eczema infantil" ou "crostas de leite"), outras com diarreia e outras têm ainda problemas respiratórios. Ataques de choro ou birras repentinas, falta de apetite ou atitudes parecidas podem também estar relacionadas com alergias alimentares.
Na adolescência as alergias aparecem tipicamente na forma de rinite alérgica e asma. A rinite alérgica é muito comum nos adultos e manifesta-se por espirros, respiração ruidosa, comichão no nariz e nos olhos e congestão nasal. Por seu lado, a asma alérgica além de ser muito comum provoca um enorme desconforto e se não for convenientemente tratada pode impedir a pessoa de ter uma vida activa e saudável. Os doentes com asma alérgica habitualmente surgem com tosse, falta de ar, chiadeira e aperto torácico. Muitas crianças descrevem essa sensação de aperto como um abraço muito forte que não as deixa respirar.
Diagnóstico
O diagnóstico das doenças alérgicas começa pela recolha cuidadosa da história com a descrição dos sintomas e tentativa de estabelecer uma relação entre a exposição a determinadas substâncias e o aparecimento desses sintomas. Os relatos da criança e dos pais são, por isso, essenciais.
É também necessária a observação da parte do corpo à qual se referem as queixas e para isso são necessários alguns exames auxiliares de diagnóstico. Existem essencialmente dois tipos de teste, o PRICK teste e o RAST. No primeiro uma gota de solução contendo cada alergénio é colocada na pele, depois pica-se a pele com uma pequena agulha e marca-se a posição de cada alergénio com uma caneta. Se houver reacção forma-se uma pápula que é medida para comparar com o controlo. O RAST consiste na medição no sangue da IgE específica para determinados alergénios.
No caso de alergia alimentar é necessário realizar testes de provocação especiais com o alimento suspeito de provocar a reacção alérgica. Este teste só deve ser feito com vigilância médica.
Tratamento
O melhor método de tratar as alergias é evitar o alergénio. Se a pessoa não entrar em contacto com o alergénio não vai ter qualquer manifestação da sua alergia e terá uma vida normal. Contudo, sabemos que, na prática, as coisas podem não ser tão fáceis, pois os alergénios estão presentes em todo o lado e muitas vezes pode ser difícil evitá-los.
Apesar de as alergias provocarem um grande desconforto e gastos em saúde, com o correcto tratamento, as pessoas afectadas podem ter uma vida activa e perfeitamente saudável. Para isso é necessário que juntamente com o médico assistente aprendam a lidar com os sintomas e, principalmente, que aprendam a identificar os alergénios de modo a poder evitá-los sempre que possível.
Em primeiro lugar é necessário determinar qual a substância responsável pela alergia, o que pode ser feito com a ajuda de um médico. Se a evicção do alergénio não for possível existem medicamentos - os anti-histamínicos, corticosteróides (inibem a inflamação), descongestionantes nasais, hidratantes para a pele entre outros - que, não curando a doença, podem controlar os sintomas.
Estratégias simples para prevenir as alergias infantis
Evitar os alergénios do ambiente interior. Os ácaros do pó doméstico representam a principal causa de alergia na população portuguesa. As medidas aconselhadas para evitar a exposição estes alergénios são:
- Manter um arejamento e ventilação adequadas;
- Evitar alcatifas e carpetes (substituir por pavimento de linóleo, mosaico ou madeira envernizada);
- Utilizar colchões recentes;
- Colocar coberturas anti-ácaros nos colchões e almofadas;
- Utilizar lençóis de algodão, almofadas e edredão sintéticos;
- Lavar a roupa da cama e as cobertas plásticas com água a 60ºC;
- Remover do quarto peluches ou objectos que acumulem pó (por exemplo, livros);
- Usar aspirador com filtro de alta eficiência (HEPA);
- Controlar a humidade relativa em valor inferior a 50 por cento (os desumidificadores podem ser úteis);
- Nos doentes alérgicos a animais domésticos (gato, cão, coelho, hamster, entre outros), pode ser necessário remover estes animais da habitação, não devendo estes frequentar os quartos de dormir e deve aumentar-se a ventilação da casa.
Evitar os alergénios do ambiente exterior
Os pólenes são os alergénios mais importantes do ambiente exterior. Eis algumas medidas úteis:
- Conhecer o boletim polínico da região;
- Planear viagens de fim-de-semana ou férias elegendo alturas do ano e locais livres do (s) pólen (es) aos quais a criança é alérgica;
- Evitar o campo em fases de grande concentração de pólenes;
- Manter fechadas as janelas de casa, durante o dia;
- Usar óculos escuros;
- Viajar com as janelas fechadas.
Evitar o fumo do tabaco
O fumo do tabaco aumenta o risco do aparecimento de asma e outras doenças alérgicas, e nas crianças com asma é um conhecido factor desencadeante das crises, associando-se a maior gravidade da doença, com aumento do risco de crises graves com internamento hospitalar e mortalidade.
Os pais das crianças asmáticas deverão ter consciência de que se fumam ou deixam que outros fumem perto dos seus filhos (em casa ou no carro) estão a prejudicar gravemente a saúde dos seus filhos, aumentando de forma significativa o risco de uma crise e a gravidade da doença.
É preciso não esquecer que a criança pequena não pode manifestar verbalmente o seu mal-estar e que a tosse é habitualmente a sua única forma de expressão.